Um grupo de cidadãos vai manifestar-se, entre as 11 horas e as 17h, desta terça-feira (28 de fevereiro), contra a demolição de um edifício antigo situado nos números 10 a 14 da Praça das Flores, no lugar do qual está previsto ser edificado um prédio desenhado pelo arquitecto Eduardo Souto Moura, já autorizado pela Câmara Municipal de Lisboa (CML). Após o lançamento de uma petição no mesmo sentido, na semana passada, reforça-se assim a mobilização popular em oposição ao polémico projecto, que muitos temem poder vir a significar uma irreparável descaracterização de uma das mais icónicas praças lisboetas. Com a destruição do referido imóvel, perder-se-á um cenário quase imaculado, pautado por construções de arquitectura tradicional do século XIX, a fim de nascer no seu lugar um edifício de traço contemporâneo, por muitos visto como violentador da harmonia visual do arruamento.

 

“Junta-te a nós, se sentes que tudo deve ser feito para preservar a beleza da Praça das Flores. Tragam placards e apitos”, apelam na convocatória feita através do Facebook os organizadores do protesto, que incluirá também responsáveis pela petição, lançada pelo grupo Fórum Cidadania LX. A recolha de assinaturas, lançada a 21 de fevereiro e que ao final da tarde desta segunda-feira (27 de fevereiro) tinha sido subscrita por pouco mais de 1190 pessoas, intitula-se “Salvar a Praça das Flores e a identidade de Lisboa”. Nela, pede-se à CML à suspensão da “demolição de um edifício histórico e construção de um edifício dissonante” na Praça das Flores n.ºs 10 a 14, no âmbito do processo de um licenciamento autorizado pelo vereador do Urbanismo, Manuel Salgado, em 20 de julho de 2016. O alvará de construção foi atribuído a 6 de dezembro passado, apesar do parecer negativo dos serviços camarários, salienta o texto de suporte da petição.

 

 

Segundo essa avaliação técnica, o edifício a demolir “possui características arquitectónicas com relevância tais como a composição simétrica, a trapeira com grande presença, o beirado à portuguesa, os cunhais de pedra, os vãos de sacada com varanda, etc, que garantem uma integração equilibrada no conjunto homogéneo das edificações que definem urbanisticamente a Praça das Flores”. E sobre a proposta de Souto Moura – muito semelhante a outro projecto seu já construído Rua do Teatro, no Porto -, o mesmo parecer terá assinalado que alguns dos seus elementos fundamentais, entre os quais o desenho proposto para o alçado, “não possuem qualquer relação com a linguagem arquitectónica dos edifícios confinantes, nem referências nas composições arquitectónicas dominantes no conjunto da Praça das Flores em termos morfológicos e tipológicos”.

 

O que leva os autores da petição e da mobilização desta terça-feira de Carnaval a considerarem que se está perante uma autorização cujo impacto será “a abertura de um precedente que retira à CML qualquer legitimidade para reprovar intervenções semelhantes, na Praça das Flores ou noutras praças e ruas de igual cariz, com prejuízo para a imagem e património da Cidade de Lisboa”. “Em causa está, por um lado, a perda de identidade de Lisboa, ao permitir-se a demolição de um edifício que, embora anónimo, contribui para a harmonia de uma das praças mais emblemáticas da cidade e, por outro lado, a construção de um edifício dissonante, sem nenhuma relação com a cultura arquitectónica e urbanística do centro histórico onde se insere, e que prejudica fortemente a imagem da Praça das Flores”, afirmam os peticionários, alegando ser a obra desrespeitadora do Plano Director Municipal, “bem como outras imposições legais, como os alinhamentos de pisos e vãos com os edifícios confinantes, a ocupação do logradouro e os requisitos da admissibilidade de demolições”.

 

Imagem do projecto aprovado para o local. (DR)

 

O projecto de Souto de Moura – um prédio com cinco pisos, vidro a toda a largura da fachada, assente numa estrutura de betão armado revestida com perfis de ferro, lâminas de alumínio para ensombramento e telas de rolo – acabou por receber luz verde de um director municipal, apesar do parecer em sentido contrário dos serviços do município. Segundo o texto da petição, o referido responsável terá alegado que “na arquitectura, como em qualquer outra arte, (…) podemos ter vários olhares e todos eles válidos”. O processo havia já sido acolhido favoravelmente pela Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC), auscultada por o local se situar na Zona de Protecção Especial do Bairro Alto, classificado como Conjunto de Interesse Público.

