Festival de artes a favor da construção de um jardim entre Arroios e Penha de França
Menos carros, mais espaços verdes no coração da cidade. Será uma festa da cultura aberta à comunidade para que todos percebam a grande importância da construção do Jardim do Caracol da Penha, num terreno baldio localizado entre as freguesias de Arroios e da Penha de França. O festival “Ao Caracol! – Roteiro Cultural por um Jardim” vai mobilizar vizinhos e artistas, durante a tarde e a noite (entre as 15h e as 23h) do próximo sábado (29 de outubro), com uma programação variada, centrada no Bairro das Colónias. O festival, que contará com cerca de duas dezenas de espectáculos a realizar nas ruas e nas varandas do bairro, serve como forma de mobilização para a votação da proposta de criação do espaço verde, identificada com o número 180, no Orçamento Participativo (OP) de Lisboa 2016-2017 – a decorrer até 20 de novembro.
Sobre o terreno em causa, com uma área de quase 10 mil metros quadrados, impende um projecto de construção de um parque de estacionamento com capacidade para a 86 automóveis, a explorar pela Empresa Municipal de Mobilidade e Estacionamento de Lisboa (EMEL). O mesmo prevê a criação de algumas áreas verdes e de lazer entre as zonas de parqueamento a construir, aproveitando algum do arvoredo hoje lá existente. “A Câmara de Lisboa decidiu, sem consultar a população, que deveria ali construir um parqueamento, com o argumento de que é uma exigência das pessoas. Com este festival, pretendemos demonstrar à câmara, de forma maciça e diversa, que as pessoas de Arroios e Penha de França preferem o jardim e não o estacionamento”, diz ao Corvo Miguel Pinto, um dos responsáveis pelo colectivo de cidadãos mobilizados para a causa.
Música, teatro, poesia, dança swing, cinema, canto lírico, visitas guiadas, tango e yoga fazem parte de um programa apostado em sensibilizar os residentes e todos os outros para a escolha de um projecto que muitos consideram vital para a qualidade de vida naquela zona central da capital. Os membros do movimento local, que começou a sua luta no início do passado verão, tendo entregue uma petição à Assembleia Municipal de Lisboa com 2.600 assinaturas em papel em setembro, justificam o seu empenho no facto de as duas freguesias com cerca de 60.000 habitantes, estão entre as cinco freguesias de Lisboa com menos espaços verdes. De acordo com os dados disponíveis, tal corresponderá a menos de um metro quadrado por habitante. O facto de, explicam, “este ser o único lugar não urbanizado desta zona da cidade”, faz desta a “última oportunidade de responder à forte carência de espaços verdes”.
Um dos pontos altos da celebração-manifestação de sábado será o “Teatro das varandas” (16h30-17h), através do qual as varandas do prédio com o número 34 da Rua Cidade de Cardiff se converterá num palco vertical. Logo às 15h, haverá lugar ao recital de piano “Hinos Marianos”, num local surpresa, a divulgar no próprio momento, quando as pessoas chegaram aos dois pontos de acolhimento, na Praça das Novas Nações e no Largo da Penha de França. À mesma hora, tem início, na Rua de Angola, junto à estação de metro dos Anjos, a visita guiada “Dois bairros, um futuro”, que pretende dar a conhecer um pouco melhor o Bairro das Colónias e o Bairro de Inglaterra, que formam uma unidade territorial coesa. Muitos dos artistas do roteiro cultural são residentes na zona. “No verão, à medida que recolhíamos assinaturas, percebemos que há muita coisa a acontecer no bairro, muitos artistas vivem e trabalham aqui”, diz Miguel Pinto.