Fotos que testemunham como era zona oriental de Lisboa antes da Expo’98 reunidas em livro

PORTFÓLIO
Samuel Alemão

Texto


Bruno Portela

Fotografias

VIDA NA CIDADE

Parque das Nações

28 Setembro, 2018

Em meados de 1994, recorda agora o fotojornalista Bruno Portela, os colegas da redacção do jornal PÚBLICO, onde trabalhava desde a fundação, perguntavam-lhe com frequência se achava que a Expo ia ficar pronta a tempo. Sabiam que, para além do horário laboral, ele estava a fazer um levantamento fotográfico do território onde, quatro anos depois, se realizaria a exposição internacional dedicada aos oceanos – o maior evento alguma vez realizado em Portugal. E as dúvidas eram legítimas, pois se pouco se sabia daquela parcela da cidade de Lisboa, tal se devia precisamente ao pouco que se conhecia. “Era, claramente, uma zona negra, uma zona de sombra, que as pessoas sabiam existir, mas não encontravam razão para lá ir. Nem que fosse pelo género de actividades que ali predominava”, rememora a O Corvo, nas vésperas do lançamento de “Uma cidade pode esconder outra”, o livro que reúne esse exaustivo registo, no momento em que se assinala o fim do ciclo comemorativo de duas décadas volvidas sobre o evento.

O relativo cepticismo e a curiosidade dos companheiros de redacção de Bruno
Portela, nascido em 1966, até é compreensível, concede o fotógrafo. “Aquele
era um território marcado pelo subdesenvolvimento, alguma coisa tinha de
ser feita para mudar aquele cenário, como é óbvio. Era um lugar caracterizado
pela degradação, pela poluição, com uma contaminação generalizada dos
terrenos e da água. Dizia-se, muitas vezes, que o Rio Trancão era o mais
poluído da Europa”, recorda, ao evocar os seis meses que passou naquela
imensidão de território, 340 hectares, nas vésperas de o mesmo ser sujeito à
maior operação de transformação alguma vez realizada no nosso país. “O
trabalho do fotógrafo é captar espíritos. Ora o fotógrafo estava, nos idos de
1994, no lugar exacto à hora certa para registar este fim de ciclo”, nota João
Paulo Cotrim, no texto que acompanha a esta edição (ed. Arranha Céus, 35
euros), lançada ao final da tarde (17h30), deste domingo (30 de Setembro), no
lounge da Altice Arena.

A intenção de fazer um registo que congelasse um tempo-lugar em extinção
foi, portanto, premeditada. António Mega Ferreira, comissário da Expo, bem
como João Paulo Velez, responsável pela comunicação do certame, tinham
esse propósito bem assente, quando contactaram o fotógrafo. Nunca antes,
entre nós, havia sido realizado tal trabalho de metódico registo fotográfico
com o objectivo de assegurar uma memória futura. Nem mesmo, por exemplo,
aquando da realização dos trabalhos preparativos para a construção do
recinto da Exposição do Mundo Português, levada a cabo pelo Estado Novo,
em 1940. “Hoje, não se sabe como é que aquilo estava”, nota Bruno Portela.

Mas Mega Ferreira e Velez possuíam essa sensibilidade, frisa. “Eles tinham a
percepção da necessidade de manter essa memória viva. Todas aquelas
actividades industriais que ali tinham lugar não permitiam o acesso à
generalidade das pessoas. O meu foi, sem dúvida, privilegiado, e isso
permitiu-me perceber que havia um imenso território que era inacessível à
grande maioria”, diz o fotógrafo, lembrando ainda o facto de, no momento da
realização do levantamento, viver ali muita gente em condição precária, fosse
em bairro sociais ou em barracas.

E o contacto com essa dimensão humana permitiu-lhe aproximar-se de
pessoas que viviam na sombra da grande cidade, como os catadores de
entulho ou quem navegava entre o fétido Trancão e aquela parcela bem menos
conhecida do Tejo. Uma revelação que, aliás, prevalece na memória de Bruno,
para além das imensas picadas de mosquito que sofreu durante a temporada
em que ali realizou o levantamento fotográfico. “Chamou-me a atenção o
acesso a uma zona do rio de imensa beleza natural e até então desconhecida
da maioria. Aquela zona era muito mais bonita do que as outras área da zona
ribeirinha do Tejo que conhecíamos”, diz.

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