Colina de Santana sob ameaça imobiliária

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Francisco Neves

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URBANISMO

Arroios
Santo António

25 Outubro, 2013


A colina de Santana, considerada fundamental para o conhecimento da génese do povoamento da cidade de Lisboa, “sofre ameaças graves” do ponto de vista do património histórico, alertou, nesta quinta-feira (dia 24), o arqueólogo Luís Raposo. Na base desta colina foram descobertos, nas últimas décadas, vestígios de um povoado neolítico próximo do esteiro da ribeira de Arroios, cuja água doce terá atraído os primeiros agricultores, milénios antes do nascimento da cidade. Pensa-se que este cabeço terá sido habitado antes da colina do Castelo.

A colina de Santana, “também conhecida como a colina dos hospitais, acolhe vários edifícios e respectivas cercas do que foram conventos” anteriores ao terramoto de 1755, depois transformados em estabelecimentos de saúde. Estes conjuntos – é o caso dos hospitais de São José, Santa Marta, Capuchos e Miguel Bombarda –  correm o risco de ser destruídos, disse o arqueólogo, pois encontram-se na posse da empresa de participações imobiliárias Estamo, “havendo já projectos para lá construir algumas torres. A necessidade de um novo hospital para Lisboa não pode ser satisfeita à custa do património existente”.

O previsível loteamento e transformação desses prédios em novos espaços de habitação, hotelaria e comércio tem preocupado moradores da zona e cidadãos ligados ao património histórico e cultural da cidade. Uma vez que apenas o Miguel Bombarda se encontra desactivado, o projecto terá de esperar pela construção do futuro Hospital de Todos os Santos. Estes antigos conventos reúnem conjuntos muito valiosos de azulejaria, talha, escultura e pintura, para além de equipamento médico de grande interesse histórico.

A sacristia do Hospital de São José e a igreja do Hospital de Santa Marta estão classificadas como monumento nacional. Há ainda vários imóveis de interesse público, como o Panóptico e o balneário de D. Maria II no Miguel Bombarda. A dimensão de demolição prevista no projecto da empresa – escreveu, em Agosto, no jornal Público, o historiador de Arte Vítor Serrão – “mostra uma atitude de soberba face às existências, pois destrói a organicidade, a coerência histórica, o peso e dimensão dos sítios”.

Luís Raposo, especialista em Pré-História Antiga, falava, nos Paços do Concelho, na primeira sessão do colóquio “Os rostos de Lisboa”, que assinala os 75 anos da revista “Olisipo”, publicada pela associação de utilidade pública Amigos de Lisboa. Na sua intervenção sobre a Lisboa pré-Romana, Raposo disse que, em termos de investigação, este período está “um pouco descurado”. Sabe-se muito pouco, por exemplo, sobre o fenómeno tectónico que há cerca de dois milhões de anos abriu o canal por onde corre agora o rio Tejo, cujas águas seguiam para sul e se ligavam ao estuário do Sado. “É um dos grandes mistérios de Lisboa”, comentou.

Sobre a ocupação inicial da região de Lisboa, o especialista diz que “ainda há muito por fazer”. “Monsanto – onde subsistem vestígios de habitações e de minas de exploração de sílex – devia ser mais investigado”, sugeriu. “Se há condições óptimas para as escolas fazerem investigação é em Monsanto. Até de autocarro se pode ir”, disse.

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