Linha Verde com seis carruagens e estação de Arroios fechada a partir de 19 de julho
Uma pequena revolução, que representará o fim de um longo suplício para os passageiros da Linha Verde, mas que trará consigo uma penalização temporária. A partir de 19 de julho, as composições da Linha Verde do Metropolitano de Lisboa passarão, finalmente, a circular com seis carruagens, igualando o que é usual no resto da rede. Duplicar-se-á assim o número de carruagens na ligação Cais do Sodré-Telheiras, que desde o início de 2012 funciona apenas com três. Dentro em breve, quem entrar em qualquer estação de metro saberá que as composições terão por regra seis carruagens. Tratar-se-á de algo inédito neste transporte público e torna-se possível devido ao encerramento, nesse mesmo dia e durante o prazo estimado de um ano e meio, da estação de Arroios para obras de ampliação do cais, que passará dos actuais 70 metros para 105. Quando reabrir, no início de 2019, e após um investimento de 7,5 milhões de euros, estará integralmente preparada para acolher as composições de tamanho padrão.
A novidade foi anunciada na manhã desta segunda-feira (8 de maio), pelo presidente da administração da empresa, Vítor Manuel Domingues dos Santos, durante a apresentação do Plano de Desenvolvimento Operacional da Rede do metro, na estação de São Sebastião. O momento foi dominado pela confirmação do avanço das obras de expansão, que permitirão a abertura, no final de 2021, de duas novas estações, Estrela e Santos, ambas parte da nova configuração da Linha Verde – a qual se assumirá como a nova linha central circular, com características de distribuição de passageiros a toda a rede. Na mesma cerimónia, João Pedro Matos Fernandes, ministro do Ambiente (com a tutela dos transportes públicos), salientou a importância da abertura da Linha Verde a composições com seis carruagens, a partir de 19 de julho, recordando as “vantagens obtidas” aquando do funcionamento nesses moldes – com consequente fecho temporário da estação de Arroios -, nos quatro dias da realização da conferência internacional Web Summit, em novembro de 2016.
Tal opção motivou, porém, fortes críticas dos utentes e, naquele momento, levou mesmo os vereadores do PCP na Câmara Municipal de Lisboa (CML) a apresentarem uma moção em que se contestava os argumentos que a haviam fundamentado – discutida no mesmo dia de uma outra do CDS-PP criticando a degradação das condições deste meio de transporte. O texto dos comunistas, que acabou por ser rejeitado com votos contra de sete vereadores socialistas e dois independentes, criticava explicitamente a persistência na utilização de composições com três carruagens – opção tomada pelo governo PSD/CDS-PP, no início de 2012, e fundamentada na altura com as directrizes da “troika” para racionalizar a exploração da empresa. Escolha que sempre fora criticada pelo PS, mas que se tem mantido até agora, passado já um ano e meio de actividade do executivo liderado pelo primeiro-ministro António Costa.
A moção do PCP dizia, então, que era “possível, no imediato, assegurar o aumento da oferta através da introdução das quatro carruagens, conforme já proposto por diversas vezes pelos utentes daquela linha, sem encerrar a estação de Arroios”. E pedia à CML que se pronunciasse “inequivocamente junto do Governo, Administração do Metropolitano e da população, no sentido de se opor ao encerramento da Estação do Metropolitano de Arroios, quaisquer que sejam os moldes ou termos, e a defender a reintrodução das quatro carruagens por composição, até à realização das necessárias obras de alargamento que permitam a introdução das seis carruagens”. Na sequência dessa moção, O Corvo perguntou naquela altura à administração do Metropolitano de Lisboa quais as razões para se manter a utilização de composições com três carruagens e não com quatro, como sucedia até 2012. A resposta chegava alguns dias depois.
Nessa nota escrita, enviada a O Corvo há seis meses, os responsáveis da empresa alegavam que “a utilização de composições de quatro carruagens exige uma utilização intensiva de carruagens motoras e um elevado subaproveitamento das carruagens não motoras”. E acrescentava: “Face às características presentes da rede do Metro de Lisboa, a utilização deste modelo de forma pontual numa única linha origina um desperdício de meios desproporcional ao aumento da capacidade que pode gerar”. Mais: “a utilização deste modelo de composições de quatro carruagens em toda a rede do Metro permitiria um aumento da capacidade numa única linha, em detrimento de todas as outras três linhas, o que reduziria muito a capacidade instalada, para além do inerente subaproveitamento excessivo das carruagens não motoras”. A administração do metro garantia que o modelo de três e seis carruagens tem permitido gerir de forma “mais eficaz e optimizada” os recursos disponíveis.
A passagem à exploração integral da rede com composições de seis carruagens, agora anunciada, não parece então colocar problemas de maior. Em virtude deste novo cenário, O Corvo questionou outra vez, na tarde desta segunda-feira (8 de maio), a direcção da empresa pública, para saber que desafios técnicos foram, entretanto, superados para garantir o normal funcionamento das ligações utilizando composições com o dobro das carruagens daquelas que têm circulado nos últimos cinco anos. Foi ainda perguntado se existe um plano de contingência para minimizar o impacto do encerramento, por um ano e meio, da estação de Arroios e quais os seus contornos. Até à publicação deste artigo, todavia, não foi recebida a resposta da administração do Metropolitano de Lisboa.