O perigo que constitui atravessar as passadeiras da Rua Dom João V

REPORTAGEM
Samuel Alemão

Texto

MOBILIDADE

Campo de Ourique

Santo António

9 Setembro, 2015


Nas três passadeiras existentes na artéria que liga o Largo do Rato às Amoreiras e a Campo de Ourique, o perigo é uma constante. Os peões não se sentem seguros face à elevada velocidade e desrespeito pela sinalização de muitos condutores. Têm ocorrido diversos atropelamentos e muitos sustos. A Junta de Freguesia de Campo de Ourique começou a repintar as passadeiras e reconhece que é necessário reforçar a segurança. Seja através de lombas, semáforos ou sobrelevação das passadeiras. E diz que já pediu ajuda à Câmara Municipal de Lisboa

A cada vez que é necessário atravessar para o outro lado, o coração começa a bater mais forte. Os peões sabem que arriscam muito sempre que tentam passar de um passeio para o outro na Rua Dom João V, que liga o Largo do Rato à zona de Campo de Ourique e das Amoreiras. Ao longo desta importante artéria – que muitos automobilistas utilizam para fazer a ligação à A5 -, existem três passadeiras, mas é voz comum entre aqueles que a frequentam de são bastante perigosas. Tanto que até há quem evite utilizá-las.

O atropelamento de uma transeunte na manhã de 30 de agosto, domingo, veio recordar a elevada perigosidade desta rua – que se caracteriza por ser inclinada, ter duas faixas de rodagem em cada sentido e, por isso, propícia a grandes velocidades dos automóveis, apesar de apresentar uma pronunciada curva e uma contracurva no fim do sentido descendente da rua. O referido atropelamento ocorreu na passadeira situada precisamente neste ponto, imediatamente antes do Largo do Rato. Um lugar de elevado perigo, onde os atropelamentos graves levaram à colocação, há alguns anos, de uma superfície antiderrapagem antes da passadeira.

O que não se tem revelado suficiente para se evitarem acidentes graves com peões, como também ocorreu há cerca de dois meses. “Trata-se de uma passadeira muito perigosa, estamos sempre a ver e ouvir situações de quase atropelamento e derrapagens de carros, que aqui passam a grande velocidade”, diz ao Corvo a funcionária de uma loja de motos situada mesmo em frente da passagem pedonal. A mesma empregada refere que, há cerca de dois anos, uma mulher perdeu ali a vida, atingida por um automóvel, quando fazia o atravessamento.

“Esta deve ser a passadeira mais perigosa de Lisboa, evito sempre passar nela, prefiro dar uma volta maior”, diz Gonçalo Abreu, 27 anos, que trabalha na Etnos, agência criativa digital situada ao lado da loja de motos. O problema é que, com a velocidade a que os automóveis ali passam se revela difícil à generalidade das pessoas sentir-se ali segura. Basta estar alguns instantes junto à passadeira em causa para se perceber essa realidade. É notório o receio de quase todos os que ali fazem a travessa para o outro lado do arruamento.

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Tiago Melo Alves conhece bem a armadilha que aquele atravessamento pode constituir para os peões. Por casualidade, passou ali momentos após o último atropelamento. “No local, estavam algumas pessoas, o carro parado e uma adolescente no chão a contorcer-se de dores”, recorda, explicando que depois disso enviou um email para a Junta de Freguesia de Campo de Ourique – “que não respondeu” – e para a Câmara Municipal de Lisboa, “que abriu uma ocorrência”.

O mesmo munícipe diz ao Corvo que consultou o portal Na Minha Rua – no qual qualquer pessoa pode sinalizar uma necessidade de intervenção por parte dos serviços da CML -, onde se apercebeu que “faz anos que as pessoas alertam a CML e junta de freguesia (agora de Campo de Ourique) para o perigo. Até hoje, nada foi feito”. De facto, basta consultar o referido sítio para verificar que no mapa interactivo estão assinalados casos pendentes relativamente às três passadeiras em questão: a que fica junto ao Rato, uma situada a meio da rua e outra localizada, mais acima, na esquina com a Rua Custódio Vieira.

Por exemplo, na ocorrência 51982/2015, relativa a “Semáforos e Sinais luminosos em falta ou para manutenção”, alguém escreveu: “Gostaria de solicitar uma solução mais segura para o tráfego pedonal na Rua D. João V. Há uma clara falta de respeito pelas três passadeiras existentes na rua, inclusivé pela Carris e o perigo é constante. a situação é ainda mais grave pelo facto de estarmos a falar de uma rua onde existe uma escola. É importante que a situação seja resolvida antes que suceda algo que queremos todos evitar (para além das várias situações do quase que acontece, diárias)”. Na ficha da ocorrência, cuja resolução é da responsabilidade da CML, pode ler-se que a mesma se encontra “em análise”.

Mas existem pelo menos mais cinco referências às passadeiras da Dom João V. “Eu próprio já tinha feito várias reclamações no portal da Na Minha Rua e obtive como resposta que estão a estudar uma intervenção grande naquela rua. Até hoje, nada foi feito, para além de cosméticas nas passadeiras”, afirma Tiago Melo Alves. No mapa em questão, existe a indicação que a Junta de Freguesia de Campo de Ourique se encontra a executar trabalhos de repintura de duas das três passadeiras: a junto ao Largo do Rato e a da esquina com a Rua Custódio Vieira.

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Passadeira situada a meio da Rua Dom João V.

Em declaração escrita a perguntas feitas pelo Corvo, o presidente da junta de Campo de Ourique, Pedro Cegonho (PS), confirmou estar já a actuar. “Esta junta de freguesia tem vindo a reforçar a segurança de peões através do exercício das nossas competências de manutenção e repintura de passadeiras e demais sinalização, encontrando-se prevista a intervenção nas passadeiras que refere, na empreitada que se iniciou 24 de Agosto, para além do reforço da colocação de calçada anti-derrapante nos locais com maior declive da freguesia”, explica.

“Relativamente ao local do acidente mencionado, que muito lamentamos, já solicitámos a avaliação e análise à Direção Municipal de Mobilidade e Transportes, da Câmara Municipal de Lisboa, para a necessidade de reforço de segurança daquelas passadeiras, pois é aquela entidade que possuí os recursos técnicos adequados para efetuar essa avaliação e propostas para o local, seja através da colocação de sinalização semafórica, seja através da colocação de lombas ou através da sobre-elevação da(s) passadeiras”, acrescentou.

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A passadeira junto ao cruzamento com a Rua Custódio Vieira.

Uma solução pedida também por muitos dos que usam quotidianamente a passadeira junto ao cruzamento das ruas Dom João V e Custódio Vieira. Local onde as travagens bruscas e os sustos são uma constante. “O problema aqui é a falta de respeito dos automobilistas. Isto é um perigo muito grande”, observa Pedro Ferreira, o proprietário do café Dom João V, situado mesmo em frente desse cruzamento. Tanto ele como uma funcionária sua disseram ao Corvo que consideram “mais seguro atravessar fora da passadeira, para não correr o risco de se ser atropelado”.

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