Suspenso desde 1995, Eléctrico 24 está de volta, ligando o Largo de Camões a Campolide
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Samuel Alemão
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João Barata/JFC
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23 Abril, 2018
É um momento especial para Lisboa e, em particular, para Campolide. O eléctrico 24 regressa na manhã desta terça-feira (24 de Abril) aos carris, depois de um interregno de 23 anos. Após a viagem inaugural, que contará com a presença do presidente da Câmara Municipal de Lisboa (CML), Fernando Medina, partindo da Praça de Campolide, a linha 24E passará a funcionar, nos dias úteis, entre as 7h e as 20h30, aos sábados das 7h30 às 19h40 e aos domingos entre as 10h30 e as 18h30. Trata-se da primeira ligação de eléctrico não destinada em exclusivo a turistas criada pela Carris desde 1991. A linha aberta pela agora empresa municipal – e que, para comemorar o regresso, terá viagens gratuitas nos dias 24 e 25 de Abril – servirá como meio de transporte preferencial da população de Campolide para aceder ao centro da cidade, é certo, mas não deixará de atrair turistas aquela freguesia.
Isso mesmo reconhece André Couto, presidente da Junta de Freguesia de Campolide, em declarações a O Corvo. “Fizemos sempre questão de que esta linha de eléctrico, pela qual lutámos bastante, fosse uma carreira normal de transporte público e não apenas mais uma linha turística. Mas, claro que também terá muitos turistas, dado o potencial que o percurso tem”, diz, sobre a linha que, partindo da Praça Luís de Camões, segue pela Rua da Misericórdia, Largo Trindade Coelho, Rua São Pedro de Alcântara, Praça do Príncipe Real, Rua da Escola Politécnica, Largo do Rato, Rua das Amoreiras, Avenida Conselheiro Fernando Sousa e Praça de Campolide. No sentido inverso, sai da Praça de Campolide e circula pela Rua das Amoreiras, Rua da Escola Politécnica, Praça do Príncipe Real, Rua D.Pedro V, Rua São Pedro Alcântara, Rua da Misericórdia e Praça Luís de Camões.
A linha do eléctrico 24E havia sido interrompida em 28 de Agosto de 1995 devido às obras de construção do parque de estacionamento na Praça de Campolide e, logo de seguida, suspensa pelas obras da ligação do metropolitano ao Largo do Rato. No anos seguintes, foram-se ouvindo amiúde as promessas de regresso da ligação, mas nada se passava. Tanto que, dado o inconformismo de alguns – entre os quais o grupo cívico Fórum Cidadania Lisboa e a Plataforma pela reactivação do eléctrico 24, em Lisboa – foram lançadas duas petições reivindicando o que muito já consideravam uma causa perdida. Isto apesar da existência de um protocolo, assinado em 1997, entre a CML e a Carris para a reactivação da ligação que funcionara entre 1905 e 1995, ligando o Rossio a Campolide, pelo Cais do Sodré, Rua do Alecrim, Príncipe Real, Rato e Amoreiras. Em 2001, a empresa de transportes de Lisboa chegou a fazer a reparação dos carris e das ligações eléctricas, mas a construção do estacionamento subterrâneo do Largo de Camões voltou a inviabilizar o regresso do eléctrico.
Até agora. O 24E regressa assim ao seu serviço regular, permitindo um ligação directa entre o referido largo, localizado no epicentro da movida turística, e uma zona da cidade cuja oferta de transportes público está longe de ser a adequada para as necessidades da sua população. Isso mesmo destaca o presidente da junta de Campolide, André Couto. “Isto é importante, porque corresponde a um reforço do transporte público numa freguesia que não é servida pelo metro e que, durante o mandato do governo anterior, sofreu muito com a redução do serviço da Carris, que no número de carreiras de autocarro quer na sua frequência”, comenta André Couto, considerando que o regresso do eléctrico aquela área da capital é a prova de que “a municipalização da Carris foi uma aposta ganha”.
O autarca elenca o “reforço do transporte público” como uma das três razões para celebrar o retorno do 24E. Outra tem que ver com o potencial turístico. “Apesar de esta ser, antes de mais, uma linha normal de transporte público, a possibilidade de os turistas aqui chegarem é muito importante. Acho que nos faz bem, dará um forte impulso ao comércio local. Os meus colegas das freguesias do centro estão sempre a dizer que têm turistas a mais e eu costumo dizer que não nos importamos que os partilhem connosco”, ironiza o autarca, fazendo notar que está já em negociação, com o Museu da Água, a possibilidade de se poder ter o Aqueduto das Águas Livres aberto durante todo o ano. Seria a forma de manter uma forte justificação para uma deslocação até Campolide. Outros dos aspecto a trabalhar será o de tornar clara a ligação entre a Praça de Campolide e o monumento nacional.
A outra razão pela qual André Couto diz ser importante o regresso do 24 tem que ver com “a auto-estima do bairro”. “Há muito tempo que a retirada do eléctrico da freguesia tinha criado um grande abalo nas pessoas. Sentiram que lhes tinham tirado um dos seus ícones. E agora isso está resolvido”, afirma.
Além de Campolide, o 24E percorre também as freguesias da Misericórdia e de Santo António, com as seguintes paragens: Praça Luís de Camões, Largo Trindade Coelho, Ascensor da Glória, Príncipe Real, Rua da Escola Politécnica, Rato, Jardim das Amoreiras, Rua das Amoreiras e Campolide. Está ainda em estudo o alargamento da carreira de eléctrico ao troço Cais do Sodré-Rua do Alecrim-Carmo-Largo Trindade Coelho.