No início ou no fim de 2019? Metro e Câmara de Lisboa não se entendem sobre reabertura da estação de Arroios

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Sofia Cristino

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Arroios

14 Maio, 2018

Os utentes dos transportes públicos, bem como os comerciantes da zona da Praça do Chile, continuam sem saber quando estarão concluídas as obras de reabilitação da estação do metro de Arroios – que já levaram ao fecho de dez lojas. Isto porque o Metropolitano de Lisboa (ML) e a Câmara Municipal de Lisboa (CML) não se entendem quanto à data prevista de reabertura da estação. Contactado por O Corvo, no início deste mês, o Metropolitano de Lisboa dizia, em depoimento escrito, que as obras estariam terminadas no início do primeiro trimestre do próximo ano. Uns dias antes, a 26 de Abril, em reunião pública de vereação, o vereador da Mobilidade, Miguel Gaspar, garantia, contudo, que tinha apurado junto da administração da empresa de transportes que aquela infraestrutura já renovada apenas reabriria no segundo semestre de 2019.

“O Metro lançou um concurso público e ganhou um empreiteiro que teve algumas dificuldades financeiras e creio que isso atrasou o arranque da obra”, dizia Miguel Gaspar, referindo-se aos quatro meses de atraso no início dos trabalhos. Deixando perceber que tem mantido contacto regular com a empresa de transportes, o vereador informava ainda que, numa reunião entre o metro e os comerciantes, teria sido colocada a hipótese de alteração dos tapumes – que escondem as lojas – para outros “mais do agrado” dos lojistas. O metro estaria, agora, segundo o vereador, a aguardar a resposta dos comerciantes. “Se calhar, o facto de terem vindo cá hoje mostra que a conversa não está a correr tão bem como o desejável”, especulava Miguel Gaspar, referindo-se à intervenção de Carla Salsinha, proprietária de uma loja de noivas situada na Praça do Chile e ex-presidente da União da Associação de Comerciantes e Serviços (UACS), na reunião da câmara municipal.

Contactado novamente por O Corvo, o Metropolitano de Lisboa reitera a data de conclusão anunciada “desde sempre”: o primeiro trimestre do próximo ano. “No que diz respeito a prazos, relembramos que a reabertura da estação de Arroios será no início do primeiro trimestre de 2019”, dizia, novamente em depoimento escrito, a empresa de comunicação ao serviço do metropolitano, não se pronunciando sobre a declaração do vereador.


 

Já a 27 de Março, na Assembleia Municipal de Lisboa (AML), Miguel Gaspar havia admitido, todavia, que os trabalhos não deveriam estar concluídos na data inicialmente prevista. “Temos informação que a obra já está a correr, duvido que seja Janeiro de 2019, mas ainda não temos um planeamento final do Metro. Infelizmente, as obras do metro demoram sempre muito tempo, porque também ficam para uma vida”, dizia, garantindo que estava a acompanhar a situação.

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A representante dos comerciantes da Praça do Chile, Carla Salsinha, lembrava ainda na tal reunião de vereação que já tinha falado com o conselho de administração da transportadora pública. Mas dizia que este não se tem mostrado disponível para ajudar os lojistas. “Falar com o Metro é sui generis. Questionamos o presidente do conselho de administração do Metro, se podia reduzir os estaleiros ou aumentar a visibilidade para as lojas e ele disse-nos que, se não temos capacidade de venda e negociação, só temos de sair”, relatava. A resposta da empresa de transportes, citada por Carla Salsinha para conhecimento dos vereadores, foi interpretada de uma forma hostil. “O Metro não tem obrigação nenhuma de nos ajudar, até está a fazer um favor aos munícipes. Há tantas lojas para alugar na cidade”, ironizava.

 

Nessa mesma reunião pública de executivo, e quando confrontado pela comerciante sobre nada ter feito para ajudar os lojistas, o presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, descartou responsabilidades. “Esta é uma obra de uma empresa que é gerida pelo Estado, não pela câmara. Não posso mais do que partilhar o meu lamento quanto ao atraso. Queria que a obra já tivesse concluída há imenso tempo e espero que demore bem menos do que a obra vizinha no Areeiro”, dizia, mostrando-se ainda disponível para reunir com os comerciantes.

No mesmo momento, bem menos optimista, o vereador da Educação e Direitos Sociais, Ricardo Robles (BE), afirmava mesmo que as expectativas sobre o cumprimento do prazo de conclusão das obras “não devem ser muito altas”. “Não quer dizer que não o faça, mas a possibilidade de incumprimento pode existir, é melhor salvaguardarmos já o período que está previsto, mas também um eventual prolongamento, com uma reunião com a Junta de Freguesia de Arroios”, sugeria.

 

Para o eleito do PCP, João Ferreira, o município já devia ter intercedido junto do Metropolitano, uma vez que a 28 de Fevereiro foi aprovada uma moção na qual a CML se comprometia a pedir à administração da empresa que tornasse pública toda a informação sobre o decorrer das obras. Apesar de não o ter feito, João Ferreira diz que “ainda vai a tempo, pelo menos para tentar minorar o prejuízo evidente que estão a ter os empresários, os moradores e todos os utilizadores de transporte público naquela zona”.

 

João Pedro Costa, do PSD, dizia que “qualquer que seja o promotor de uma obra que afecta a vida dos comerciantes e moradores” deve informar sobre as datas de início e fim da mesma, e que, “se o Metropolitano não o fez, devia ter feito”. “Se esta câmara assiste passivamente a isto tudo, não deve assistir, deve convocar o Metro e dar conta da sua indignação”, defendia.

 

A estação de Arroios encerrou em 19 de Julho de 2017, tendo sido posto o primeiro tapume na Praça do Chile apenas em Setembro. “Demoraram dois meses a colocarem todos os restantes tapumes. Supomos, por isso, que só depois de Novembro é que as obras começaram. As cartas de vistoria dos prédios só chegaram às lojas no final de Setembro e, como em Novembro ainda estavam a ser feitas inspecções, acredito que as obras não tenham começado sem as vistorias obrigatórias”, reforçava Carla Salsinha, nessa última reunião de vereação.

 

Desde que as obras começaram, já encerrou uma dezenas de lojas e algumas das que resistem registam quebras de facturação na ordem dos 70 mil euros. Todos os comerciantes da Praça do Chile, Avenida Almirante Reis e Rua Morais Soares que se dizem afectados por esta empreitada estão, pelo menos, há 15 anos naquela freguesia. “Como é que não houve uma única carta dirigida aos empresários a comunicar o período de duração da obra?”, questionou Carla Salsinha. Não só não chegou a missiva, como ainda não há um entendimento quanto à verdadeira data de conclusão de uma das estações de metro mais movimentadas da cidade de Lisboa.

 

Contactado por O Corvo, na semana passada, para esclarecer esta contradição de datas, o gabinete do vereador da Mobilidade, Miguel Gaspar, não respondeu às questões colocadas, até ao momento da publicação deste artigo.

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