Amândio Madaleno, candidato do PTP, quer fim de “negócios entre CML e empreiteiros”

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REPORTAGEM
Margarita Cardoso de Meneses

Texto & Fotografia

URBANISMO

Cidade de Lisboa

28 Setembro, 2017

Eles também são candidatos.

Autocarros para levar os turistas estrangeiros de borla à Feira do Relógio e a integração da EMEL na Carris são duas das propostas do candidato do Partido Trabalhista Português (PTP) à presidência da Câmara Municipal de Lisboa. No seu escritório de advogado, na Avenida Almirante Reis, Amândio Madaleno intercala afazeres profissionais com o delinear da estratégia eleitoral. O Corvo foi até lá, para o auscultar sobre as ideias que tem para a capital. Para o líder do PTP, o actual chefe de executivo camarário, Fernando Medina, não sabe tratar da transportadora rodoviária da capital nem dos pobres. Os que vivem em bairros sociais mereciam mais atenção, defende. Mas não esquece o que considera ser o “negócio de corrupção” que afirma existir na relação entre câmara e empreiteiros.

Não há placas nem cartazes, não há logotipos nem qualquer parafernália partidária. No intercomunicador da morada indicada (com um número a mais) na página do facebook, lê-se apenas: “A. Madaleno – Advogado”.

Nada indica que seja ali a sede do Partido Trabalhista Português (PTP), mas o nome também não é coincidência. Nesse discreto escritório da Avenida Almirante Reis, encontramos Amândio Madaleno, o candidato à presidência da Câmara de Lisboa pelo PTP, que ora recebe um cliente, ora afina os pormenores da campanha com uma dupla de membros do partido que aparece com “os posters dos golfinhos”.

Natural do Fundão, Madaleno é um homem de discurso direto, olhos vivos e sorriso fácil – exceto quando fala dos problemas de Lisboa, da gestão dos bairros sociais pela Gebalis e o IHRU (Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana) e do atual presidente da câmara, Fernando Medina.



O inicialmente planeado era acompanhar o PTP numa ação de rua, mas a falta de resposta atempada impediu O Corvo de ir com a comitiva do partido à Feira do Relógio, no passado fim-de-semana. Não tendo esta força partidária “mais nada previsto, para já”, como foi comunicado, optou-se por uma conversa com o candidato, a fim de conhecer as suas propostas para a capital.

Iniciada a conversa, as ideias e as soluções de Amândio Madaleno para a cidade não se fazem esperar. A começar pela Feira do Relógio e o que ele ali constatou, aquando da acção de campanha. “Os pobres e as pessoas dos bairros sociais pegam nos autocarros e dirigem-se lá para ir comprar, porque é mais barato”, considera. “E uma das questões que ali me foi colocada foi, precisamente, o que faríamos para revitalizar a Feira do Relógio?”, revela.

Que os candidatos adoram feiras e mercados é certo e sabido. Que, depois, aproveitam os casos reais e as questões colocadas pelos comerciantes para apresentar as suas ideias mais arrojadas também é o normal. Porém, a solução deste candidato é surpreendente. “Se eu fosse presidente da câmara”, diz, “contratava três ou quatro autocarros e oferecia deslocação aos turistas, de graça, para a Feira do Relógio, para verem o que é a realidade portuguesa”. Também diria aos “senhores turistas” que, “quando estivessem prontos, voltassem aos autocarros que os levavam de volta para o Rossio”.

Pelos trabalhadores e os mais desfavorecidos

Apesar de problemas anteriores com o Sindicato Nacional dos Motoristas e dentro do próprio partido, após o PTP Madeira ter questionado a legitimidade de Madaleno como presidente, em 2012, este mantém-se na liderança até hoje. E se há assunto lhe é caro é a situação dos trabalhadores da Carris e dos moradores dos bairros sociais. “O Presidente da câmara passa o tempo a tratar do turismo, mas é só do Saldanha até ao Chiado”, afirma. “E agora também quer ser administrador da Carris. Péssima ideia!”, considera.

Para Madaleno, a dignidade das pessoas tem que ser salvaguardada, porque o que está em causa “são as preocupações do doutor António Costa: o que ele quer é que não haja greves, nem no Metro nem na Carris. Ponto final”. “E, para que não haja greves durante as eleições legislativas, já está a prevenir”, especula.

A sua solução passa por manter a autonomia da Carris a todo o custo. Mas “se a EMEL serve para comprar frota da Carris, integra-se a EMEL na Carris”, advoga. Em qualquer caso, diz Madaleno, “não deixem o presidente da Câmara tratar da Carris. Ele pode ser muitas coisas, mas uma coisa que não sabe é tratar dos pobres e a outra é tratar da Carris”.

Quanto aos bairros sociais, não entende como uma pessoa pode estar “há 40 anos a pagar uma casa social sem ter direito a nada. Pagam à GEBALIS, pagam ao IHRU (Instituto de Habitação e Reabilitação Urbana), pagam rendas de 400€ e 500€ por mês, pagam as obras, e estão lá há 40 anos… porque é que a casa depois não é deles?”.

Para Madaleno, os recibos das rendas também são um problema “escandaloso”, e lança perguntas que quer ver respondidas de imediato: “O que é feito do dinheiro das rendas? Onde está a prova? As pessoas têm um recibo do IHRU a dizer que é apenas uma ‘venda de produto’. Chegamos a este ridículo!”.

As acusações de insensibilidade a Assunção Cristas, a Vítor Reis (presidente do IHRU), à Gebalis e a Fernando Medina não faltam. Para resolver a questão da habitação social, o PTP “arranjava apoios europeus” e livrava o Estado desse encargo. A seguir, explica, a “primeira coisa que fazia era demitir o Dr. Vítor Reis; segunda coisa era uma sindicância ao funcionamento da Gebalis e do IHRU, para saber o que se passa ali. De certeza que ia descobrir muito. E quem tivesse ficado com dinheiro tinha de responder!”.

Outra questão que não lhe passa ao lado é “o negócio entre a câmara e os empreiteiros”. “Um negócio de corrupção” que lhe parece “de investigação criminal”, assegura. Perante a pergunta de como acabaria com a corrupção dentro da Câmara, a resposta sai direta e incisiva: “Mas eu não conheço ninguém corrupto! Senão, ia fazer queixa ao Ministério Público. Quem tem que tratar e dizer quem é corrupto não sou eu. Só tenho de exigir que os tribunais tratem do assunto, quando tenho indícios de corrupção.”

E conseguiria fazer tudo o que se propõe através da Câmara de Lisboa? “Não tenha dúvidas”, garante, apontando para o póster da campanha. “Olhe aqui, petições públicas que estão online. Já temos 10 mil assinaturas. Mas ainda são precisas mais 10 mil para tomar uma decisão. Se eu for um presidente da câmara independente, coerente e que resolvo o problema das pessoas, não preciso de mais ninguém.”

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