Localização atrasa novo memorial de Lisboa às vítimas da Guerra Colonial

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Sérgio Gouveia

Texto

Paula Ferreira

Fotografias

VIDA NA CIDADE

Belém

15 Março, 2017


Está quase a fazer sete anos que a Câmara Municipal de Lisboa (CML) decidiu “concretizar” um memorial de homenagem às vítimas das “Guerras Coloniais”. A iniciativa do ex-vereador comunista Ruben de Carvalho foi aprovada por maioria, com 16 votos a favor e uma abstenção (CDS-PP), em Maio de 2010. Mas continua à espera de ser levada à prática. Em Belém, recorde-se, já existe um Monumento aos Combatentes do Ultramar, junto ao Forte do Bom Sucesso, no qual se ostenta lápides com o nome daqueles que morreram por Portugal.

Os vereadores do PCP lembram o atraso na concretização da deliberação, num requerimento sobre o assunto, que fizeram chegar, no passado mês de Fevereiro, ao presidente do município lisboeta, Fernando Medina. “Nunca se procedeu à concretização” da deliberação camarária, constatam João Ferreira e Carlos Moura, explicando que “receberam” tal “informação” durante uma reunião com a Associação dos Deficientes das Forças Armadas (ADFA). O documento que assinam visa obter uma “previsão” da autarquia para a consumação do memorial.

“A CML já nos ouviu”, faz saber, por outro lado, o presidente da ADFA, José Arruda. A “auscultação”, prevista na própria deliberação, ocorreu “há dois ou três anos”, estima o dirigente associativo. Em declarações a O Corvo, adianta que, nessa altura, a autarquia sugeriu a colocação do memorial em Belém, numa zona perto do cais onde se faz a ligação fluvial para a Trafaria.

A ADFA não está de acordo com a localização e prefere que a homenagem seja feita no Cais da Rocha Conde de Óbidos, em Alcântara. Tudo por causa do seu significado. A decisão da CML, aliás, aponta igualmente para o mesmo local, bem como a proposta subscrita pelo ex-vereador comunista Ruben Carvalho, que lhe deu origem. “Indicar para este memorial um dos locais mais simbólicos das partidas dos barcos com as tropas”, pode ler-se logo no texto inicial proposto pelo antigo autarca. Ele acabaria por ser aprovado pela Câmara e incluía uma referência expressa ao Cais da Rocha Conde de Óbidos, indo ao encontro das pretensões da ADFA.

Localização atrasa novo memorial de Lisboa às vítimas da Guerra Colonial

Túmulo junto ao Monumento aos Combatentes do Ultramar, em Belém.

Além da simbologia relacionada com o embarque dos militares, José Arruda lembra ainda que era à zona de Alcântara que, “pela calada da noite, chegavam os caixões com os mortos” da Guerra do Ultramar. A proximidade à Ponte 25 de Abril, data que marca o fim da Guerra Colonial, é outro aspecto salientado, ao nível da simbologia, pela ADFA.

A localização desejada para deixar a “marca” das vítimas implica, contudo, abrir uma frente de conversações com a Administração do Porto de Lisboa. Os contactos já “foram iniciados”, garante José Arruda, que diz contar com a “disponibilidade da CML para fazer a ponte” com aquela entidade. O representante dos deficientes das Forças Armadas aproveita, entretanto, para destacar o “apoio total” da autarquia à corrida de atletismo que, a 21 de Setembro, assinala o Dia Internacional da Paz.

“Estão em causa traumas psicológicos e deficiências físicas que retiraram qualidade de vida pessoal e profissional aos cidadãos afectados”, considera a CML ao sustentar a necessidade de erigir um novo memorial. A pretendida homenagem às vítimas das “Guerras Coloniais” – calcula-se que sejam na casa dos “milhares” – é, por isso, segundo a mesma deliberação, uma forma de “reconhecer o direito à reparação moral que assiste aos deficientes das Forças Armadas”. A cidade de Lisboa, acrescenta a autarquia, “deve colocar-se na linha da frente dessa reparação moral”.

Na deliberação da CML consta ainda o compromisso de “convidar um artista de renome nacional para concretizar e fixar” o memorial de homenagem.

Na tentativa de obter mais informação sobre o processo, que se vai arrastando no tempo, O Corvo contactou a CML. Até ao momento, contudo, não recebeu qualquer esclarecimento por parte do município.

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COMENTÁRIOS

  • Dirk
    Responder

    A água em frente no Monumento sos Combatantes do Ultramar deve ser enchido com a tintura vermelha para significar o sangue do caído.

  • Dirk Scott
    Responder

    A água em frente no Monumento dos Combatantes do Ultramar deve ser enchido com a tintura vermelha para significar o sangue do caído.

  • Paulo Branco
    Responder

    Este Memorial do combatente ao soldado desconhecido caído na guerra do Ultramar está no interior da Capela do Combatente junto ao Monumento aos Combatentes e do Memorial aos caídos pela Pátria na guerra do Ultramar.

  • Bigas
    Responder

    …Somos todos de Amarante…

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