Monumentos de Lisboa que passam incógnitos à maioria

REPORTAGEM
Paula Ferreira

Texto & Fotografia

CULTURA

Cidade de Lisboa

30 Março, 2018

“Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara.”
José Saramago

Um Padrão que é um Monumento Nacional, um compositor polaco na Avenida da Liberdade, o busto de Madalena, os corvos no Eixo Central no cruzamento com a Avenida Álvaro Cunhal, cadeiras para o Teatro, o retrato do Arquitecto no muro do estacionamento, uma obra no jardim, a calçada que é uma obra, uma declaração no chão, a bola que não é do Benfica, um homem alto e muito pesado, um líder baixo e magro, as torres gémeas à nossa escala e uma lambreta que é um monumento. Estes são alguns exemplos de arte pública que existem em Lisboa, mas que passam despercebidos à maioria das pessoas. O Corvo conta aqui a estória de uma dezena e meia deles. É ver para crer.

VESPA

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Este monumento, uma Vespa GS em bronze, oferecida pela Piaggio Portugal e pela CML para assinalar os 50 anos do Vespa Clube de Lisboa, foi inaugurado em Agosto de 2004, por altura do Encontro Mundial de Vespas -, ao mesmo tempo que decorria o Euro de futebol. Esta obra encontra-se em frente ao nº 63 da Avenida Infante Santo, onde O Vespa Clube de Lisboa, fundado em 1954, funcionou até 2015. Actualmente, o clube tem nova morada na Junqueira, junto a Belém.

CHOPIN

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A Avenida da Liberdade foi construída nos finais do século XIX, à semelhança dos Boulevards à francesa. Faz a ligação entre a Baixa e o Parque Eduardo VII, que, por sua vez, se estende até Monsanto, constituindo deste modo o Corredor Verde de Lisboa. Da estatuária da avenida constam: bustos e estátuas de personalidades nacionais do século XIX, ligadas às letras; estátuas, cascatas e lagos numa alegoria aos Rios Tejo e Douro — resto da estatuária inicial do “Passeio Público” -; o grande Monumento aos Soldados Mortos na I Guerra, a estátua de Bolívar (homenagem da comunidade portuguesa na Venezuela e da CML); uma escultura de ferro da autoria de Rui Chafes, mas também o busto de Fryderyk Franciszek Szopen (1810-1849), nome em polaco de Frédéric François Chopin, compositor e pianista da era romântica de origem polaca radicado em França desde os 20 anos. Este monumento foi inaugurado em 2012, pelo então presidente da Polónia, Brosniraw Konorowski, e pelo presidente da CML António Costa.

HOMEM SUCATA

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Santa Maria dos Olivais inclui-se na zona oriental da cidade, organizando-se em quatro  grandes zonas — Bairro da Encarnação, o Centro Histórico ( Olivais Velho) e os bairros de Olivais Norte e Olivais Sul. Esta peça, feita em sucata de aço e ferro, pesa três toneladas e mede mais de cinco metros de altura e pretende ser uma alegoria à Reconstrução do Homem. Da autoria de Lúcio Bittencourt, foi inaugurada em Novembro de 1993, numa iniciativa do Pelouro da Cultura da CML e localiza-se na confluência da Avenida De Berlim com a Avenida Francisco Luis Gomes, na fronteira entre os Olivais Sul e as outras três regiões daquela que é a segunda maior freguesia de Lisboa.

11 DE SETEMBRO

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No cruzamento da Avenida de Roma com a Avenida dos Estados Unidos da América, existe um conjunto arquitectónico constituído por quatro blocos habitacionais, ex-líbris da “cidade moderna” que emerge no final dos anos 50, com as primeiras construções em altura. Num dos cantos desta praça, junto ao nº 105, ergue-se um monumento de homenagem às vítimas dos atentados do 11 de Setembro de 2001, da autoria do escultor Augusto Cid. A escultura em metal, patrocinada pela CML e oferecida pelo autor, foi inaugurada um mês após a tragédia e recria os destroços do World Trade Centre.

