Fotografia de Joaquim Mendes

O cálido desassossego do Jazz em Agosto

DICAS
César Avó

Texto

CULTURA

Avenidas Novas

2 Agosto, 2016


Tem nome firmado e história já longa. Inicia na quinta-feira (4 de agosto) a 33ª edição do Jazz em Agosto, um marco da cidade de Lisboa e daquele género musical. Ano após ano, no entanto, não é raro ver espectadores abandonarem o anfiteatro ao ar livre da Fundação Calouste Gulbenkian a meio das actuações, como se tivessem comprado bilhetes para o Cool Jazz Fest e, no lugar de uma soporífera pianista, surgisse de surpresa um hiperventilado grupo de improvisação.

É duplamente estranho porque, além da longevidade e da notoriedade do festival, a programação de Rui Neves mantém um critério e uma coerência que permitem ouvir alguns dos mais estimulantes sons do universo jazz, seja da vanguarda, seja num tom mais clássico, mas sempre com o intuito de aquecer a alma e de agitar as águas. Até dia 14, há igual número de concertos, com agrupamentos dos Estados Unidos, de França, do centro-norte europeu e de duas alianças portuguesas, numa viagem sonora com paragens no funk, no rock e no incatalogável.

O tiro de partida é dado no dia 4 com um duplo regresso. O guitarrista norte-americano Mark Ribot está de volta ao festival com The Young Philadelphians, grupo que se apresentou há 11 anos no Festival Músicas do Mundo, em Sines. Agora com Chris Cochrane a fazer parelha na guitarra, Ribot revisita a Filadélfia dos anos 70 e, de permeio, homenageia Ornette Coleman. A acompanhar o quarteto de guitarras, bateria e baixo há um trio de cordas local. Neste caso, o Lisbon String Trio é composto por Teresa Fleming (viola), João Andrade (violino) e Nelson Ferreira (violoncelo), músicos que se notabilizaram ao serviço da Orquestra Gulbenkian.

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Fotografia de Barbara Rigon

Se o início do festival será eléctrico, que dizer do concerto de encerramento (14 de agosto), a cargo do baterista e percussionista Paal Nilssen-Love? O norueguês traz o Large Unit, agrupamento composto por 13 elementos: meia-dúzia de metais, baterias, baixos, contrabaixos e percussões em duplicado e não menos talento para uma despedida que se prevê em grande.

Pelo meio, o ritmo não abrandará muito. Para quem procura abordagens mais na fronteira com o rock (e o punk), há, no sábado, 6 de agosto, Pulverize the Sound, trio norte-americano composto pelo trompetista Peter Evans, pelo baterista Mike Pride e pelo baixista Tim Dahl; este último faz parte de outro trio, Unnatural Ways, da guitarrista Ava Mendoza, que se apresenta na quinta-feira, 11.

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Fotografia de Márcia Lessa

Destaque ainda para duas propostas oriundas de França, mas de natureza bem diversa. Da pianista francesa Eve Risser apresenta-se o decateto White Desert Orchestra (domingo, 7), ou o virtuosismo aplicado ao colectivo; e, duas noites depois, há Petite Moutarde, quarteto que se aplica a fazer banda sonora do surrealismo de filmes de Man Ray, René Clair e Marcel Duchamp. Um concerto pelas mãos (e cabeça) do violinista revelação Théo Ceccaldi.

Como há mais, muito mais, no cálido desassossego do Jazz em Agosto, aconselha-se uma imersão em gulbenkian.pt/musica/jazzemagosto. Para não haver espectadores a sair, entre o choque e o espanto, de algum concerto.

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