Prédio na Rua dos Anjos demolido 18 anos depois da derrocada
Na Rua dos Anjos, via-se até há pouco tempo um belo mural pintado por Odeith, que ajudava a disfarçar o estado do prédio número 10, em ruína há já 18 anos e cuja derrocada parcial provocara um morto. Esta semana, as máquinas trabalhavam com afinco, recolhendo entulho e, de acordo com um técnico presente, a demolição do número 10, que está a ser executada coercivamente pela Câmara Municipal de Lisboa, deverá terminar nos próximos dias.
Carlos Rocha, proprietário do edifício contíguo, o número 8, vê com bons olhos o final destes trabalhos.“Não se esperava é que tardassem tanto a decidir demolir o prédio, porque ele estava desabitado desde a derrocada, que foi já há mais de 15 anos”, contou o dono do bar Ferro Velho, situado no rés-do-chão do prédio ao lado do que está a ser deitado abaixo.
O empresário lembra-se ainda do dia em que o desastre aconteceu, quando uma parte do número 10 começou a cair. “Quando aqui cheguei, já vi só uma nuvem de fumo. Era hora de almoço e a sorte foi que o restaurante que existia na esquina, na zona que veio abaixo, estava fechado para folga. Se fosse noutro dia, tinha morrido muita gente, porque era uma tasca onde se comia muito bem e estava sempre cheia”, contou ao Corvo.
Mas a ruína parcial do prédio acabou por atingir mortalmente um homem. Dormia dentro de um carro abandonado na zona onde caíram os destroços, no troço inferior da Rua dos Anjos. Desde então, o prédio ficou desabitado: “As pessoas que lá moravam ainda vieram buscar as suas coisas, mas já ninguém pôde voltar a habitar ali. Não havia condições”, contou Carlos Rocha.
O proprietário daquele imóvel era “uma pessoa já com bastante idade e que morreu tempos depois. Os herdeiros nunca mandaram demolir o edifício e acabou por ser a câmara a fazer a obra. Aproveitaram o facto de estar a rua interrompida com as obras de repavimentação, que começaram no início do ano e avançaram com a demolição”, disse o dono do Ferro Velho.
Agora, a obra coerciva em curso terá de assegurar que os edifícios contíguos não caem. “Isto porque nesta construção, que segundo o cadastro é já de finais do século XIX, há dois arcos ligando os prédios. Dá a ideia de que, na altura, terão construído estes prédios sobre restos de construções mais antigas”, comentou com o Corvo o dono do Ferro Velho. O prédio de que Carlos Rocha é proprietário está ligado ao número 10, através de uma parede que se manterá e cuja contenção terá de ser feita – como explicou ao Corvo um dos técnicos envolvidos na obra.