Entrevistámos alguns dos lisboetas que usam as bicicletas GIRA. Eles explicam as razões
Há cerca de um ano que as bicicletas partilhadas Gira, disponibilizadas pela Câmara Municipal de Lisboa (CML), apareceram como um complemento, ou mesmo um substituto, dos tradicionais metro, carro e autocarro para quem ambiciona uma locomoção mais ecológica, barata e saudável. De acordo com os dados mais recentes, avançados à agência Lusa pela Empresa de Mobilidade e Estacionamento de Lisboa (EMEL), gestora do serviço, são contabilizadas cerca de 4500 viagens diárias.
A cidade tem-se vindo a encher de ciclovias e conta com 140 pontos de recolha de bicicletas da Gira – num sistema cuja utilização se efetiva através de uma aplicação no telemóvel. Com ela, os utentes têm conseguido conciliar viagens de lazer com deslocações de rotina, pedalando pelas ruas da capital. O Corvo foi ao encontro de alguns deles e perguntou-lhes quais os benefícios do serviço e como o utilizam. Apesar da satisfação geral, alguns apontam lacunas.
Bernardo, 18 anos
“Ando todo os dias com as bicicletas GIRA, para ir ter com os meus amigos. Chego mais depressa aos locais, faço exercício, não tenho de apanhar transportes públicos e gasto menos dinheiro”. Bernardo está surpreendido porque Lisboa não seria, à partida, a cidade ideal para andar de bicicleta.
Até agora, sempre conseguiu requisitar as que são elétricas. “Assim, subo a Avenida da Liberdade ou a Avenida Fontes Pereira de Melo sem dificuldades, mas nem sempre é fácil perceber por onde tenho que pedalar”, até porque existem poucas ciclovias, explica. “Ando lado a lado com os carros e os condutores não reagem sempre bem”, como foi o caso, poucas horas atrás, quando foi abordado de uma forma brusca por um taxista.
Bernardo espera também que, em breve, surjam mais estações, por exemplo na Avenida da República, onde vive, para não ter de andar tanto até ao ponto GIRA mais próximo.
Antes de desbloquear a bicicleta, este utente verifica que os travões funcionam e que o banco não está solto. Diz ainda que tem recomendado aos amigos que têm bicicleta própria substituí-las pelas do sistema GIRA. “Não há preocupação com roubos, é fácil e prático e é só pegar no telemóvel”, resume.
Geralmente, pedala durante mais de 45 minutos, o limite de cada viagem. A solução é, então, pousar a bicicleta em qualquer estação e esperar cinco minutos antes de requisitar a próxima.
Miguel, 17 anos
Miguel tem 17 anos e, ultimamente, tem trocado os transportes públicos pelas bicicletas partilhadas GIRA para se movimentar em Lisboa, sozinho ou com amigos. Vê cada vez mais pessoas a andar de bicicleta e considera que Lisboa está a ficar adaptada a esse meio de transporte. Vive em Benfica e vai de transportes até Telheiras, onde entra no sistema das partilhadas.
Nem tudo é positivo, contudo. Miguel queixa-se de que “o Gira já é muito usado, mas ainda não existem bastantes bicicletas”, o que o leva, por vezes, a procurá-las durante algum tempo. “Quando é o caso, consulto a aplicação GIRA no telemóvel”, explica. O GPS indica as estações existentes e a disponibilidade de bicicletas.
Geralmente, pedala durante mais de 45 minutos, o limite de cada viagem. A solução é, então, pousar a bicicleta em qualquer estação e esperar cinco minutos antes de requisitar a próxima.
Sofia, 28 anos
Sofia aproveita quase todos os dias o serviço das bicicletas GIRA. O único fator decisivo na utilização é haver ou não disponibilidade nos cais em que passa. Nunca andou muito de transportes públicos e deixou de os usar definitivamente graças ao serviço GIRA.
