Transformação do Hospital do Desterro em pólo cultural parada há quase quatro anos
Quando o protocolo foi assinado entre a Câmara Municipal de Lisboa (CML), a empresa de gestão do património imobiliário público Estamo e a promotora Mainside, em 27 de maio de 2013, prometia-se a criação, até ao final desse ano, de um “território experimental aberto ao mundo” no lugar do antigo Hospital do Desterro, desactivado em 2006. Passados quase quatro anos sobre o acto formal, persiste a dúvida sobre quando entrará realmente em actividade o projecto urbanístico que prevê a criação de um pólo cultural e artístico aliado à exploração das vertentes de hotelaria, restauração, saúde e comércio. Os protelamentos têm sido uma constante na concretização do que foi então apregoado pela CML como “projeto estratégico para Lisboa, tendo em conta a sua localização no eixo de intervenção prioritário Martim Moniz – Praça do Chile” e “âncora fundamental para a regeneração e revitalização de toda a área”.
Os engulhos burocráticos associados à elaboração do projecto e a falta de coordenação entre as três entidades que firmaram o acordo começaram, todavia, a fazer-se sentir desde cedo. E já há três anos era evidente o deslizar de prazos, quando se não se cumpriu a meta inicialmente definida. Entretanto, em Outubro de 2014, passado quase um ano da data de inauguração prevista, eram tornadas públicas as objecções colocadas pela Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC) às primeiras intervenções feitas no edifício. As mesmas terão causado o desagrado dos serviços da tutela, incomodados por verem levadas por diante algumas obras que entendia como descaracterizadoras do espaço, colocando em perigo património classificado. Tal fez com que, na altura, a Estamo tivesse de “analisar as alterações de fundo ao projecto de reabilitação do antigo Hospital do Desterro”.
Passados seis meses, em março de 2015, a Estamo, questionada por O Corvo, garantia que “o espaço deverá entrar em funcionamento no primeiro trimestre de 2016”. O programa da intervenção fora substancialmente modificado, motivando a entrega de novo processo de licenciamento junto da câmara municipal. Já a promotora Mainside – a mesma responsável pela criação de espaços tão icónicos em Lisboa como a LX Factory ou a Pensão Amor – mostrava-se reticente, nesse momento, em avançar com uma data de abertura. Na altura, os responsáveis da empresa prometiam, todavia, adaptar-se às exigências da DGPC e “elaborar alguns reajustes” no projecto que havia sido apresentado como “um território experimental aberto a Lisboa e ao mundo, onde será possível habitar e trabalhar numa cela, cultivar uma horta urbana, frequentar um clube, almoçar num refeitório ou assistir a uma aula, entre muitas outras experiências desenvolvidas por várias empresas e organizações”.
Agora, decorrido todo este tempo, verifica-se que os planos não passaram disso mesmo. Nada de visível aconteceu, o tal “projecto estratégico” permanece no campo das intenções. Questionada, mais uma vez, pelo Corvo, a Estamo, a dona do antigo mosteiro e hospital, responde que “o projecto em causa teve reformulações, que passaram pela ampliação da área de intervenção, seguindo subsequentemente a normal tramitação de aprovação de projetos de idêntica natureza”. E acrescenta que, “concluída tal fase, houve que selecionar o empreiteiro, encontrando-se a empreitada, com um prazo previsível de seis/sete meses, em fase final de adjudicação”. Ainda assim, a empresa de gestão imobiliária do Estado não adiantou uma data para a abertura ao público do empreendimento cultural, comercial e habitacional.
Já a Mainside, que espera há quase quatro anos para pôr em prática as suas ideias para o espaço, admite dificuldades. Ao contrário da Estamo, uma fonte da promotora garanta que o “projecto mantém-se em termos de conceito e intenções”. No entanto, frisa a existência de “alguns atrasos devido a questões burocráticas, nomeadamente no que respeita a questões de licenciamento e respostas por parte das entidades envolvidas”. A mesma fonte da empresa imobiliária diz que, “em projectos desta dimensão e natureza, os processos são sempre complexos e podem demorar mais tempo do que o inicialmente previsto ou expectável”. O que a leva a concluir: “Enquanto estas questões não forem ultrapassadas, não estamos em condições de indicar previsão de data de abertura”.