Areeiro já perdeu calçada portuguesa nos arranjos de superfície
A Praça do Areeiro já começou a perder a calçada portuguesa que antes fazia parte da sua paisagem e mostra agora um novo tipo de pavimento, em blocos de pedra, no arranjo de superfície feito pelo Metropolitano de Lisboa, que até agora apenas concluiu dois dos passeios laterais da praça.
A decisão de alterar o pavimento não terá, porém, sido tomada pela empresa de transportes, mas pela própria Câmara Municipal de Lisboa, a quem pertence o projecto dos arranjos de superfície – como, recentemente, esclareceu António Costa, quando, numa sessão da Assembleia Municipal de Lisboa, se referiu às obras em curso no Areeiro. “As obras são do Metropolitano, mas o projecto é da câmara ”, disse.
Nos passeios que já estão prontos e que ligam a Avenida Afonso Costa à Avenida Almirante Reis e esta à Avenida João XXI, da calçada portuguesa ficou apenas o remate, junto às passadeiras. A restante calçada desapareceu, no arranjo de exteriores já feito, junto aos acessos ao átrio sul do Metro.
Desagradado com a opção escolhida para o arranjo de exteriores ficou o presidente da Junta de Freguesia do Areeiro, Fernando Braancamp, que diz não ter sido consultado a esse respeito.
“Eu não votava por aquele projecto. E não só no que diz respeito ao pavimento, que acho que torna a zona muito árida e vai ser quente no Verão e escorregadio no Inverno. Mas também na questão da circulação e saídas de viaturas, algo que não foi salvaguardado na obra, porque ali há garagens, que já lá estavam antes do arranjo”.
Em relação à substituição da calçada, Fernando Braancamp mostra-se algo surpreso: “Se a calçada é para usar apenas nas zonas nobres, então o Areeiro, que é uma das portas da cidade, não é zona nobre? Eu admitiria uma opção mista, com calçada nas zonas de passagem das pessoas e outro pavimento menos nobre nas zonas de jardim, com árvores e bancos”, sublinha.
O autarca recorda que a zona central da praça, onde está o monumento a Sá Carneiro, também terá de ser alvo de obras, mas teme que o que se venha a fazer ali seja “mais para dividir o sentido do trânsito do que para fazer um verdadeiro arranjo da Praça”. E se assim for, “não se estará a dignificar a estátua, que corre o risco de ficar ali apenas como um marco de trânsito, à semelhança do que já sucedeu no Saldanha”, afirma.
As obras duram há seis anos na Praça do Areeiro e estão, neste momento, suspensas. Até agora, libertaram apenas uma parte da superfície que o Metropolitano se comprometeu a repor, na sequência da execução das obras de alargamento do cais, que foi aumentado para seis carruagens – o que acabou por acontecer numa altura em que apenas comboios de três carruagens circulam na Linha Verde, a única que ali passa.
Um dos acessos ao cais, o do átrio Norte, está ainda por reparar, bem como toda a área à superfície entre a Avenida João XXI e a Avenida Afonso Costa. Foi para aí que se mudou o estaleiro, em Novembro, quando foi enfim libertada a zona entre a Avenida Almirante Reis e a Avenida João XXI. De acordo com uma comerciante cuja loja está agora com o acesso dificultado pelas obras, o maior problema é o facto de os trabalhos, a cargo da empresa Hagen, estarem parados, o que compromete a circulação à superfície na Praça.“Começaram em Novembro, aqui neste passeio, e agora estão parados. Parece que o Metropolitano e o empreiteiro se desentenderam por causa dos prazos e vão com isto para tribunal. E assim é que nunca mais isto acaba”, queixou-se a comerciante.
A agência de comunicação que trabalha para o Metropolitano, contactada pelo Corvo, apenas soube confirmar que, de facto, os trabalhos “estão suspensos devido a um litígio judicial com o empreiteiro”. Mas o Metro não prevê qualquer data para o reinício da obra. A mesma porta-voz diz apenas: “O Metropolitano de Lisboa espera ver esta situação ultrapassada o quanto antes”.