Investimento de nove milhões no Museu do Design contestado pela oposição

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Samuel Alemão

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26 Julho, 2014


Os planos de requalificação do MUDE prevêem a sua transformação “num dos maiores equipamentos dedicados ao design na Península Ibérica e na Europa”. Mas o PSD e o CDS-PP não estão nada convencidos e falam em desperdício de dinheiro público.

Os planos para a requalificação integral do Museu do Design e da Moda (MUDE), aprovados na quarta-feira passada (23 de Julho) em reunião de câmara, estão a causar bastante desconforto na oposição ao executivo de António Costa. Os nove milhões de euros estimados para a sua concretização são a razão. Por isso, tanto o PSD como o CDS-PP votaram contra o Programa Preliminar e o Projecto de Execução da Requalificação Integral do Edifício do MUDE, prometendo ainda apresentar declarações de voto sobre a matéria. “Se se confirmar esta valor, acho verdadeiramente excessivo”, afirmou na reunião João Gonçalves Pereira, único vereador do CDS-PP e quem liderou as críticas aos custos previstos.

As reservas levantadas por Gonçalves Pereira – que são apoiadas pelos três eleitos do PSD, em especial Teresa Leal Coelho – são, no entanto, rebatidas pelo presidente da Câmara Municipal de Lisboa, que considera “importante a aprovação do projecto para que se possa pensar em ir buscar fontes de financiamento para o mesmo”. Costa diz que, para além do recurso ao dinheiro das contas municipais, o projecto pode ir buscar apoio financeiro de outras origens, nomeadamente as linhas de crédito comunitárias criadas para suportar diversos aspectos. “Este é um projecto que terá grande impacto no centro da cidade, no turismo, na reconversão urbana. E é condição para irmos buscar dinheiro a várias fontes de financiamento termos o projecto feito”, diz o edil.

O autarca recordou que o projecto tem uma “origem longa”, a qual recordou, nomeadamente o facto de a instalação do museu “ter tido sempre características precárias”. “De 2009 até hoje, temos estado sempre a adiar este investimento, por causa da crise”, explicou Costa, confessando ter esperança que as dificuldades económicas venham a terminar. O presidente da CML acrescentou ainda que o investimento previsto vai permitir cessar o pagamento de 200 mil euros de rendas ao ano relativas aos espaços que acolhem as reservas do museu. Além disso, lembrou, em 2016 ou 2017, a autarquia deixará de pagar os 563 mil euros anuais devidos pela aquisição da colecção Francisco Capelo – que constitui o essencial do acervo do MUDE.

Mas a argumentação de António Costa – que disse não fazer sentido manter um museu com tal dimensão e ambição de projecção internacional “nesta situação precária” – manifestou-se insuficiente para dissipar as dúvidas da oposição representada na vereação. “O PSD não põe em causa o mérito deste projecto, que consideramos ambicioso e que até trará grandes vantagens para a cidade de Lisboa. Mas não posso deixar de relembrar que foi o défice e a dívida que nos trouxeram a esta situação”, disse Teresa Leal Coelho, numa réplica ao presidente da autarquia, que até elogiou o “rasgo” do seu antecessor Pedro Santana Lopes ao   decidir adquirir a colecção da Fundação Francisco Capelo, que constitui o essencial o espólio do MUDE.

A requalificação do museu situado na Rua Augusta havia sido apresentada, momentos antes, pela sua directora, Bárbara Coutinho, e pelo arquitecto Luís Miguel Saraiva responsável pelo projecto. A directora, que exerce essa funções desde a abertura do equipamento, em Maio de 2009, salientou o facto de o projecto vir a permitir um “acesso integral a todo o edifício”. Com o total aproveitamento das antigas instalações do Banco Nacional Ultramarino, o museu passará a ocupar, com todas as suas valências, uma área de 14 mil metros quadrados. “O que faz com que seja um dos maiores equipamentos dedicados ao design na Península Ibérica e na Europa. E, assim, poderemos desenvolver em pleno os objectivos do MUDE, nomeadamente, desenvolvendo uma componente educativa sólida, mas também o estabelecimento de parcerias”, disse Bárbara Coutinho, sublinhando a “necessidade de crescimento estrutural” do museu para cumprir aquilo a que se propôs desde o início.

Uma das características da intervenção salientadas pela directora do museu, o da valorização da estrutura existente em ruína no interior do edifício, serviu precisamente para alimentar as críticas do vereador do CDS-PP. “Fiquei espantado com o valor, de cerca de 9 milhões de euros, para uma obra que diz utilizar a ruína como estética. Se se confirmar este valor, acho verdadeiramente excessivo. Não ponho em causa a intervenção, nem sequer o papel do MUDE, mas despender este dinheiro, nos tempos que correm, e ao nível da gestão autárquica, acho um erro”, disse João Gonçalves Pereira, após ter questionado quem suportaria tal encargo.

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