Telheiras vai ter pólo de troca de materiais e ferramentas e aposta na sustentabilidade ambiental

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Sofia Cristino

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AMBIENTE
VIDA NA CIDADE

Lumiar

21 Fevereiro, 2019

O bairro é um dos “mais consumistas” de Lisboa e, há seis anos, até era um dos menos sensíveis às questões ambientais. Realidade que estará a mudar. Mas os comportamentos poderão alterar-se ainda mais. Telheiras foi um dos seis bairros escolhidos, entre 72 a nível mundial, para desenvolver um projecto-piloto do programa “Municipalities in Transition”, da associação Transition Network. O que significa receber apoio financeiro para levar por diante iniciativas baseadas na sustentabilidade. A candidatura foi desenvolvida pela rede Parceria Local Telheiras, agregando várias associações, e implica agora a implementação de acções concretas. Entre elas está a criação de um centro de recursos, onde se poderá requisitar um vermicompostor, compostor com minhocas, ou um dispositivo para medir os consumos energéticos em casa. Porque também se podem combater as alterações climáticas com acções centradas em cada bairro.

Telheiras vai ter um Centro de Recursos, onde se poderá requisitar ferramentas de bricolage e de análise de gastos energéticos em casa, bem como compostores, entre outros artigos ligados à sustentabilidade ambiental que não têm utilização diária. “Não precisamos de ter todos um berbequim, que se usa uma ou duas vezes por ano. Aqui, poderão requisitar esses materiais e outros, menos usais, como um vermicompostor, um compostor com minhocas que aceleram o processo de compostagem, para os testarem. Os dispositivos para medirem os gastos de electricidade e o nível térmico nas habitações são muito caros, e não se justifica comprá-los, por isso decidimos facultá-los também”, explica Luís Keel Pereira, coordenador da Parceria Local de Telheiras, uma rede agregadora de várias instituições e grupos informais do bairro.

Neste pólo, que deverá estar a funcionar em Maio, haverá ainda kits de pratos, copos e talheres reutilizáveis para festas de aniversário e piqueniques, com o intuito de incentivar a diminuição do uso do plástico. “A nossa freguesia tem um elevado poder de compra e, por isso, também consome mais. Vamos ter kits reutilizáveis, para as famílias não comprarem copos descartáveis. Haverá um custo de aluguer, mas sairá mais barato do que comprar num supermercado. A nível da sustentabilidade, acaba a festa e não há dezenas de pratos para deitar fora”, explica ainda o responsável pelo projecto. Vai nascer uma nova página na internet – “Telheiras Sustentável” -, onde se poderá encontrar todos os projectos amigos do ambiente no bairro e dicas de sustentabilidade, como poupar água ou produzir menos lixo em casa. Vai haver ainda um posto de reparação de bicicletas, um Repair Café (evento para aprender a reparar equipamentos eléctricos) e um espaço de troca de livros.

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Com pouco investimento, pode-se fazer a diferença, diz Luís Keel Pereira

Telheiras foi um dos seis bairros escolhidos, entre 72 a nível mundial, para desenvolver um projecto-piloto do programa “Municipalities in Transition” (MIT), da Transition Network, uma associação internacional que gere e apoia a rede de Iniciativas de Transição. Esta é constituída por grupos locais auto-organizados, em todo o mundo, que tentam criar soluções para os desafios da sustentabilidade e alterações climáticas. A Transition Network quis conhecer as acções de sustentabilidade existentes no bairro de Telheiras e, depois de analisar cada projecto, desenvolveu um mecanismo para optimizar estas práticas. “Numa primeira fase, identificámos o que já se fazia na área ambiental, e tentámos perceber o impacto que os projectos sustentáveis estavam a ter no bairro. A Transition Network ajudou-nos a conhecer melhor o território e a perceber como é que cada projecto pode ser alavancado e ter mais impacto na vida da comunidade. Percebemos que, com pouco investimento, podemos conseguir melhores retornos”, explica Luís Keel Pereira.