 

Os promotores da recolha de assinaturas – que fazem notar a crescente tendência na relação entre “arquitectos de renome” e “novos edifícios a construir implicando demolições que dificilmente se enquadram na lei” – enviaram, a a 10 de fevereiro, cartas denunciando o caso para o Ministério Público, Provedoria da Justiça e Ordem dos Arquitectos.

 

Texto: Samuel Alemão

 

  • Dirk Scott
    Responder

    The proposed replacement looks horrible. Other countries stopped approving developments like that years ago, even in modern developments. In a historic line of buildings it would never be allowed. Lisbon does not need this, there are better options.

  • José Martins
    Responder

    Não se tratará de um lapso na atribuição de licença camarária? Só pode…

  • Marco Goncalves
    Responder

    PierrePrimetens tu y seras?

  • Cláudio da Silva
    Responder

    Pena não apitarem por todos os outros.

  • António Rosa de Carvalho
    Responder

    A arrogância dos “arquitectos famosos” sobrepondo-se a tudo e a todos os valores é uma velha tradição em Portugal. Como ilustração revisitem este artigo da minha autoria no Público datado de 2001. António Sérgio Rosa de Carvalho / OVOODOCORVO
    Arquitectos, património e a síndroma criadora
    ANTÓNIO SÉRGIO ROSA DE CARVALHO 27/11/2001 –

    Foi-nos anunciado que, no próximo dia 29 de Novembro, irá tomar lugar no Laboratório Nacional de Engenharia Civil um encontro que pretende discutir o futuro da Baixa como conjunto patrimonial, eventualmente propor a sua classificação como Património Mundial e sensibilizar a opinião pública.Simultaneamente, fomos também confrontados com uma surpreendente proposta de arquitectos e engenheiros para cobrir a Baixa com uma estrutura retráctil. Será esta a melhor maneira de sensibilizar a opinião pública para o imperativo de uma recuperação da Baixa à altura da sua importância histórica e da urgência do seu repovoamento?Francamente, depois do programa de valorização de Lisboa Valis e do elevador do castelo, já nada nos surpreende. Mas pensávamos que os arquitectos e os engenheiros se tinham deixado destas coisas…Talvez a próxima proposta seja a concretização da utópica cúpula geodésica de Buckminster Fuller, mas agora cobrindo Óbidos, tipo campânula transparente a envolver bolo em confeitaria Pompadour.Tudo isto é ilustrativo da confusão que reina em terras lusas no que respeita às definições delimitadoras do que é um arquitecto de restauro e do que é um arquitecto criador. Dos limites impostos pela pertença colectiva do património arquitectónico, como teatro de memória, à síndroma criadora do arquitecto.É preciso dividir as responsabilidades. Uma parte da culpa reside nos arquitectos. Outra parte nas instituições oficiais de defesa do património, exercendo ou não a sua responsabilidade disciplinadora. Uma outra parte no sistema de ensino, onde a consciencialização histórica dos futuros arquitectos não é feita por historiadores de arquitectura (licenciados na perspectiva de Letras e, portanto, não sofrendo da síndroma criadora), mas por arquitectos subjectivamente autodidactas nas áreas históricas. Nos países do Norte da Europa, o ensino da História de Arquitectura é exercido por historiadores (de arquitectura). As outras áreas – projecto, estruturas – por arquitectos, engenheiros. Um arquitecto de restauro é formado exclusivamente com uma especialização nesse sentido, e geralmente só faz restauro. É detentor de um código que aplica com rigor ético.Em Portugal, a XVII Exposição Europeia deixou-nos com um festival de intervenções ambíguas. A Casa dos Bicos foi aumentada, baseando-se correctamente nas fontes iconográficas posteriores à época, mas não sem se ter feito um “abrilhantamento criativo” das janelas, num álibi “patrimonialmente correcto”, mas que esconde atrás do argumento da Carta de Veneza uma síndroma criadora. Isto para não falar da fachada das traseiras, que apresenta a qualidade de uma agência bancária de província, ou do interior, “pioneiro” de simbolismos e dinâmicas protodesconstrutivas. Seguiram-se as irresponsáveis coberturas dos Jerónimos e da Torre de Belém.Para não nos alargarmos, ficaremos por um último exemplo: a própria Casa dos Arquitectos, templo ou cabana primitiva de exemplos e virtudes, emanando referências didácticas. Isto é, a transformação dos Banhos de S. Paulo em sede da ordem. Está bem, não se tratava propriamente das Termas de Caracalla, mas apenas de um modesto – mas raro – exemplo do neoclassicismo em Portugal. O “restauro”, ou recuperação, levou à total destruição do interior do edifício e à total alienação do exterior. E eu que pensava que um f+bpedimentof-b era uma referência de virtudes cívicas e um arquétipo tectónico… afinal é uma moldura para espelhos de barbear. Ou será detentor de um simbolismo mais profundo, dirigido à memória das manipulações científicas e militares de Arquimedes ? Andávamos preocupados pelo misterioso caso da Quinta da Bacalhoa, que, na sua gravidade, só pode ser comparado à destruição de uma parte da Torre de Belém. Mas tranquilizaram-nos pela atitude firme no golfe das Amoreiras. Andávamos preocupados por nos sentimos secundarizados, desconvidados ou mesmo ignorados na Europa. Afinal, podemos consolar-nos com o reconhecimento da nossa criatividade única.Mal acabámos de acordar para o verdadeiro pesadelo, ao reconhecermos que os nossos centros históricos constituem o último reduto de resistência à destruição e ao caos que nos rodeiam, e já estamos a propor uma “Manhattan” de Cacilhas. Ainda não definimos a tal filosofia global, coerente, unificada e rigorosa para a intervenção na Baixa, e já estamos a propor coberturas surrealistas. Perante o desafio do caos urbanístico e das inqualificáveis periferias, verdadeiras “bombas-relógio”, um programa de tertúlias resolveu convidar ilustres participantes.Num rasgo de criatividade, ilustrando uma leviandade pós-moderna própria daqueles que usufruem do dom da graça todos os dias, um dos seus representantes deixou-nos com uma conclusão profunda e uma imagem inspiradora. Referindo-se à superioridade das nossas cidades sobre as “civitas” do Norte da Europa, que estão prisioneiras e sofrem dos horrores da civilização, rematou: “As nossas são mais rascas, mais ordinárias, mais mulatas.” Palavras para quê ? É um artista português.

