Por que é que o metro anda sempre só com três carruagens na Linha Verde?

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Samuel Alemão

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Cidade de Lisboa

15 Novembro, 2016


A pergunta impõe-se ante as notórias e crescentes dificuldades do Metropolitano de Lisboa em servir de forma satisfatória a procura por parte dos passageiros: há alguma razão pela qual as composições que servem a Linha Verde continuem a não ser formadas por quatro carruagens, mas apenas por três, fazendo assim com que as pessoas viajem quase sempre apertadas?

A situação verifica-se desde Fevereiro de 2012, tendo a redução sido uma decisão do anterior Governo, cujo então ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira, alegou na altura ser uma necessidade imperiosa face às diretrizes de poupança impostas pela “troika”. A medida foi muito criticada pelos partidos de esquerda que estavam na oposição, incluindo a liderança socialista da Câmara Municipal de Lisboa. A sua chegada à chefia do executivo fez muita gente pensar que a situação seria revertida. Um ano volvido, nada aconteceu.

O tema voltou a ser discutido, na última reunião do executivo camarário, na semana passada, quando o PCP e o CDS-PP apresentaram distintas moções sobre a acelerada degradação do serviço, registada sobretudo nos últimos meses – e especialmente sentida na linha que faz a ligação entre Telheiras e Cais do Sodré. Ambas os textos foram, no entanto, chumbados pela maioria PS na vereação. A moção dos comunistas foi aquela, todavia, que abordou de forma mais explícita a questão do número de carruagens a circular nas composições daquela linha.

Criticando a decisão da administração do metro de encerrar a estação de Arroios, a partir das 21 horas de dia 7 de novembro e das 16h de dia 8 – e devido à manifesta incapacidade em responder à demanda de quem se dirigia à Web Summit -, o texto do PCP manifestou estranheza face à “inusitada situação”. Isto porque, garante, “é possível, no imediato, assegurar o aumento da oferta através da introdução das quatro carruagens, conforme já proposto por diversas vezes pelos utentes daquela linha, sem encerrar a estação de Arroios”. Esta estação será fechada, a partir do verão de 2017 e por 18 meses, para ser sujeita a obras que lhe permitam vir a receber seis carruagens.

Mas, até lá, poderia receber quatro. Como acontecia até 2012. Por isso, a moção dos comunistas pedia que a CML se pronunciasse “inequivocamente junto do Governo, Administração do Metropolitano e da população, no sentido de se opor ao encerramento da Estação do Metropolitano de Arroios, quaisquer que sejam os moldes ou termos, e a defender a reintrodução das quatro carruagens por composição, até à realização das necessárias obras de alargamento que permitam a introdução das seis carruagens”. Este texto apenas recebeu os votos favoráveis dos dois vereadores comunistas, nove votos contra, de sete eleitos PS e dois independentes, e abstenções de PSD, CDS e um independente.

Ao Corvo, o vereador João Ferreira (PCP) diz que “não há nenhuma razão para o metro na Linha Verde estar a circular com três carruagens e não com quatro, como era normal”. “Do ponto de vista operacional, é claramente possível fazê-lo. Temos a perfeita noção de que a situação do material circulante não é a melhor, consequência do forte desinvestimento realizado nos últimos anos. Mas nada disto é desculpa para a actual situação na Linha Verde, não há razão nenhuma para que não se volte às quatro carruagens. Não acredito que o problema seja falta de material circulante. Se vão fazer obras na estação de Arroios para que esta possa receber seis carruagens, é bom que tenham esse material”, diz o eleito comunista.

João Ferreira critica as opções do anterior Governo (PSD-CDS) de “desinvestir de forma evidente nos transportes públicos”, mas não poupa a reparos a acção do actual executivo liderado pelo anterior presidente da Câmara de Lisboa, António Costa (PS), bem como a administração por ele nomeada. “Quando estavam na oposição fizeram fortes críticas ao estado em que estava o Metro e a Carris. Agora, temos um novo governo e uma nova administração nos Transportes de Lisboa e o que e que foi feito para resolver a situação de degradação do serviço com nos temos deparado?”, questiona o vereador, salientando a necessidade de serem feitos investimentos em material como em recursos humanos.

Também a moção apresentada pelo vereador do CDS-PP, João Gonçalves Pereira, critica “actual falta de condições que o Metro de Lisboa apresenta aos seus passageiros”, elencando os problemas detectados: menos pessoal operacional, estações ao abandono, escadas rolantes avariadas, atrasos inconcebíveis, menos postos de venda de bilhetes, ausência de bilhetes nas máquinas de venda automática. O que faz com que se assista, “todos os dias, a um espectáculo de plataformas apinhadas de gente e de mensagens diárias sobre avarias que condicionam a circulação dos comboios, prejudicando os lisboetas e a imagem da cidade junto de quem nos visita”.

Considerando que o actual serviço prestado pelo Metropolitano não corresponde aos “padrões mínimos aceitáveis”, o vereador insta o executivo liderado por Fernando Medina (PS) a solicitar “um relatório da situação actual do Metropolitano de Lisboa à Administração do Metropolitano de Lisboa ou ao Governo, do qual constem as limitações existentes ao nível de meios operacionais, material circulante, manutenção e prestação de serviços relacionados com o transporte de passageiros”.

E pede também que seja enviada “a previsão de resolução e normalização do serviço de Metropolitano no curto prazo, acompanhado da solução prevista para o médio e longo prazo”. O texto recebeu votos favoráveis, além do vereador centrista, do PSD e do PCP. Mas foi rejeitado pelos sete eleitos socialistas e pelos três independentes.

O Corvo questionou ontem, a meio da tarde, a administração do Metropolitano de Lisboa sobre a razão de as composições da Linha Verde continuarem a circular com três carruagens e não quatro – como acontecia até 2012. Até à publicação desta artigo, porém, não obteve resposta.

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