Terrenos frente à escola abandonada para fazer Terceira Travessia do Tejo vão ser convertidos em parque verde

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Samuel Alemão

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AMBIENTE

Beato
Marvila

19 Março, 2019

Câmara de Lisboa continua a negociar com a administração central uma solução para a Afonso Domingues, abandonada desde 2010 para que se fizesse a “ponte do TGV”. A reocupação poderá ser temporária, até se decidir se haverá ou não Terceira Travessia do Tejo. Mas já se sabe que os terrenos em frente, hoje convertidos em vazadouro de entulho, darão lugar a um parque verde. Aproveitando uma nova via que ligará Chelas à zona ribeirinha, deverá nascer um parque urbano com áreas pedonais e ciclovias, e que terá ligação à vizinha Mata de Madre de Deus.

Os terrenos situados em frente à antiga Escola Secundária Afonso Domingues, encerrada em 2010 para dar lugar à construção da Terceira Travessia do Tejo (TTT) e desde então deixada ao abandono e à mercê de actos de vandalismo, deverão ser convertidos num parque verde de utilização pública, até que haja uma decisão definitiva sobre a hipotética construção daquela infra-estrutura. O conjunto de parcelas localizadas junto ao edifício do Estado é de propriedade municipal e fica na fronteira entre as freguesias de Marvila e do Beato, tendo vindo a servir como vazadouro de entulho. Mas a Câmara de Lisboa está a estudar a sua requalificação e conversão em corredor ecológico, no âmbito de um mais vasto projecto de ordenamento do território num corredor compreendido entre Chelas e a zona ribeirinha. Tal solução deverá avançar, mesmo que com um carácter efémero, pois a zona da antiga escola está ainda sujeita a protecção especial do canal da eventual TTT. A ideia é acabar o quanto antes com o actual cenário desolador.

A construção desse parque ajardinado ao lado da Afonso Domingues faz parte de uma proposta que Jozhe Fonseca, membro do grupo cívico Fórum Cidadania LX, decidiu apresentar à edição deste ano do Orçamento Participativo (OP) de Lisboa (identificada como Projecto 121 – “Corredor Verde Marvila–Beato”), em votação até 28 de Abril. Mas, independentemente do desfecho da consulta popular, o executivo da Câmara Municipal de Lisboa (CML) deverá avançar mesmo com a reconversão ambiental daquela facha de terreno, enquanto tenta, em simultâneo, encontrar junto da administração central uma solução para o edifício escolar deixado vago pela saída apressada, no início da década – situação ocorrida com o argumento de que o mesmo teria de ser demolido para permitir a construção dos acessos à ponte por onde passaria o comboio de alta velocidade (vulgo “TGV”). Enquanto não se sabe se haverá TTT, surgirá uma grande área verde. Tal garantia foi deixada por Manuel Salgado, vereador do Urbanismo, na última reunião descentralizada do executivo, há cerca de duas semanas.

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A deposição de detritos no local é quase diária

Respondendo ao repto do munícipe Bruno Palma – que ajudou a reformular a proposta levada a OP por Jozhe Fonseca, em nome do Fórum Cidadania LX, e é membro da Assembleia de Freguesia do Beato eleito nas listas do PS -, o vereador deixou claro a intenção de mudar o cenário de decadência. Tanto na escola como nos terrenos envolventes. “Na TTT, eram as vias ferroviárias que obrigavam à demolição da escola. Mas como não se sabe quando, nem sequer se será feita essa infra-estrutura, há que utilizar aqueles edifícios”, disse, referindo-se aos complexo da antiga escola industrial, inaugurado em Outubro de 1956 e encerrado no verão de 2010. “Estamos a tentar encontrar uma utilização para acabar com aquela vergonha. Porque é uma vergonha, porque os edifícios tinham sido reabilitados pouco antes de serem desactivados. Faz todo o sentido que tenham uma utilização”, afirmou Salgado, na reunião descentralizada ocorrida a 6 de Março, no Teatro Ibérico. As conversações junto da tutela para encontrar um uso para a antiga escola, mesmo que temporário, têm vindo a ser liderados pelo presidente da câmara, Fernando Medina, disse o vereador.


