Terreno de Campolide antes destinado a centro de saúde acolherá silo automóvel

ACTUALIDADE
Samuel Alemão

Texto

URBANISMO

Campolide

8 Fevereiro, 2018

Era para albergar uma extensão do Centro de Saúde de Sete Rios, mas afinal dará lugar a um silo automóvel a explorar pela EMEL (Empresa Municipal de Mobilidade e Estacionamento de Lisboa). Um terreno com 2.427 metros quadrados, situado na Rua General Taborda, em Campolide, deixará de ter o fim a que parecia destinado, há quase uma década, quando a Câmara Municipal de Lisboa (CML) o cedeu ao Ministério da Saúde, para ali construir um equipamento para uso da população da freguesia. Deverá antes ser ocupado por uma construção que dará resposta a outras das grandes necessidades dos residentes: o parqueamento automóvel.

“Não se trata de trocar um centro de saúde por um estacionamento. A unidade de saúde deixou de fazer sentido, com o novo plano para a construção de 14 novos equipamentos, anunciado no ano passado”, diz a O Corvo o presidente da Junta de Freguesia de Campolide, André Couto (PS). O autarca defende que a sua freguesia até “está bem servida” ao novel dos cuidados primários de saúde. Há, contudo, quem discorde, como o PCP, que votou contra a reversão para o município do direito de propriedade daquele terreno. “Continuamos a achar que faz sentido uma extensão de saúde naquela zona, que tem uma população muito envelhecida”, diz o vereador Carlos Moura, residente em Campolide.

A proposta de revogação dos direitos de superfície constituídos a favor da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, sobre duas propriedades municipais – a de Campolide e outra na Rua António Dacosta, na Alta de Lisboa, esta também com o objectivo de ali edificar um equipamento há muito reclamado pela população da actual freguesia de Santa Clara – foi aprovada por toda a vereação, a 21 de dezembro passado, com excepção dos dois votos contra dos vereadores comunistas – PS, PSD, CDS-PP e Bloco de Esquerda votaram a favor da proposta assinada por Manuel Salgado, vereador do Urbanismo. O documento será apreciado ainda este mês pela Assembleia Municipal de Lisboa.

Acto administrativo que acontece quase um ano após a assinatura do protocolo entre a Câmara Municipal de Lisboa e o Ministério da Saúde, para a implementação do Programa “Lisboa, SNS Mais Próximo”, que prevê a construção de 14 novos centros de saúde até 2020. O acordo celebrado, a 14 de março de 2017, no Pavilhão do Conhecimento, entre a autarquia e a administração central prevê um investimento de 30 milhões de euros e visa suprir as necessidades directas de cerca de 305 mil pessoas. Dos 14 novos centros, 11 são para substituir prédios de habitação e três (Telheiras, Parque das Nações e Restelo) são para novas unidades. Alguns terão novas valências, como dentista, raio x e meios complementares de diagnóstico.


O referido programa terá tornado desnecessária a utilização dos dois terrenos que agora regressam à posse do município, alega a CML, determinando “a inutilidade superveniente dos direitos de superfície anteriormente constituídos para as Unidades de Saúde da Alta de Lisboa e de Campolide, cujo fim não foi concretizado”. No caso da primeira, na freguesia de Santa Clara, justifica-se a não utilização do lote de 2.200 metros quadrados com a prevista construção da Unidade de Saúde (US) Alta Lisboa-Norte (freguesia de Santa Clara), um dos 14 novos centros de saúde da capital.

No caso de Campolide, é o próprio presidente da junta de freguesia a garantir que a construção de uma unidade naquela área da cidade “não é necessária”. “O Centro de Saúde de Sete Rios, que serve esta área, é um dos melhores da cidade de Lisboa e serve perfeitamente as nossas necessidades”, assegura André Couto, salientando ainda o facto de essa unidade “estar no coração da freguesia” e “ser bem servida de transportes”. O autarca tem, por isso, a convicção de que o Centro de Saúde de Sete Rios “dá uma resposta adequada às necessidades dos residentes”. Ao contrário de outros, este presidente de junta diz não ter razões de queixa em relação à oferta de cuidados de saúde.

