Medina quer Linha de Cintura como “quinta linha do metro” e nova estação de comboios no Hub Criativo do Beato

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Kátia Catulo

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Marvila

8 Março, 2019

A Câmara Municipal de Lisboa (CML) está a pressionar a administração central para que a Linha de Cintura seja sujeita a beneficiações e passe a funcionar como um transporte ferroviário urbano de grande volume e credível nas ligações à zona oriental da capital, ao ponto de poder ser encarada como a “quinta linha do metro”. O desejo, que nem é novo, volta agora a ser referido por Fernando Medina (PS), para quem a entrada em vigor dos novos passes unificados para os transportes públicos da cidade e da área metropolitana, em Abril, representa uma excelente oportunidade para “dar sentido” a esse projecto. Para que tal aconteça, será importante reactivar e colocar ao serviço da população apeadeiros há muito desqualificados, defendeu o presidente da autarquia, na noite de quarta-feira (6 de Março), durante a reunião descentralizada da vereação destinada a ouvir os munícipes das freguesias de Beato e Marvila, realizada no Teatro Ibérico. Momento em que se ficou a saber que a CML está em conversações com a Infraestruturas de Portugal (IP) não só para a requalificação do apeadeiro de Marvila, mas também da criação de uma nova estação ferroviária junto ao Hub Criativo do Beato.

A novidade foi avançada por Miguel Gaspar, vereador da Mobilidade, ao responder ao apelo de um morador do Beato para que se melhorassem as ligações ferroviárias para aquela zona da cidade, como forma de combater os crónicos problema de mobilidade na freguesia. Reiterando o que já dissera a O Corvo, há quase um ano, o vereador informou que a Câmara de Lisboa vê com bons olhos que “o comboio possa funcionar como o metro, dentro da cidade de Lisboa”. E explicou: “As pessoas têm o mapa mental do Metro, mas o do comboio não o têm muito claro. Quem está em Sete Rios e quer ir para a Expo raramente olha para cima e se lembra do comboio. Temos defendido junto da Infraestruturas de Portugal o reforço desta realidade e a própria IP tem-se mostrado sensível a este tema”. Miguel Gaspar revelou que, no caso concreto das duas freguesias, as negociações entre a autarquia e o organismo estatal se têm focado em “duas estações” em particular: o existente apeadeiro de Marvila, integrado na Linha de Cintura, e uma nova estação, a criar junto à futura ala Norte do Hub Criativo do Beato, utilizando o espaço de antigos armazéns militares situados mesmo ao lado da Linha do Norte.

O vereador da Mobilidade explica que está a ser estudada, em conjunto com a IP, a possibilidade de conversão “numa estação com serviço ferroviário” dessas velhas instalações, integradas no complexo da antiga Manutenção Militar e situadas ao lado da linha de caminho-de-ferro, no troço entre Santa Apolónia e Oriente. A confirmar-se a criação dessa infraestrutura, conseguir-se-ia assim assegurar uma ligação de transporte público de grande capacidade numa zona da cidade em acelerada transformação e para onde estão projectados investimentos imobiliários e empresariais de vulto. Ao mesmo tempo, a Câmara de Lisboa encontra-se também a negociar com o Estado a forma de melhor poder aproveitar o potencial do apeadeiro de Marvila, como pólo agregador dos transportes públicos naquela freguesia, apesar de o autarca admitir que aquela “é uma zona difícil, com elevados declives, em particular na direcção do rio”.


O apeadeiro de Marvila encontrava-se bastante degradado até ao verão passado – altura em que foi sujeito a uma intervenção de reabilitação, incluindo a reposição dos bancos, vedações e recipientes de depósito de resíduos e a melhoria da iluminação geral – e é hoje usado apenas pelos comboios suburbanos CP da Linha da Azambuja, permitindo o acesso a estações como Oriente, Roma-Areeiro, Entrecampos e Alcântara. Mas, de acordo com o vereador da Mobilidade, poderá vir a ganhar um novo estatuto. “São coisas que estão em estudo, tem havido receptividade do lado da IP”, assegura Miguel Gaspar, referindo-se às pretensões da câmara relativas a Marvila e ao Beato.

