Ciclovia na Avenida Guerra Junqueiro, a ligar a Alameda à Praça de Londres, vai mesmo avançar

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Samuel Alemão

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Areeiro

2 Março, 2018

É só uma questão de esperar até que o novo asfalto esteja devidamente consolidado. Ainda este mês, começarão as obras de construção de uma ciclovia na Avenida Guerra Junqueiro, a qual assegurará a circulação de bicicletas no sentido ascendente, entre a Alameda Dom Afonso Henriques e a Praça de Londres. Depois dos trabalhos de repavimentação daquela artéria, realizados no início de fevereiro, chegará então a vez de criar um canal exclusivo, para que os ciclistas provenientes da zona da Avenida Almirante Reis acedam de forma mais fácil ao corredor da Avenida de Roma. A via será criada do lado direito, entre o passeio e os lugares de estacionamento, no sentido contrário à circulação rodoviária, que se manterá na direcção Praça de Londres-Alameda. Tal intervenção implicará que o estacionamento automóvel, junto à ciclovia, passe a ser feito em paralelo à mesma. O que obrigará à supressão de cerca de uma vintena de lugares.

Uma informação confirmada a O Corvo pelo presidente da Junta de Freguesia do Areeiro, Fernando Braancamp (PSD), no final de uma semana em que abundaram rumores sobre a suposta desistência do projecto, por parte da Câmara Municipal de Lisboa (CML). Tanto que um grupo de activistas das bicicletas pintou no asfalto marcações ilegais de ciclovia, prontamente apagadas pela CML. “Pelo que sei, está-se apenas à espera que o novo tapete de asfalto fique devidamente assente e seco, para que, então sim, se possa fazer a intervenção da ciclovia. O alcatrão não pode ser pintado nas semanas seguintes a ser colocado”, explica o autarca, referindo-se à solução técnica encontrada para implementar a ciclovia. Tal como noutros locais da cidade, e a Avenida Visconde de Valmor é disso um exemplo, a opção recairá pela delimitação de um canal de circulação de bicicletas, entre o passeio e o parqueamento automóvel em paralelo, através da pintura em verde do piso alcatroado e da colocação de pilaretes plásticos. Uma solução mais económica do que a tradicional obra sobre o passeio.



Tal escolha traz consigo, porém, a inevitabilidade de perda de alguns lugares de estacionamento automóvel, uma vez que este passa a ser feito não “em espinha”, mas sim lado-a-lado com a ciclovia. No caso da Avenida Guerra Junqueiro, serão duas dezenas os lugares para viaturas que se perderão em virtude da colocação da nova infraestrutura, situada do lado esquerdo para quem desce a artéria – ou seja, junto ao passeio que começa nas imediações da pastelaria Mexicana. Do outro lado da avenida, o direito para quem desce, o estacionamento manter-se-á “em espinha”, se bem que com mudanças substanciais na forma de o fazer: ao contrário do que sucede agora, o parqueamento passará ser realizado com a traseira do automóvel encostada ao passeio e a dianteira virada para a faixa de rodagem. “Acho uma medida acertada, trata-se de aplicar uma lógica de protecção e segurança para quem estaciona, pois ao tirar o carro do lugar não tem de o fazer marcha-atrás”, considera o presidente da junta.

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Esta será, além disso, uma forma de proteger os ciclistas que realizarão o percurso descendente da avenida, em direcção à Alameda. Deixarão também eles de correrem o risco de serem surpreendidos pela saída repentina de uma carro em marcha-atrás. Esse será, portanto, um percurso partilhado entre automóveis e bicicletas. Ao contrário do que sucederá com a nova ciclovia ascendente, a qual funcionará como um canal dedicado. Uma tipologia com a qual o autarca concorda, defendendo a solução encontrada pelos serviços camarários. Mesmo que isso custe alguns lugares de estacionamento. “Se somos uma cidade europeia, temos de perceber que o espaço público não pode ser só para o estacionamento automóvel. Tem de haver lugar para outras soluções, como as bicicletas”, afirma Fernando Braancamp, desvalorizando qualquer contestação que possa surgir entre residentes e comerciantes. Além disso, explica, “com as obras que serão feitas pela câmara no espaço público da Avenida do México , vamos, com certeza, recuperar diversos dos lugares de estacionamento perdidos”.

A possibilidade de construção da ciclovia, mas sobretudo a sua previsível consequência directa de supressão de uma vintena de lugares de estacionamento automóvel, tem sido objecto das conversas entre os moradores e os comerciantes daquela artéria, conhecida pela suas lojas. Há queixas de falta de informação sobre o projecto e sobre as mexidas trazidas pelo mesmo ao quotidiano da avenida. Ainda na semana passada, o dono de um dos cafés situados do lado onde será criada a via de bicicletas dizia a O Corvo que “pouco se sabe”. “Eles andaram para aí a asfaltar, espero que desistam dessa ideia da ciclovia”, dizia, manifestamente pouco agradado com a possibilidade de ver o números de lugares para os carros encolher.

Ante a aparente indefinição sobre o avanço do projecto – e já depois de, a 25 de fevereiro, activistas pelo uso das bicicletas terem feito marcações no asfalto da Avenida Guerra Junqueiro, criando a ideia de que a via já estaria a funcionar -, o grupo cívico Vizinhos do Areeiro tornou públicas, nesta quinta-feira (1 de março), as suas críticas à forma como o mesmo está a ser implementado. Isto já depois de uma recolha de assinaturas, com o mesmo teor, por si dinamizada e endereçada à CML. Uma iniciativa que a Vizinhos do Areeiro considera ter sido decisiva para travar, pelo menos para já, o avanço de uma obra que contesta, sobretudo pela perda de lugares de estacionamento – mas também pelo que diz ser a falta de transparência na implementação do projecto.

O Corvo questionou, na tarde desta quintra-feira (1 de março), o gabinete do vereador da Mobilidade, Miguel Gaspar, sobre a prossecução deste projecto. Até ao momento da publicação deste artigo, não conseguiu, porém, obter uma resposta.

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