“Não há essa necessidade de criação de uma nova unidade. Para esta comunidade, o que existe serve perfeitamente. O Centro de Saúde de Sete Rios ainda consegue dar uma resposta adequada às necessidades da freguesia, oferecendo um serviço de reconhecida qualidade”, assegura André Couto, salientando que a circunscrição administrativa por si liderada “viu a sua população descer de cerca de cerca 30 mil habitantes para 15 mil,  quando houve necessidade de se fazer demolições para construir o Eixo Norte-Sul”. Por isso, o autarca vê com naturalidade que se abandone o plano que parecia fazer sentido até há bem poucos anos. E garante que a construção de um silo no terreno acaba por ser um desfecho natural para uma parcela de terreno que, afinal, até já cumpre tais funções. A diferença é que o espaço será melhor aproveitado com a edificação de um parqueamento em altura, no caso explorado pela EMEL.

Uma visão muito diferente da do PCP, que continua a reivindicar a criação da extensão de saúde na freguesia. “Faz todo o sentido construí-la porque o Centro de Saúde de Sete Rios acaba por ficar bastante longe para algumas zonas da freguesia, que tem uma dimensão considerável e situações muito díspares. Em algumas áreas do Bairro da Serafina e, sobretudo, na Bela Flor, os transportes públicos não garantem um acesso fácil a Sete Rios”, afirma o vereador Carlos Moura, residente em Campolide. O eleito comunista diz mesmo que os residentes da Bela Flor têm de apanhar dois autocarros para conseguirem chegar ao médico do Sistema Nacional de Saúde (SNS) da sua área. E rebate as supostas garantias de assistência a toda a população, dadas pelo presidente da junta. “Se esse argumento fosse válido, não se tinha avançado para esta solução em 2009”, critica.

Carlos Moura nota ainda que outra das razoes que justificavam a necessidade de construção da extensão de saúde naquele área da cidade estava relacionada com a da criação de uma unidade de cuidados continuados de saúde, que lhe estaria associada. “A população da freguesia está a envelhecer, o problema mantém-se. As pessoas continuam a precisar de uma unidade de cuidados continuados de saúde e não sabem onde vão ser assistidas”, critica. 

MAIS
ACTUALIDADE

COMENTÁRIOS

Comentários
  • Ana GONÇALVES
    Responder

    A saúde do povo, que paga impostos para o efeito, interessa lá a alguém que só pense em dinheiro? Triste país, triste sistema de saúde. Triste povo que só se manifesta aquando da defesa dos animais, sendo estes irracionais.

Deixe um comentário.

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.

O Corvo nasce da constatação de que cada vez se produz menos noticiário local. A crise da imprensa tem a ver com esse afastamento dos media relativamente às questões da cidadania quotidiana.

O Corvo pratica jornalismo independente e desvinculado de interesses particulares, sejam eles políticos, religiosos, comerciais ou de qualquer outro género.

Em paralelo, se as tecnologias cada vez mais o permitem, cada vez menos os cidadãos são chamados a pronunciar-se e a intervir na resolução dos problemas que enfrentam.

Gostaríamos de contar com a participação, o apoio e a crítica dos lisboetas que não se sentem indiferentes ao destino da sua cidade.

Samuel Alemão
s.alemao@ocorvo.pt
Director editorial e redacção

Daniel Toledo Monsonís
d.toledo@ocorvo.pt
Director executivo

Sofia Cristino
Redacção

Mário Cameira
Infografías 

Paula Ferreira
Fotografía

Margarita Cardoso de Meneses
Dep. comercial e produção

Catarina Lente
Dep. gráfico & website

Lucas Muller
Redes e análises

ERC: 126586
(Entidade Reguladora Para a Comunicação Social)

O Corvinho do Sítio de Lisboa, Lda
NIF: 514555475
Rua do Loreto, 13, 1º Dto. Lisboa
infocorvo@gmail.com

Fala conosco!

Faça aqui a sua pesquisa

Social Media Auto Publish Powered By : XYZScripts.com

Send this to a friend