Edifício municipal vai abaixo para dar lugar à Praça da Mouraria
Aos olhos da câmara, a requalificação da Mouraria passa por tornar mais penetrável a Rua do Benformoso. Com esse objectivo, irá ser demolido um edifício municipal na Rua da Palma. Os inquilinos ainda não foram contactados.
Nenhum dos inquilinos do prédio municipal que a câmara vai demolir na Rua da Palma, para aí desenvolver o projecto da chamada “Praça da Mouraria”, foi até agora contactado pela autarquia quanto à necessidade de terem de abandonar o imóvel.
A demolição deste edifício da Rua da Palma (248 a 264), bem como dos prédios que com ele confinam a norte, na Rua Benformoso 137 a 151, está prevista no plano de requalificação da Mouraria, desenvolvido pela Câmara Municipal de Lisboa. E é explicitamente referida no Estudo Prévio feito para aquela zona e já aprovado em 2012.
A ideia para esta “unidade de execução” – o instrumento de gestão urbanística que a autarquia vai utilizar – é rasgar a Rua do Benformoso, para a tornar mais penetrável e acessível, física e visualmente.
“Através da demolição dos edifícios é criada uma praça que permite o atravessamento pedonal entre a Rua da Palma e a Rua do Benformoso”, afirma o estudo prévio feito a pedido da câmara. Nessa “praça” haverá novos edifícios.
No espaço ganho com as demolições, acrescenta o estudo da CML, “serão construídos três blocos, dois deles perpendiculares aos eixos viários e um terceiro paralelo, por forma a garantir a continuidade da frente urbana da Rua da Palma”.
Nos novos blocos, está prevista “a instalação de actividades que permitam a fruição pública”, entre elas “a instalação de um espaço de culto, uma mesquita”, destinada à população muçulmana residente na Mouraria.
Muitos arrendatários do edifício municipal da Rua da Palma conhecem a ideia e dizem já ter ouvido falar dela há algum tempo, mas todos temem abordar o assunto e frisam que nunca foram oficialmente contactados pela Câmara. Foi isso mesmo que disse ao Corvo um elemento da direcção da Confederação Portuguesa das Colectividades de Cultura, Recreio e Desporto, instituição que ocupa o 250 da Rua da Palma. “Nunca fomos oficialmente contactados a esse respeito”.
Além da Confederação das Colectividades, no edifício municipal funciona também uma garagem e uma loja de roupa, entre outros serviços. Mas qualquer destes inquilinos optou por não prestar declarações.
E até o presidente da junta de freguesia de Santa Justa parece desconhecer o projecto a desenvolver no território que administra. Contactado pelo Corvo, o socialista Manuel Luís Medeiros remeteu-se ao silêncio.
O Corvo tentou saber mais sobre o projecto que está a ser desenvolvido pelo atelier da arquitecta Inês Lobo, a quem solicitou imagens do que irá ser feito na Rua da Palma e na Rua do Benformoso. Mas o atelier não se mostrou disponível para tornar público o projecto, ainda que o estudo prévio aprovado pela câmara circule online.