  • António S.R. de Carvalho
    Responder

    A arrogância dos “arquitectos famosos” sobrepondo-se a tudo e a todos os valores é uma velha tradição em Portugal. Como ilustração revisitem este artigo da minha autoria no Público datado de 2001. António Sérgio Rosa de Carvalho / OVOODOCORVO
    Arquitectos, património e a síndroma criadora
    ANTÓNIO SÉRGIO ROSA DE CARVALHO 27/11/2001 –

    Foi-nos anunciado que, no próximo dia 29 de Novembro, irá tomar lugar no Laboratório Nacional de Engenharia Civil um encontro que pretende discutir o futuro da Baixa como conjunto patrimonial, eventualmente propor a sua classificação como Património Mundial e sensibilizar a opinião pública.Simultaneamente, fomos também confrontados com uma surpreendente proposta de arquitectos e engenheiros para cobrir a Baixa com uma estrutura retráctil. Será esta a melhor maneira de sensibilizar a opinião pública para o imperativo de uma recuperação da Baixa à altura da sua importância histórica e da urgência do seu repovoamento?Francamente, depois do programa de valorização de Lisboa Valis e do elevador do castelo, já nada nos surpreende. Mas pensávamos que os arquitectos e os engenheiros se tinham deixado destas coisas…Talvez a próxima proposta seja a concretização da utópica cúpula geodésica de Buckminster Fuller, mas agora cobrindo Óbidos, tipo campânula transparente a envolver bolo em confeitaria Pompadour.Tudo isto é ilustrativo da confusão que reina em terras lusas no que respeita às definições delimitadoras do que é um arquitecto de restauro e do que é um arquitecto criador. Dos limites impostos pela pertença colectiva do património arquitectónico, como teatro de memória, à síndroma criadora do arquitecto.É preciso dividir as responsabilidades. Uma parte da culpa reside nos arquitectos. Outra parte nas instituições oficiais de defesa do património, exercendo ou não a sua responsabilidade disciplinadora. Uma outra parte no sistema de ensino, onde a consciencialização histórica dos futuros arquitectos não é feita por historiadores de arquitectura (licenciados na perspectiva de Letras e, portanto, não sofrendo da síndroma criadora), mas por arquitectos subjectivamente autodidactas nas áreas históricas. Nos países do Norte da Europa, o ensino da História de Arquitectura é exercido por historiadores (de arquitectura). As outras áreas – projecto, estruturas – por arquitectos, engenheiros. Um arquitecto de restauro é formado exclusivamente com uma especialização nesse sentido, e geralmente só faz restauro. É detentor de um código que aplica com rigor ético.Em Portugal, a XVII Exposição Europeia deixou-nos com um festival de intervenções ambíguas. A Casa dos Bicos foi aumentada, baseando-se correctamente nas fontes iconográficas posteriores à época, mas não sem se ter feito um “abrilhantamento criativo” das janelas, num álibi “patrimonialmente correcto”, mas que esconde atrás do argumento da Carta de Veneza uma síndroma criadora. Isto para não falar da fachada das traseiras, que apresenta a qualidade de uma agência bancária de província, ou do interior, “pioneiro” de simbolismos e dinâmicas protodesconstrutivas. Seguiram-se as irresponsáveis coberturas dos Jerónimos e da Torre de Belém.Para não nos alargarmos, ficaremos por um último exemplo: a própria Casa dos Arquitectos, templo ou cabana primitiva de exemplos e virtudes, emanando referências didácticas. Isto é, a transformação dos Banhos de S. Paulo em sede da ordem. Está bem, não se tratava propriamente das Termas de Caracalla, mas apenas de um modesto – mas raro – exemplo do neoclassicismo em Portugal. O “restauro”, ou recuperação, levou à total destruição do interior do edifício e à total alienação do exterior. E