MADALENA IGLÉSIAS

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Benfica começou por ser uma aldeia de camponeses da região saloia. Na década de 50 do século passado, Lisboa começou a estender-se rapidamente, o que se reflectiu na crescente urbanização da freguesia que actualmente pertence à Zona Norte da capital. Existem várias versões sobre a origem do nome, sendo uma delas a de Adalberto Alves, que defende que vem da expressão árabe ben fiqua (filho de mulher alta). O busto da vedeta do nacional-cançonetismo – que inundava as revistas, as rádios, os jornais e a televisão dos anos 60– foi colocado na freguesia de Benfica, na Alameda Padre Álvaro Proença, onde sempre viveu, quando estava em Portugal, e onde mantinha residência até à data do seu falecimento. A artista foi homenageada pela CML, em Outubro de 2012, com a inauguração da escultura de Domingos Oliveira, seu grande admirador.

BOLA DE FUTEBOL

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Este monumento fica na Estrada dos Arneiros e foi mandado construir em homenagem aos feitos desportivos do Clube de Futebol de Benfica, em representação da freguesia. Foi inaugurado em Abril de 2008, pela presidente da Junta de Benfica e pelo presidente do Clube de Futebol de Benfica. O “Fófó”, como é conhecido, é uma associação desportiva (que não tem qualquer ligação com o Sport Lisboa e Benfica) cuja existência remonta a 1895 e que conta com vários títulos a nível nacional em diversas modalidades. O Estádio Francisco Lázaro, nome dado em homenagem ao atleta que morreu nos Jogos Olímpicos de 1912, em Estocolmo, durante a prova da maratona, fica no bairro de Santa Cruz de Benfica.

ROTUNDA DOS CORVOS NA ALTA DE LISBOA

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A bandeira municipal do Concelho de Lisboa, tal como a conhecemos, tem origens antigas. De realçar, desde logo, a côr. Para uma cidade associada à luz, o negro apela para os seus recantos, as ruas estreitas, a noite. Ou para o luto nela representado pelos dois corvos poisados na proa e na popa do barco a acompanhar os restos mortais de São Vicente.


Na Rotunda Coronel Vítor Alves, ou Rotunda dos Corvos, no novo Eixo Central deste megabairro da Alta de Lisboa, no Lumiar, podem ver-se dois projectos de arte urbana iniciados em 2013—a pintura do mural, inspirado na lenda dos corvos de São Vicente, que esteve a cargo de Rui Alexandre Ferreira (“RAF”) e Sofia Esteves (“SOF”), e o conjunto escultórico ao centro, representando vários corvos em chapa de ferro, num projecto de equipa da Agência / Atelier 004— inaugurados em Maio do ano passado pelo presidente da CML.

CADEIRAS PARA TEATRO, EM CARNIDE

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A zona de Carnide, onde a aristocracia se misturava com as camadas sociais mais desfavorecidas, só foi integrada no perímetro urbano do Concelho de Lisboa em 1885. No século XX, o êxodo rural deixou ao abandono muitas quintas. Aquando da reorganização administrativa da cidade, a freguesia foi uma das mantidas, sofrendo pequenos ajustes nos limites com as freguesias vizinhas.

Actualmente, o edifício sede  da Junta de Freguesia de Carnide fica no antigo Palácio do século XVIII, doado à freguesia, em 1979, pelo Conde de Carnide, no Largo das Pimenteiras, na antiga Quinta da Luz, onde também hoje funciona o espaço Bento Martins, com programação de exposições,  espectáculos e outros eventos culturais.

“A cadeira” é o símbolo das sucessivas homenagens prestadas a personalidades das artes do palco, que se realizam há 11 anos no Jardim das Pimenteiras, durante o mês de Março, por altura do Dia Mundial do Teatro. A ideia original partiu do recém-falecido actor João Ricardo e  baseia-se em chamar um artista plástico a idealizar uma cadeira para determinado actor ou actriz.