 

Referindo-se aos terrenos à volta do antigo estabelecimento de ensino, Manuel Salgado revelou que os mesmos são abrangidos por um projecto de reordenamento territorial daquela zona da cidade, através do qual se pretende “criar uma via que vai de Marvila até lá baixo, ao rio” – o que permitirá levar por diante um conjunto de intervenções de arranjo paisagístico. Aproveitando a ponte construída, há poucos anos, sobre a Linha de Cintura ferroviária, o novo eixo viário permitirá estabelecer uma ligação de Chelas e os bairros dos Alfinetes e das Salgadas, através da Rua João César Monteiro, com o Bairro da Madre de Deus e, mais a jusante, a zona ribeirinha da freguesia do Beato. “Com essa ligação, será encontrada a solução para todos aqueles terrenos. Alguns serão utilizados temporariamente, até ao dia em que se decida ou não fazer a terceira travessia. Outros serão já utilizações definitivas, aproveitando toda a ligação daquele território”, explicou o vereador do Urbanismo.

 

 

Para já, e antes de os técnicos da Câmara de Lisboa se debruçarem sobre tal plano, os munícipes poderão demonstrar a sua afeição pela requalificação ambiental da área através do voto na proposta 121 do OP 2018/2019. Inserido na categoria dos projectos estruturantes – cujo custo máximo pode chegar aos 300 mil euros -, o “Corredor Verde Marvila-Beato” propõe a plantação de árvores e a modelação do terreno em frente à escola Afonso Domingues, onde, ao lado de pequenas hortas, se acumulam detritos de todo o tipo. Um projecto que, ainda na fase de recepção de propostas, fora chumbado pelos técnicos do município sob o argumento de que aquela área estaria incluída não só na zona de protecção da TTT, bem como os terrenos se encontrariam inseridos num “estudo de requalificação” a desenvolver pela divisão de Urbanismo da CML. A intervenção de Manuel Salgado terá, porém, resgatado a proposta – que o Fórum Cidadania LX tornara pública em Novembro passado, no momento em que denunciara o estado de degradação da escola e dos terrenos à volta -, permitindo que a mesma fosse apresentada como um projecto colocado a sufrágio da população da capital.

 

Tal como explicara na tal reunião descentralizada, o munícipe Bruno Palma diz a O Corvo que vê na existência das restrições de construção relacionadas com a TTT uma “oportunidade de criar ali um espaço verde com qualidade e que possa ser usufruído por toda a comunidade”. Algo que, faz notar, ganha ainda mais sentido com a iniciativa Lisboa Capital Verde Europeia 2020. A colocação de árvores e arbustos naqueles terrenos, a par da criação de percursos pedestres e de ciclovias, “enquanto não se decide o que se vai ali fazer”, defende, poderá ajudar a instituir um parque urbano com uma área de influência que irá da Estrada de Marvila à Estrada de Chelas, interligando-se com a Mata da Madre de Deus. O que funcionaria ainda como “motor” para a requalificação de espaços verdes em toda a zona oriental de Lisboa.

 

 

A ideia está a ser também bem acolhida pelos presidentes das juntas de Marvila e do Beato. “Vemos com bons olhos a criação de um corredor verde que chegue à Mata de Madre de Deus. Tudo isto faz sentido quer do ponto de vista das questões ambientais e da ecologia, mas também porque se integra no plano de melhoria das acessibilidades, que permitirá estabelecer uma nova ligação entre a Rua João César Monteiro e a zona do Hub Criativo do Beato”, diz a O Corvo o presidente da Junta de Freguesia de Marvila, José António Videira (PS), que pede ainda uma solução rápida para a Afonso Domingues. “Gostaríamos de ter ali algo ligado às indústrias criativas”, confessa. Também Silvino Correia (PS), autarca do Beato, defende que o corredor verde “faz todo o sentido”. E defende mesmo a sua extensão até às traseiras da degradada Vila Dias, junto ao troço ferroviário entre Santa Apolónia e Oriente.

 

A nova área verde a criar dará também continuidade aquela que foi anunciada por Fernando Medina, na mesma reunião descentralizada de há duas semanas, para os terrenos contíguos à Biblioteca Municipal de Marvila. Como O Corvo noticiou na semana passada, a autarquia acabou por ceder aos pedidos da população do Bairro dos Alfinetes para que não avançasse com a construção dos blocos de apartamentos previstos no âmbito do Programa Renda Acessível (PRA), optando-se por projectar novas áreas ajardinadas reclamadas pelos habitantes daquela área da capital, bem como campos de jogos e um pavilhão desportivo. A separar as duas novas manchas verdes estará apenas a linha de caminho-de-ferro.

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