António Costa quer mais cafés no Largo do Intendente
O presidente da Câmara Municipal de Lisboa, António Costa, quer ver o Largo do Intendente com “mais cafés”, para que assim se possa garantir a continuidade do processo de reabilitação urbana em curso naquela zona, iniciado há pouco mais de três anos. “Neste momento, temos dois cafés no Intendente, mas temos que ter mais, para garantir que há ali vida e gente a circular”, disse Costa, durante a reunião descentralizada do executivo municipal, realizada na quarta-feira à noite, no Centro Social da Paróquia de São Sebastião da Pedreira, e destinada a auscultar os munícipes das novas freguesias das Avenidas Novas e Arroios. O autarca fez mesmo comparações com o Bairro Alto.
Costa tentava com estas afirmações apaziguar as preocupações de alguns moradores daquela área que se queixam do excessivo ruído nocturno resultante do funcionamento dos bares e, sobretudo, das muito frequentes actividades culturais ocorridas no largo, com ênfase nos concertos. Uma residente foi muito enfática no quão “insuportável” considerava ser a actual situação, relatando casos dramáticos de pessoas “que têm de arrastar os colchões para outras divisões da casa e dormir na dispensa, por não conseguirem aguentar o barulho”. “São decibéis a mais, aquilo parece um terramoto. Já há pessoas com problemas neurológicos e sintomas de depressão”, queixou-se a moradora.
Estas queixas foram rebatidas, logo de seguida, por Marta Silva, directora da Largo Residências, vice-presidente da associação cultural Sou e uma principais agentes da intervenção social e cultural no Intendente. Referindo-se aos concertos do Festival Bairro Intendente em Festa, que se desenrola entre 4 e 27 de Julho, Marta apelou à compreensão para a excepcionalidade de uma situação “que se verifica em oito dias em 365 de um ano”. Mais importante, frisou, será atentar aos resultados positivos já conseguidos desde que se iniciou o processo de renovação de uma área antes profundamente deprimida. A dinamizadora quer ver a acção regeneradora continuar e, por isso, solicitou a António Costa a criação de “um processo experimental” de ocupação com projectos artísticos, culturais e sociais dos “muitos espaços vazios existentes na freguesia”.
Costa anotou, mas não deixou de tentar, de alguma forma, tranquilizar a desconsolada e irritada moradora. “Esta é uma preocupação que tenho, a da compatibilidade dos diferentes usos na cidade. É claro que as pessoas têm direito ao seu sossego, isso tem de ser preservado”, disse, sem esconder que a convivência de diferentes realidades é conflituosa. Referindo-se ao Intendente, disse que “o processo de transformação tem que progredir” e fez mesmo um paralelismo com a passagem do Bairro Alto de área de prostituição a núcleo de diversão nocturna. “Vivi no Bairro Alto durante 17 anos e assisti às sua transformações. Hoje já ninguém se lembra de como era aquela zona nos anos 60 e 70. Desejavelmente, no Intendente também será assim. O género de clientes também vai mudar”, afirmou.