Massificação turística de Lisboa vai ser debatida em conferência internacional
Que consequências pode ter para Lisboa a revolução turística em curso, nos últimos anos? A questão tem feito correr muita tinta e sido acompanhada por discussão apaixonada, à qual é difícil escapar. Quase toda a gente tem opinião sobre um assunto que, pela dimensão, rapidez e profundidade dos seus efeitos, se tem revelado no maior agente de mudança da capital portuguesa. Tanto que será, pela primeira vez, tema de uma conferência internacional de âmbito universitário, a realizar a 17 e 18 de abril, no Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE). “Lisboa, que futuro?” terá entrada livre, mediante inscrição prévia, e já está a superar as expectativas iniciais dos organizadores, o DINÂMIA’CET-IUL – Centro de Estudos sobre a Mudança Socioeconómica e o Território do ISCTE.
Durante os dois dias de discussão abertos à comunidade, será analisado o conjunto de alterações pelo qual a maior cidade portuguesa tem passado, em consequência do disparar da actividade turística, nos anos mais recentes. Decorrerão ainda comparações com o que está a acontecer no Porto, mas sobretudo noutras cidades a nível internacional que viveram, ou estão a viver, fenómenos semelhantes ao de Lisboa. Serão analisados os casos de Barcelona, Nova Iorque, Vancouver, Paris ou Milão. “Há outras cidades que passaram por processos semelhantes com aquilo que está a suceder em Lisboa, embora com as suas particularidades”, diz a O Corvo Sandra Marques Pereira, investigadora do DINÂMIA’CET-IUL e organizadora da conferência. A ideia, explica, é “lançar um debate informado, equilibrando, não polarizado e aberto à sociedade”.
Algo que acontece quando as mudanças em Lisboa “estão numa fase inicial e estão para durar”, considera. “É absolutamente urgente fazer um debate nesta altura, em que estamos a atravessar um processo alterações profundas, que é muito recente e muitíssimo rápido, e tentar aprender com outras cidades”, afirma a professora universitária. Pegando na expressão tanta vezes usada quando se discute este tema, a gentrificação – a apropriação por classes favorecidas de centros urbanos antes decadentes e ocupados por classes desfavorecidas -, a conferência inaugural (17 de abril, 18h15), a cargo de Sharon Zukin (City University of New York), fará um retrato do que se passou na principal metrópole norte-americana. “A Field Guide to Gentrification: Reflections from New York” é o nome da palestra, que decorrerá logo a seguir à abertura oficial dos trabalhos.
O segundo dia começa (9h30) com um conjunto de comunicações feitas por investigadores da entidade organizadora, sob o mote “Lisboa: Ressurgimentos, Revitalizações, Gentrificações?”: “Lisboom: a cidade ‘renascida’ em contexto de globalização”, de Sandra Marques Pereira; “A minha gentrificação é melhor do que a tua: o(s) direito(s) à cidade numa Lisboa em massificação”, de Pedro Costa, e “Transformação e intervenção nos bairros históricos: da Mouraria ao Príncipe Real”, Madalena Matos e Maria Assunção Gato. Logo de seguida, e ainda de manhã (11h), haverá lugar a uma mesa redonda com representantes dos pequenos comerciantes, do Turismo de Lisboa, do Movimento Quem Vai Poder Morar em Lisboa e ainda com o arquitecto José Mateus. Na parte da tarde, o painel Cidades Da Europa Do Sul: Mudanças E Aprendizagens dará conta das experiências vividas em Barcelona, Milão, Porto e Paris.
Sandra Marques Pereira deseja que o debate sobre este tema, tão importante para a vida da comunidade, não fique centrado no mundo académico. O objectivo é que a discussão sobre as profundas transformações causadas pelo turismo tenha utilidade para Lisboa, permitindo assim “minimizar os aspectos negativos”. “Desejamos uma reflexão aberta à sociedade, mas também que a conferência funcione como pontapé de saída para uma linha de investigação mais sistemática destas transformações”, explica. “As mudanças relacionadas com o fenómeno turístico têm sido muito rápidas e diferentes de bairro para bairro, e os dados que existem sobre o fenómeno são muito anacrónicos. Há muito trabalho a fazer neste campo, um longo caminho a percorrer”.