CALÇADA NO PARQUE DAS NAÇÕES

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Desenhar a cidade com o pretexto de uma Exposição Mundial foi o grande desafio da Expo 98, “a cidade efémera”, que pretendeu definir um projecto urbano para a frente ribeirinha oriental da cidade de Lisboa. Para a Porta-Sul de entrada na Expo 98, estava projectada uma praça atravessada por uma avenida e que incluía um restaurante na antiga torre de queima, hoje denominada Torre Galp, cujo acesso está vedado ao público. Foi a pensar na vista do alto que Pedro Calapez idealizou e realizou o desenho para a calçada portuguesa (1998, sem título). Citando o artista: “sendo esse processo construtivo memória da cidade dos seus passeios e praças”.

GANDHI

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Mohandas Karamchand Gandhi ( 1869-1948), conhecido por Mahatma Gandhi, líder pacifista da Índia, tem dois monumentos em Lisboa. Em Telheiras, junto ao templo da Comunidade Hindu de Portugal e no Restelo, na confluência da Avenida do Restelo com a Avenida Vasco da Gama, nas proximidades com a Embaixada da Índia. A estátua de bronze assenta numa base de pedra e foi inaugurada em 1998, pelo Presidente da República Indiana, K.R. Narayanan, que a ofereceu à cidade na presença do então presidente da CML, João Soares.

HERMAN CONINCK

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Herman de Coninck (1944-1997) nasceu na Bélgica e morreu em Lisboa. Era poeta, um dos mais importantes flamengos do pós-guerra, ensaísta, jornalista e professor na universidade. Ocupação que abandonou em 1970, para se tornar editor da revista HUMO, até 1983. Numa das suas deslocações ao estrangeiro para participar num colóquio literário, desta vez em Lisboa, Herman Coninck sofreu um colapso e caíu inanimado, no dia 22 de Maio de 1997, no passeio da Rua Marquês de Sá da Bandeira, nas Avenidas Novas, junto à Gulbenkian. Um ano após a sua morte, a viúva mandou gravar no chão da calçada um desenho e uma inscrição onde se lê: “Conto de Fadas — era uma vez um homem que era sempre justo”.

TRÊS PATAMARES NO JARDIM GULBENKIAN

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A peça, comemorativa do centenário do nascimento de José de Azeredo Perdigão (1896-1993), primeiro presidente da Fundação Calouste Gulbenkian, inaugurada em 1996, é uma construção abstracta aberta em três patamares, executada em betão, da autoria do artista plástico Pedro Cabrita Reis, que está na frente do Jardim Gulbenkian—uma referência para a arquitectura paisagista portuguesa – virada à Avenida de Berna.

ANFITEATRO CGD

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O Jardim Auditório ao ar livre, construído em terreno propriedade da Caixa Geral de Depósitos, foi cedido à cidade como espaço público de cultura e lazer. Inaugurado em Julho de 1995, é composto por um palco com o fundo circular, enquadrado por doze cavaleiros em folha metálica da autoria de Luis Pinto Coelho e ciprestes.

Para ali foi transferido, desde essa data, e embutido na parede do anfiteatro o Padrão, considerado Monumento Nacional, que alude à intervenção da rainha D. Isabel, adorada por plebeus e nobres, na disputa entre seu marido, o rei D. Dinis, e o seu filho e príncipe herdeiro, D. Afonso, ficando o episódio conhecido como “As Pazes de Alvalade”. A Rainha Santa acudira a tempo e a batalha não chegou a acontecer.

MURAL NO PARQUE DE ESTACIONAMENTO DE ALVALADE

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Com a mudança de gestão do parque de estacionamento do Mercado de Alvalade, antes detida pela Junta de Freguesia, actualmente gerido pela EMEL— empresa municipal —, vieram as obras, a reorganização dos espaços de estacionamento, a construção de canteiros e separadores das zonas para cargas e descargas. O parque, inaugurado no dia 30 de Janeiro de 2017, tem na entrada Norte um mural em homenagem a Nuno Teotónio Pereira (1922-2016), um dos arquitectos pioneiros na área da habitação social da segunda metade do século XX, e que residia no Bairro de Alvalade

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