Pedala nas Avenidas Novas, de casa para o trabalho e do trabalho para casa. Aos fins-de-semana, serve-se da bicicleta para passear. Nota, contudo, que ainda há trabalho a fazer para que o serviço seja completamente eficiente. “Faltam ciclovias e sensibilizar as pessoas e os condutores de automóveis” para que sejam, como diz, “menos agressivos ao encontro dos ciclistas”.
Greg Tarna, 20 anos
Greg Tarna descobriu o serviço GIRA há três dias. Depois de algumas dificuldades em instalar a aplicação, e da ajuda que obteve por parte dos operadores através da linha telefónica do sistema, comprou o passe mensal. “Vivo em Sintra, vou de comboio até Entrecampos, onde requisito uma bicicleta logo à saída da estação e fico a passear pelo centro da cidade, até à hora de ir trabalhar”, conta.
Antes, andava muito de skate e agora já nem sequer usa as duas bicicletas que tem em casa, por achar “incómodo levá-las nos transportes e ter de deixá-las à noite na rua enquanto trabalho”. Passeia por por toda a zona central de Lisboa. E mesmo que tenha de subir ruas, não se cansa muito por ter a ajuda do sistema elétrico.
Explica, entre risos, que, às vezes, vai pela estrada e, outras vezes, pelo passeio, devido à ausência de vias reservadas em certas zonas de Lisboa e à grande afluência de carros.
Filipa, 43 anos
Filipa Brito nunca teve por hábito andar de bicicleta. Usa principalmente o carro, poucos transportes públicos e, de vez em quando, compra o passe diário das bicicletas GIRA, “mais por piada do que por necessidade”.
Apesar desta forma de mobilidade ecológica ser cada vez mais uma realidade, reconhece que Lisboa ainda está “num processo de adaptação”. Aponta como uma vantagem o facto de quer o passe mensal quer o passe anual serem reservados a residentes – tendo os turistas a possibilidade de usar apenas o passe diário. Por essa razão, Filipa pensa que “o sistema foi concebido a pensar principalmente nos habitantes de Lisboa.”
Miguel, 37 anos
Miguel vive na Suíça, mas vem regularmente a Portugal. “Nunca tinha andado de bicicleta em Lisboa e é hoje a quinta vez que uso o sistema GIRA!”, exclama. Quando compara com outras cidade onde esteve, repara que o sistema GIRA, que disponibiliza tanto bicicletas convencionais como elétricas, é prático e muito bem concebido para uma cidade com colinas.
Tem poucas críticas a apontar, mas descrê na possibilidade de o sistema substituir os transportes públicos por completo, pois não cobre a cidade toda e não foi feito para longas distâncias. Na sua opinião, “o ideal é que sejam principalmente os condutores de automóveis a utilizar as bicicletas partilhadas”, para reduzir o trânsito e a poluição em Lisboa. Aliás, tem impressão de que os condutores de automóveis ainda não estão habituados à circulação de bicicletas e que as consideram como uma simples forma de passear, chegando mesmo “a meter pressão nos ciclistas para andarem mais rápido”. Aproveitando o facto de algumas bicicletas serem elétricas, diz ainda que “deviam existir estações também no Bairro Alto e em outras colinas”.
Madalena, 20 anos
Madalena nunca tinha andado de bicicleta em Lisboa antes de experimentar o sistema GIRA. Desde então, nunca mais se deslocou de metro. Garante mesmo não ter usado mais os transportes públicos. Sente que certas zonas foram mais favorecidas que outras, impossibilitando chegar onde se quiser de bicicleta. Por exemplo, “quando vou ao LxFactory, tenho de deixar a bicicleta em Santos e continuar a pé”.
Outro inconveniente é a relação por vezes tensa entre ciclistas e condutores de automóveis, que têm as mesmas prioridades e obrigações, como aprendeu recentemente nas aulas de código, mas lamenta que “os condutores se esqueçam disso e sejam impacientes”. Apesar de tudo, sente-se satisfeita por ter ganho um novo hábito, saudável e prático.