Jardim da Cerca da Graça quase concluído abre mesmo esta Primavera

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Samuel Alemão

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AMBIENTE

São Vicente

4 Março, 2015

Os problemas e os atrasos deles resultantes foram mais que muitos, mas tudo leva a crer que, desta vez, será mesmo a sério. As obras de construção do Jardim da Cerca da Graça estão na fase de conclusão e deverão permitir, por fim, a inauguração nesta Primavera do novo espaço verde situado no coração de Lisboa. Uma boa notícia para os lisboetas, chegada na melhor altura para o desfrute do ar livre, e que promete deixar para trás um muito atribulado processo – em que se foi assistindo ao sucessivo adiamento da finalização de uma obra cuja inauguração chegou a estar prevista para 2009, mas cujos trabalhos apenas começaram há dois anos.

Apesar de não poder adiantar uma data, fonte do gabinete do vereador José Sá Fernandes, responsável pelo pelouro da Estrutura Verde, garantiu ao Corvo que o tão aguardado parque urbano de 1,7 hectares, que assegurará a ligação entre a Graça e a Baixa, através da Mouraria, “será, certamente, aberto ao público durante o segundo trimestre de 2015”. “Neste momento, os trabalhos estão na fase de conclusão, com a plantação das espécies vegetais, a que se seguirá um período de consolidação das mesmas, pelo que já não falta muito”, admitiu a mesma fonte, fazendo notar que, antes, haviam já sido dados por concluídos os demais trabalhos, em particular o do Parque Hortícola.

As obras que entram agora no que parece ser a recta final haviam sido retomadas em Setembro de 2014, após um interregno de quase um ano. Depois de vários atrasos, o grande espaço verde – que fora já um desejo preconizado por Sá Fernandes, quando concorreu à Câmara Municipal de Lisboa (CML) pelo Bloco de Esquerda, em 2005 – viu os trabalhos arrancarem em Janeiro de 2013. E logo nesse momento causou polémica, porque a operação de limpeza dos terrenos levou ao corte de algumas árvores no terreno imediatamente abaixo do Convento da Graça. Ainda assim, os trabalhos continuaram e a inauguração foi agendada para Setembro desse ano, pouco antes das últimas eleições autárquicas.

A promessa eleitoral, todavia, não foi cumprida. E depois do deslizar do prazo de conclusão do projecto, José Sá Fernandes dizia ao Corvo, em 8 de Janeiro de 2014, que a mesma deveria ser então apontada a Abril desse ano. A motivar a delonga, garantia o autarca, estaria a descoberta de vestígios de cerca de meia centena de corpos “de data e origem ainda por apurar”. “Foram encontradas ossadas de mais de cinquenta cadáveres, que se suspeita possam ser ou do terramoto de 1755 ou de algum surto de peste. Isso ainda está por apurar”, dizia naquele momento o vereador, que se queixava igualmente das más condições meteorológicas, que teriam levado ao empapamento dos terrenos e à consequente interrupção das obras durante semanas.


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O tempo passou e, mais uma vez, os prazos deslizaram. Na Primavera do ano passado, não havia vislumbre de trabalhos a decorrer no local, tendo mesmo as máquinas e outros equipamentos da empresa a quem foi adjudicada a obra, a Fitonovo, sido retiradas. Naquela altura, estavam já concluídos o Parque Hortícola, bem como as escadas, os muros e os lancis em betão e encontrava-se instalado um quiosque, junto à entrada pela Calçada do Monte do futuro parque. Os reais motivos dos atrasos não eram dados pela CML e, ao Corvo, algumas fontes ligadas à arqueologia contestavam mesmo a justificação dada, meses antes, por Sá Fernandes. “A arqueologia paga sempre as favas e serve de justificação para os atrasos”, comentaram alguns.

Os trabalhos foram, de facto, retomados no final do Verão passado, um ano depois das últimas eleições autárquicas. E têm, desde então, decorrido a um ritmo regular, embora condicionados pelas chuvas que se fizeram sentir no Outono. Apesar de ainda estar por inaugurar, o parque urbano tem já, desde meados do ano passado, grandes superficies de parede grafitadas.

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O novo Jardim da Cerca da Graça, orçado em 874 mil euros, deverá ter, de acordo com o projecto, 178 árvores de fruto – entre as quais estarão pereiras, amendoeiras, medronheiros ou ciprestes -, um relvado central, com três miradouros, um parque infantil, um parque de merendas, um pomar e ainda um quiosque com esplanada. O projecto do novo espaço verde, que terá uma vista privilegiada sobre a cidade e o Tejo, começou a ganhar forma depois do protocolo assinado, em 2011, entre a CML e o Ministério da Defesa para a cedência àquela dos terrenos pertencentes ao Convento da Graça.

Para além da contestação à forma como se procedeu ao começo dos trabalhos, com o arranque de árvores a ser justificado pela autarquia por “motivos fitosanitários”, as obras ficaram ainda marcadas pela polémica destruição, em 2013, do espaço comunitário Horta do Monte, então existente num baldio ao cimo da Calçada do Monte – a mobilização contra tal acção levou à realização de acções de protesto e a confrontos entre activistas e a Polícia Municipal. No seu lugar, nasceu um espaço semelhante gerido pelos serviços da autarquia.

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