Taxistas de Lisboa com cartão para não urinarem na rua
A saúde pública, o conforto e, sobretudo, a imagem de uma classe por um cartão de plástico. Os taxistas de Lisboa deverão contar, em breve, com um documento que lhes dará acesso gratuito a uma rede de instalações sanitárias públicas espalhadas pela cidade. A iniciativa, que está a ser preparada em conjunto pela Câmara Municipal de Lisboa e as duas entidades mais representativas do sector, a Associação Nacional dos Transportadores Rodoviários em Automóveis Ligeiros (ANTRAL) e Federação Portuguesa do Táxi (FPT), deverá ser anunciada em breve. Será a forma encontrada para acabar com a recorrente cena de taxistas a urinarem na via pública. E, por conseguinte, eliminar também os maus cheiros e a insalubridade daí resultantes.
Prevê-se que o cartão, cujo uso deverá ser também estendido aos motoristas de autocarros da Carris e de outras transportadoras rodoviárias de passageiros que servem a cidade, seja dotado com uma banda magnética, como os do multibanco, permitindo aos seus usuários abrir as portas das instalações sanitárias já existentes em diversos locais. Além dessas, algumas novas poderão ser colocadas em vários pontos pelas empresas de mobiliário urbano que equipam a cidade. No essencial, e para que os condutores profissionais possam utilizar de forma universal as casas de banho públicas, a operação vai obrigar à substituição dos actuais sistemas de abertura das portas dos equipamentos já existentes por outros dotados com um leitor de cartões magnéticos.
Cada táxi terá direito a um cartão, que será utilizado pelo condutor que estiver de serviço. O taxista que conduzir a mesma viatura, no turno seguinte, receberá o cartão do seu colega que a utilizou antes de si. Ou seja, a utilização do cartão será pessoal, mas transmissível. A emissão do documento inicial é gratuita. Depois, será só passar o cartão e entrar nos lavabos públicos. Acaba-se assim com a necessidade de colocar moedas. Ou de pedir aos donos dos cafés e dos restaurantes para dar um jeitinho e deixarem fazer as necessidades fisiológicas nas casas de banho dos seus estabelecimentos. Terminam também as justificações para, em casos de extrema necessidade, os taxistas se aliviarem na via pública – se é que elas, por alguma perspectiva, são aceitáveis.
Uma prática que, admite Américo de Azevedo, delegado distrital de Lisboa da Federação Portuguesa do Táxi, “também estava a contribuir para uma certa má imagem do sector”. Mas o responsável associativo, que tem em mãos este processo, considera que não se podem imputar apenas aos taxistas as responsabilidades pelo cenário pouco edificante de eles utilizarem as paredes e recantos para urinar. “A estrutura tem que estar montada para que isto não aconteça”, afirma. “Os donos dos cafés, muitas vezes, não deixam os motoristas utilizarem as instalações sanitárias, sem fazerem consumo”, argumenta.
Uma situação que muitos taxistas até percebem. “Você já viu, se fosse dono de um café, o que seria ter de abrir a sua casa de banho de forma gratuita a toda a gente que ali aparecesse, sem consumir?”, questiona José Silva, 45 anos, a conduzir táxis há 11. Ele diz ao Corvo que, sempre que necessário, vai a um desses estabelecimentos ou aos lavabos públicos mais próximos. Como os do Hospital Dona Estefânia, onde, este fim-de-semana, estava à espera de clientes, à entrada. Este é um local em que existem sempre táxis e onde o cheiro a urina é também uma constante nas imediações. Muito por culpa dos profissionais do volante, por diversas vezes vistos no acto. “Faço sempre em casas de banho. Dos outros não sei, falo apenas por mim. Mas também lhe digo que essa má-fama tem muito de questionável, sobretudo desde que, no outro dia, vi um polícia a urinar contra uma parede”, diz.
Mas José Silva acha muito bem que se instalem novas casas de banho e se franqueie o acesso dos taxistas às existentes, claro. O mesmo pensa o colega José Lança, 65 anos de idade e “muitos” de praça. “É mais que necessário”, considera, mas avisa que “é preciso colocá-las junto das praças de táxi”. Este taxista diz, contudo, que esta medida “será fundamental para os que têm uma atitude cívica normal. Para os outros, aqueles que fazem em qualquer lado, tantos lhes faz. Vão continuar a fazer onde lhes apetece”.