Anunciada como “histórica”, reabilitação da Estação de Sul e Sueste continua por fazer

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Samuel Alemão

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URBANISMO

Santa Maria Maior

20 Outubro, 2017


As obras de reabilitação da Estação de Sul e Sueste, junto ao Cais das Colunas, no Terreiro do Paço, e sua transformação no novo Terminal de Atividade Marítimo-Turística de Lisboa deveriam estar terminadas no final deste ano, mas ainda nem sequer se sabe quando começarão. O anúncio do projecto, que custará sete milhões de euros a suportar pela Associação de Turismo de Lisboa (ATL), foi descrito como “um momento histórico de devolução do rio à cidade”, por Fernando Medina, em 7 de setembro de 2016. Afirmação feita aquando da cerimónia de assinatura do protocolo de cedência pelo Estado à Câmara Municipal de Lisboa (CML) do edifício projetado em 1929 pelo arquiteto Cottinelli Telmo e inaugurado em 1932. Passou mais de um ano, nada aconteceu e nem a câmara nem a ATL, sua participada, se mostram disponíveis para explicar as razões do atraso.

O edifício da antiga estação, que durante décadas serviu de ligação à estação de caminhos-de-ferro do Barreiro, a partir da qual se asseguravam as ligações ferroviárias ao sul do país, encontra-se em estado de avançada degradação. Desafecta à sua função primordial desde que, em 2011, foi inaugurado mesmo ao lado o novo terminal de barcos, a infra-estrutura classificada no ano seguinte como Monumento de Interesse Público passou por um impasse de cinco anos sobre o seu destino, até à assinatura do protocolo de cedência entre administração central e autarquia. Em julho de 2015, a arquitecta Ana Costa, neta de Cottinelli Telmo, dava conta a O Corvo da sua apreensão pelo avançar da decadência do imóvel, consequência do arrastar de tal indefinição. “A estação corre risco de ruína” caso não fosse levado por diante um projecto de contenção, alertou, na altura.

A projectista e familiar de Cottinelli havia sido encarregue, já em 2003, pelo Metropolitano de Lisboa, de desenhar o interface, que previa a construção da nova estação fluvial, aquela que foi inaugurada em 2011, e a reabilitação da antiga. Esta última obra fora, entretanto, abandonada, apesar de o projecto ter já levado ao gasto de quase um milhão de euros de fundos públicos, parte dos quais comunitários. Mas, há dois anos, Ana Costa estava longe de estar conformada com o que parecia ser o irremediável desleixo a que haviam votado o edifício. E dizia que o imóvel desenhado pelo avô “poderia ser usado como cais de embarque dos barcos turísticos”. “Há uma ideia de reabilitar aquela frente para o transporte turístico e poder-se-ia executar o projecto nesse âmbito”, dizia. Até porque tal hipótese seduziria quer a CML quer a ATL, há já três anos. Algo que se veio a confirmar com o anúncio, em setembro do ano passado, do projecto do Terminal de Atividade Marítimo-Turística de Lisboa. E Ana Costa foi mesmo a arquitecta escolhida para o concretizar.

Anunciada como “histórica”, reabilitação da Estação de Sul e Sueste continua por fazer

De acordo com o que foi revelado no ano passado, as obras do novo “pólo de animação que funcionará como centro de atividade marítimo-turística” preveem a manutenção das características essenciais do traço de Cottinelli Telmo. Mas também de muita da sua decoração inicial, incluindo os conhecidos painéis de azulejos alusivos a algumas das principais povoações do Sul a que era possível aceder a partir dali. A primeira fase dos trabalhos, foi anunciado em setembro de 2016, passava sobretudo pela consolidação estrutural do edifício, que se encontra escorado por vigas de aço no interior. De acordo com o avançado na altura pelo presidente da ATL, Vítor Costa, estaria a ser estudada a criação de dois restaurantes e uma loja de recordações turísticas no interior. O espaço exterior poderia vir ainda a acolher esplanadas, após ser também requalificado no âmbito deste projeto, visto como essencial para fechar a reabilitação do Cais das Colunas e do espaço público adjacente.

Algo que, aliás, funcionaria como a derradeira etapa do impulso regenerador da zona ribeirinha central de Lisboa – e que complementaria as obras, então ainda em curso no Cais do Sodré, no Largo do Corpo Santo e do Terminal de Cruzeiros de Santa Apolónia. “Apesar dos vários projetos urbanísticos em marcha, havia aqui uma mancha, uma ferida, uma espécie de nódoa” de uma área que “estava subtraída à cidade e foi agora devolvida”, disse Fernando Medina durante a cerimónia de apresentação do novo terminal a criar junto ao Cais das Colunas, tendo ainda qualificado o projecto como a “última peça” no ambicioso processo de regeneração da frente ribeirinha entre Cais do Sodré e Santa Apolónia. Mas, passado mais de um ano, as intenções não passaram disso mesmo, apesar de o final de 2017 ter sido apontado como o momento em que tudo estaria pronto.

Contactada a Câmara Municipal de Lisboa, esta remeteu qualquer esclarecimento sobre o assunto para a ATL. Contactada esta entidade – “Qual a razão dos atrasos verificados?” e “Quando se prevê que o projecto esteja concluído?” eram as perguntas -, a resposta foi a de que, “de momento”, não há comentários a fazer. No passado dia 11 de julho, questionado sobre o assunto por um deputado municipal do PSD, durante uma sessão da Assembleia Municipal de Lisboa, Fernando Medina prometeu que ia pedir “um ponto de situação” à ATL. Mas assegurava que, do que sabia naquele momento, ainda nem sequer havia sido lançado o concurso para a adjudicação da obra.

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