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O dinamismo trazido pelo Hub Criativo justificará a criação da estação, considera a Câmara de Lisboa

A utilização da Linha de Cintura como “quinta linha de metro” começou a ser defendida publicamente por Gaspar, há cerca de um ano, tendo o vereador, na altura, em declarações a O Corvo, referido que esse cenário deveria ser fomentado não só através de uma campanha de comunicação como também uma “harmonização do tarifário” dessa linha como o do Metro. Nesse momento, porém, não eram conhecidas ainda as profundas alterações no sistema de bilhética e passes de transportes públicos de Lisboa e da área metropolitana, que entrarão em vigor em Abril próximo – o passe para a cidade custará 30 euros e o passe válido para todo o sistema de transportes colectivos da metrópole será de 40 euros por pessoa (80 euros no máximo por agregado familiar). Ou seja, a desejada harmonização tarifária entre metro e CP será um realidade dentro de semanas. Referindo-se às mudanças que aí vêm no sistema de passes, Fernando Medina disse na reunião de quarta-feira que será “isto que vai traduzir e dar sentido a termos a ferrovia como a quinta linha de metro na cidade de Lisboa”. Para que tal aconteça, salientou, será importante “a abertura dos apeadeiros que não estão accionados e pô-los ao serviço das populações”.

 

Fotografia: Tiago Alves Miranda

 

Ouvindo tais promessas, no final da reunião, o vereador comunista João Ferreira manifestou agrado com as mesmas, embora frisasse que o PCP denunciou, na devida altura, como sendo um erro o encerramento do apeadeiro de Chelas – algo que aconteceu em Junho de 2015. “Era bom começar a reverter decisões deste tipo”, advogou. Uma ideia coincidente, aliás, com a opinião do munícipe Nuno Santos, a qual originou as intervenções de Miguel Gaspar e Fernando Medina sobre o assunto. “Seria muito útil, se calhar, reactivar o apeadeiro de Chelas, talvez um pouco mais atrás, fazendo uma ligação à estação de metro das Olaias e criando aí um interface rodoviário e ferroviário”, sugeriu, após criticar as grandes debilidade da oferta de transportes públicos naquela zona da cidade. “Somos atravessados por caminho-de-ferro por todo o lado e, no entanto, não existe uma estação no Beato. O apeadeiro de Chelas foi desactivado e no apeadeiro de Marvila praticamente não param comboios”, disse.

 

 

Em Maio do ano passado, foi adjudicada uma intervenção de requalificação de 3,9 milhões de euros da Linha de Cintura, no troço entre Chelas e Braço de Prata, com a substituição integral das velhas travessas de madeira por travessas de betão, mas também dos carris. Na mesma empreitada, estavam previstas, entre outras coisas, a beneficiação do sistema de drenagem em toda a extensão do troço e dos atravessamentos de nível nos apeadeiros de Marvila e de Chelas, bem como a rectificação do traçado da via, incluindo na inserção da Concordância de Xabregas – nome dado ao troço que assegura a ligação de Santa Apolónia à Linha de Cintura.

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COMENTÁRIOS

  • Pedro
    Responder

    Para se conseguir afirmar que o apeadeiro de Marvila sofreu beneficiações, é preciso uma valente dose de má fé. Retiraram dois bancos metálicos degradados e colocaram dois blocos de betão a servir de banco e dois tubos de esgoto a servir de papeleira. O apeadeiro continua sem comprimento suficiente para que parem comboios da linha de Sintra, continua sem serviço aos fins de semana e feriados, continua sem máquinas de venda de bilhetes, sem máquinas obliteradoras (o que impossibilita saber ao certo quantas pessoas utilizam este apeadeiro), a maior parte da plataforma continua sem cobertura contra a chuva ou o Sol, a única passagem desnivelada do apeadeiro encontra-se permanentemente cheia de lixo, e fica facilmente inutilizável sempre que chove com mais intensidade. Em suma, o apeadeiro de Marvila, após a intervenção referida na peça, continua tão mau como antes.
    Relembro mais um detalhe, há anos fecharam o apeadeiro de Chelas, que, segundo algumas referências na altura, tinha em vista a construção de um novíssimo apeadeiro com ligação directa à estação de metropolitano das Olaias. Pergunto, há alguma novidade em relação a este assunto?
    Obrigado.

  • Pericles Pinto
    Responder

    Vamos para a frente com esta ideia!

