Que Lisboa queremos para o futuro?

CRÓNICA
Carla Salsinha

Presidente da União de Associações do Comércio e Serviços – UACS

VIDA NA CIDADE

Cidade de Lisboa

1 Agosto, 2016


Não querendo falar de futebol, até porque pouco percebo, a grandiosidade do nosso povo está na forma como nos envolvemos com os outros, e os nossos adeptos ao longo de todo este Europeu de Futebol foram exemplo disso mesmo. Talvez um dos momentos altos tenha sido o da criança, luso-descendente, que deixa de celebrar a vitória de Portugal para consolar o adepto da equipa derrotada. E isto é indiscutivelmente a nossa grande marca. Para além da extrema beleza do nosso país, do nosso excelente clima, da extraordinária gastronomia, e das fantásticas praias, é esta nossa maneira secular de ser e a nossa pequena dimensão mas com a preservação da nossa identidade e da nossa cultura que nos tornam únicos.

Lisboa é o exemplo de tal, é uma cidade cuja luz ilumina os nossos corações, cuja extraordinária forma de acolhimento e de receção de todos os que nos visitam é um dos nossos maiores diferenciadores. Os nossos bairros históricos, as nossas ruas estreitas, as nossas lojas de bairro com os nossos produtos, e todas aquelas lojas que são únicas e que atraem os turistas para o seu interior por nos seus países de origem já as terem perdido.

Percorrer a Baixa, Campo de Ourique, o Bairro Alto, todos estes bairros que fervilham de vida, a qual não deriva só do Turismo, mas essencialmente de todos os que nela habitam ou podem voltar a habitar e de todo o comércio que é indiscutivelmente a sustentabilidade de todos estes bairros e da própria cidade.

Mais uma vez, a questão do arrendamento comercial tem de ser retomada e cada vez mais defendida, pois se se continuar com esta enorme especulação imobiliária sobre o arrendamento comercial, e na turistificação das cidades, autorizando que quarteirões inteiros de comércio sejam encerrados para neles se instalarem hotéis, não salvaguardando a existência de comércio nos mesmos, o que penso seria inclusivamente uma mais-valia para essas unidades hoteleiras, os nossos governantes estarão a prestar um mau serviço ao País e às nossas cidades. E, de uma vez por todas, temos de deixar de falar só de lojas históricas pois essas serão salvaguardadas, e o que é feito de todas as outras milhares de lojas espalhadas nas cidades? Serão todas para encerrar?

Aquilo que defendo não é um puro protecionismo, mas sim medidas equilibradas e que permitam a atividade comercial. Ou então, e pegando no exemplo da minha cidade, Lisboa, em 2020, os turistas nacionais e estrangeiros poderão vir ao centro da nossa cidade visitar um número restrito de lojas históricas e os hotéis, poderemos até ser uma pequena Disney mas só de alojamento e dos grandes festivais, ou das feiras e minifeiras que crescem por toda a cidade de uma forma indiferenciada.

Se assim se entender, é só nos informarem para que todos os empresários do comércio iniciem uma nova fase da sua vida, procurar um espaço para um alojamento local, para um hotel ou para um hostel. E por favor, não venham com a questão de que o comércio tem de se modernizar, pois nem mesmo as novas startups do comércio, gente nova empreendedora e com ideias fantásticas conseguem resistir a esta especulação. E pergunto se só existirem hotéis e festivais, se mais nada existir, a cidades serão sustentáveis?

Venham os hotéis, venham os festivais, que o Comércio os recebe de braços abertos, mas olhemos de uma vez por todas para este setor com uma visão estratégica.

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