eu que pensava que um f+bpedimentof-b era uma referência de virtudes cívicas e um arquétipo tectónico… afinal é uma moldura para espelhos de barbear. Ou será detentor de um simbolismo mais profundo, dirigido à memória das manipulações científicas e militares de Arquimedes ? Andávamos preocupados pelo misterioso caso da Quinta da Bacalhoa, que, na sua gravidade, só pode ser comparado à destruição de uma parte da Torre de Belém. Mas tranquilizaram-nos pela atitude firme no golfe das Amoreiras. Andávamos preocupados por nos sentimos secundarizados, desconvidados ou mesmo ignorados na Europa. Afinal, podemos consolar-nos com o reconhecimento da nossa criatividade única.Mal acabámos de acordar para o verdadeiro pesadelo, ao reconhecermos que os nossos centros históricos constituem o último reduto de resistência à destruição e ao caos que nos rodeiam, e já estamos a propor uma “Manhattan” de Cacilhas. Ainda não definimos a tal filosofia global, coerente, unificada e rigorosa para a intervenção na Baixa, e já estamos a propor coberturas surrealistas. Perante o desafio do caos urbanístico e das inqualificáveis periferias, verdadeiras “bombas-relógio”, um programa de tertúlias resolveu convidar ilustres participantes.Num rasgo de criatividade, ilustrando uma leviandade pós-moderna própria daqueles que usufruem do dom da graça todos os dias, um dos seus representantes deixou-nos com uma conclusão profunda e uma imagem inspiradora. Referindo-se à superioridade das nossas cidades sobre as “civitas” do Norte da Europa, que estão prisioneiras e sofrem dos horrores da civilização, rematou: “As nossas são mais rascas, mais ordinárias, mais mulatas.” Palavras para quê ? É um artista português.

  • Luís Leite
    Responder

    É preferível manter uma ruína em perigo a construir um edifício projectado por um Pritzker? Tenham juízo. Isto não é a Paris de Hausmann. É uma cidade envelhecida, com milhares de prédios a caírem de podres.

    • Mario Fernandes
      Responder

      Eu até concordo que há um exagero de proteção de cada lojinha arcaica onde já ninguém entra e de casinhas sem qualquer valor arquitetónico, mas neste caso não posso concordar consigo. O projeto proposto para aqui ficaria bem no Parque das Nações, não na Praça das Flores. Já agora, se um Pritzker decidir construir lá umas Amoreiras, será uma boa decisão? E ninguém está a dizer para deixar ficar uma ruína, simplesmente que o edifício seja reabilitado, ou reconstruído com uma arquitetura que mais se enquadre na envolvência.

    • Luís Leite
      Responder

      O que é isso de envolvência? É muito subjectivo quando não existe Plano de Pormenor no local e há imensos edifícios sem qualquer valor arquitectónico (a maioria). E é preciso ter em consideração o mercado. Se não houver interesse do mercado na recuperação de um imóvel, ninguém lhe vai pegar e apodrece. Como tantos nessa zona… Deixemo-nos de lirismos. Nem tudo é para conservar. O importante é que a arquitectura tenha qualidade, tanto em situações paradigmáticas como sintagmáticas. O povo não percebe do assunto, acha que percebe…

      • Catarina de Macedo
        Responder

        O povo não percebe do assunto…mas uma entidade invisível chamada mercado já percebe? Ridículo. É com esse tipo de mentalidade que grande parte da Lisboa histórica desapareceu. E já que está tão preocupado com o mercado, repare que são hoje as zonas consideradas históricas (com esses edifícios que estavam a cair de podre e que agora remodelados estão um mimo) que atraem os turistas. Não vejo muitos turistas pelas Amoreiras, Avenida de Roma, Saldanha, Avenida da República, etc; como os vejo na Mouraria, Alfama, Chiado, Bairro Alto, etc. Porque será?