  • Joaquim Conceição
    Responder

    Fala-se muito nas ligações facilitadas das linhas do Metro, pergunto porque não se faz a ligação de Telheiras à Pontinha no que facilitava a população que deseja passar da freguesia do Lumiar para Carnide sem ter de ir ao centro da Cidade.
    O Túnel após a estação de Telheiras está construído e a respectiva passagem prevista à mais de 20 anos

  • JOSÉ CAROLA
    Responder

    E porque não a reposição dos carros eléctricos na zona oriental de Lisboa, tal como noutro tempo
    ?(via A.S.João e Caminhos de ferro/ Santa Apolónia)

  • Jbrito
    Responder

    E facil!!! Criar a ligação entre a linha de comboio da CP com a estação de metro das Olaias. So tem que criar umas escadas e a plataforma

  • Bruno
    Responder

    A linha de cintura só será uma verdadeira linha de metro com a ligação, fundamental, à linha de Cascais. Era a forma de dar acesso direto ao centro de lisboa a milhares retirando imensos carros da A5.

  • Deocleciano Oliveira
    Responder

    Sr. Presidente!
    Ainda não o vi a andar pelas rua de Lisboa a pé para ver a quantidade de lixo existentes nas ruas da cidade.
    Veja a praga de bicicletas e trotinetes que são abandonadas no meio dos passeios, encostadas a montras de estabelecimentos, janelas
    ao nível do passeios , as mesmas a transitar pelos passeios sem que alguém ponha cobro a esta falta respeito pelos pessoas.
    Pergunto:
    Sem alguém for atropelado por uma destas motorizadas quem é responsável? a CML que autorizou a circulação o seguro que não existe
    pelos utilizadores ou pelas entidades que exploram este negócio.
    Outras cidades da Europa e América não autorizaram estes veículos, mas Lisboa como que andar na crista da onda autoriza tudo, sem o mínimo de regulamentação.

  • Francisco Luís Parreira
    Responder

    Uma proposta angélica e cheia de boa vontade, e até parece que O Corvo está a fazer um frete à CML. Falta dizer duas ou três coisas: um, que o projecto, como tudo o que vem da CML, não é de Medina, mas do elemento da familia Salgado integrado na administração urbana (estou a ser piedoso na designação), e que o projecto não é de agora. Dois, que ele envolve o encerramento da estação de Santa Apolónia e respectiva transformação em hotel; três, que a linha de Marvila a Santa Apolónia é destruída, a estação terminal passa a ser Marvila e o espaço agora ferroviário passa a constituir um enorme jardim que acompanha a marginal (esperemos que meia duzia de intervenções urbanísticas de ao mesmo tempo ideólogo e arquitecto interessado nas deliberações da vereação. Este desiderato já foi assumido em Assembleia Municipal, com um dos interessados a afirmar descaradamente que a estação de Santa Apolónia praticamente já nao é frequentada (!); quarto, que como peça de propaganda, igual a tantas outras em que a CML se tornou useira e vezeira com esta vereação,é perfeita: as coisas aparecem nobilitadas e a cor-de rosa (recuperação de Marvila, etc, aumento da mobilidade, etc.,) e esconde-se o principal, isto é, a parte de leão no negócio a que a câmara se propõe: a libertação de noos terrenos para a especulação imobiliária e urbana (Santa Apolónia). Não falta sequer a nota que dá todo o aspecto de obedecer a um projecto de mobilidade sistémico e integrado com a referência à linha da cintura, como se houvesse alguma relação entre as duas ideias. Talvez O Corvo pudesse ser um pouco mais crítico para a próxima, não?

  • José N.
    Responder

    Lamentavelmente a CML de Lisboa sob a batuta do Sr. Medina e dos escondidos interesses imobiliários vai mais uma vez enganar a população com projectos cor-de-rosa para entreter o pagode. Entretanto Lisboa foi tomada de assalto pelas trotinetas e de forma que a bem dizer deixou de ser um lugar com alguma tranquilidade e tudo é feito apenas para turista ver. Uma vergonha e uma tragédia que iremos pagar bem caro durante muitos anos. Como se costuma dizer “de promessas está o inferno cheio” e de inferno já não estamos muito longe, pelo que as promessas são mais um dado para lá chegarmos…

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