 

Em Telheiras, através do financiamento obtido para implementação da metodologia MIT, identificaram-se um pouco mais de dez acções de sustentabilidade, sendo a maioria esporádica ou de âmbito municipal, como o Lisboa a Compostar e a GIRA – Bicicletas de Lisboa. Entre estes, encontram-se a Eco-Costura, o Eco-jantares, a Eco-Escolas – Escola Alemã de Lisboa, a Fruta Feia, a Horticultura biológica em contexto educativo, o Telheiras em Movimento, o Mercado Biológico, o Parque Hortícola, a Compostagem no Parque Hortícola, os Percursos de bicicleta à volta de Telheiras, a Reciclagem no Condomínio dos Ulmeiros, o Refood Telheiras, o Reciclar e Ajudar, o Reciclar o Natal, a exposição “Vamos dar a volta ao plástico em Telheiras”, o Papel Zero e o MecardoLumiar + BIO, entre outros.

 

 

A horticultura biológica em contexto educativo foi um dos projectos do bairro escolhidos pela Parceria Local para receber mais apoio financeiro. A “Alfacinha saudável”, criado pela Associação Educativa para o Desenvolvimento da Criatividade (AEDC) – que dinamiza, desde 2014, as hortas escolares das escolas básicas de Telheiras, S. Vicente, Nº1 de Telheiras, do Lumiar (Alto da Faia), o Jardim de Infância de Telheiras e o Centro Comunitário de Telheiras – foi o primeiro projecto seleccionado no âmbito deste programa internacional. “Optámos pelas hortas em contexto escolar porque vimos que tinham um potencial ainda por explorar. Os professores fazem formações hortícolas certificadas, mas não tínhamos a certeza se iam fazer as hortas. Agora, com este financiamento, temos essa certeza. Transformar uma pequena acção de professores num projecto local do bairro, com o envolvimento de todas as pessoas, foi um grande passo”, diz Luís Keel Pereira.

 

Maria João Conde, responsável pelo projecto “Alfacinha Saudável”, diz que este tem tido muita aceitação pela comunidade escolar e, com o financiamento do MIT, poderá crescer ainda mais. “Os professores e os alunos estão muito fechados nas salas de aula e precisam de mais programas fora de quatro paredes, conhecerem-se melhor. E os alunos acabam, depois, por levar estas ideias para casa. No Centro Comunitário, é uma forma dos idosos ocuparem os tempos livres”, explica. Agora, vão comprar mini-estufas, mais materiais de jardinagem – enxadas, ancinhos, matéria orgânica. “Infelizmente, as escolas nunca têm dinheiro para estas actividades”, lamenta.

 

 

Durante o ano de 2018, decorreu a fase dos “projectos-piloto” do “Municipalities in Transition”, com iniciativas em seis cidades, freguesias ou bairros de todo o mundo. Entre esta quinta-feira e domingo (21 a 24 de Fevereiro), os finalistas – Vila Mariana (Brasil), La Garrotxa (Espanha), Valsamoggia e Santorso (Itália) e Wekerle (Hungria) -, encontram-se em Telheiras para fazerem um balanço das aprendizagens feitas e trocarem experiências sobre o mecanismo de intervenção testado nestes seis locais.

 

Telheiras é um dos bairros “mais consumistas” de Lisboa, segundo a Parceria Local, e com menos sensibilidade para as questões ligadas ao ambiente. Uma realidade que está a mudar. Luís Keel Pereira espera que o apoio do programa internacional contribua para mais mudanças de mentalidade. “Em Telheiras, há muitas pessoas com quintais e varandas, e com condições para plantarem e compostarem. E, hoje, há muitas mais pessoas a interessarem-se por estas questões ambientais, o alcance é muito diferente do que em 2011 e acreditamos que chegaremos a mais”, espera. O bairro tem 17 mil habitantes e, há seis anos, “era difícil chegar às pessoas”, explica Keel Pereira. “Agora, temos mais meios e, apesar de ainda serem poucos, gostávamos de conseguir bater à porta de outras freguesias e que estas pudessem bater à nossa”, diz.

 

Mais informação: vivertelheiras.pt/

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