    • José Lopes
      Responder

      Isso é pura demagogia! Ninguém é contra a reabilitação do edifício, somente contra uma aberração urbanística em prol de um pressuposto projecto de modernidade. Lá por ser um arquitecto premiado não quer dizer que tudo o que projecto é bom e se enquadre com a cidade. Tenha juízo!

    • Hugo R.
      Responder

      Esse raciocínio não colhe. Ninguém estará a favor da manutenção de edifícios degradados, assim como ninguém estará em desacordo com a promoção de edifícios modernos que valorizem a cidade. Esse pensamento é redutor, porque parte do princípio de que todos os males devem ser resolvidos com males menores. Porque não construir um silo automóvel ou depósito de combustível? Sempre é melhor que um prédio degradado.
      O que se defende sim é algo para que os arquitectos, já que até são Pritzker, deveriam ter sensibilidade: a adaptação dos seus projectos a uma perfeita convivência entre os mesmos e a traça arquitectónica típica dos espaços públicos históricos da cidade. Porque é possível encontrarem-se pontos de conciliação entre a arquitectura histórica e a arquitectura moderna, coexistindo as mesmas de modo a que ambas saiam valorizadas, e um arquitecto Pritzker deveria saber fazê-lo ao invés de cair na arrogância de impor os seus projectos a martelo, sem respeito pela envolvência, pelo enquadramento urbano. Um bom arquitecto é aquele que assina projectos que ora se integram no cenário envolvente, ora realçam as qualidades patrimoniais do mesmo, sejam históricas ou paisagísticas. Porque um bom projecto não é aquele que quer viver só por si, mas sim aquele que brilha ao também permitir que o espaço envolvente brilhe e ao fazer com que todas as virtudes, do projecto em si mesmo e do cenário que o circunda, sejam realçadas.
      A cidade não precisa de um projecto feito em moldes de “é para onde? tomem lá este brilhante projecto, é Souto Moura, isso, arquitecto Pritzker, tenham juízo e agradeçam”. A cidade precisa de arquitectos que saibam entendê-la, interpretá-la, e a partir daí sim contribuir para a modernizar respeitando o legado paisagístico da mesma e valorizando as qualidades e a unicidade do mesmo. Lisboa é Lisboa, Porto é Porto, não têm de ser Madrid, Paris, Berlim, Londres, não têm de procurar equiparar-se, têm de procurar diferenciar-se preservando os seus aspectos únicos, nomeadamente ao nível arquitectónico. Como é que este arquitecto respeita o património arquitectónico de cada cidade se, ao que tudo indica, este projecto que agora desenhou para uma praça de Lisboa é idêntico a um outro que já fez para o Porto? As cidades são semelhantes? A sua arquitectura, paisagem urbana, são idênticas? Para que servem os prémios Pritzker se não há sensibilidade para perceber isso e considerá-lo nos projectos a desenvolver?

    • Luis
      Responder

      Ah, não sabia que era um Pritzker (que nome tão impressionante). Sendo assim deite-se abaixo! Era só o que faltava ofender um Pritzker.

  • Miguel Falcón
    Responder

    Morte à arquitectura! Queremos uma disneylândia tradicional, mesmo a cair aos bocados! Pobrezinhos e ignorantes mas muito honrados!

  • Jorge
    Responder

    Vou para lá agora mostrar o meu descontentamento! Estes bairros não podem continuar a ser invadidos por amostras de arquitecta de pacotilha que são projectadas por arquitontos endeusados e insensíveis e aprovadas por executivos corruptíveis e complacentes à mediocridade e à incompetência! Isto é arquitectura de ruptura e nós não estamos em nenhum Cacém nem em nenhum Entroncamento!

  • José
    Responder

    E as marquises???, em todos os predios em todos os lugares??????

  • Manuela Correia
    Responder

    Este projecto é ilegal: vai contra o PDM e não foi aprovado tecnicamente na CML. Foi uma decisão política. E também coloca o interesse dos privados à frente do interesse público.

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