Vencedor 2019
Bone and Ruin: An Optimist’s Guide to the Historical Sciences
porAdrian Currie
![[Cover] Bone and Ruin: An Optimist’s Guide to the Historical Sciences](/wayback/20230120062838im_/http://fernando-gil.org.pt/img/bookcovers-2019/cover_currie.png)
A obra
O livro Rock, Bone and Ruin: An Optimist’s Guide to the Historical Sciences de Adrian Currie’s é um exame filosófico sistemático de como os cientistas geram conhecimento do passado profundo. A análise de Currie enfatiza as estratégias epistemológicas flexíveis, criativas e oportunas adotadas pelos cientistas históricos. Paleontólogos, geólogos e arqueólogos constroem e agregam um largo espectro de ferramentas, técnicas e outros recursos epistemológicos, que adaptam às necessidades específicas das suas 'situações epistemológicas”. Currie argumenta vigorosamente que entender o sucesso científico requer um exame às estratégias locais dos cientistas, adotando uma abordagem sintética que articula as análises filosóficas altamente abstratas e formalizadas e as descrições ricas e detalhadas de casos comummente encontrados na história e na filosofia da ciência.
O aspeto central do livro de Currie é uma nova maneira de conceptualizar debates sobre sucesso científico. Distanciando-se do debate tradicional sobre o realismo/anti-realismo, Currie defende o otimismo nas ciências históricas. Otimismo e pessimismo, para Currie, são atitudes sobre o futuro sucesso de uma ciência, fundamentadas no exame das práticas adotadas pelos cientistas e no pluralismo dos bens epistemológicos da ciência. Além de lavrar terreno para uma análise mais aprofundada da ciência histórica - colocando a filosofia da ciência histórica no mapa -, este novo enquadramento e os debates por ele gerados são aplicáveis a todas as ciências.
Ao defender o otimismo na reconstrução histórica, Currie fornece um relato fundamental do estatuto epistemológico da paleontologia e das ciências relacionadas, além de conectar práticas da ciência histórica a discussões na filosofia da ciência em geral. Currie fornece a primeira análise filosófica explícita da noção de 'traço' e 'raciocínio baseado no traço' - a prática de deduzir de uma observação presente para o passado. Com base nisso, Currie argumenta que os recursos epistemológicos que os cientistas históricos têm na sua posse vão muito além do raciocínio baseado em traços. Para demonstrar esse ponto, Currie discute o papel da coerência na reconstrução histórica, bem como o raciocínio análogo, as práticas de modelagem e o papel da idealização. Para Currie, os cientistas históricos são "omnívoros metodológicos": é o oportunismo pluralista que explica o seu sucesso.
Rock, Bone and Ruin também é inovador do ponto de vista metodológico. Como refere Alison Wylie na sobrecapa, trata-se de «um argumento incisivo para fazer filosofia de maneira diferente: atento aos desafios epistémicos que os cientistas de facto enfrentam, resolutamente local e contextual e despudoradamente normativo». Currie defende que abordagens locais, pragmáticas e pluralistas à epistemologia são chamadas a explicar o sucesso científico, ao mesmo tempo retendo as ferramentas e vantagens da precisão filosófica. Partindo de ricos e variados exemplos das ciências históricas, Rock, Bone and Ruin é um excelente caso do que se pode conseguir por seriamente dar a vez à prática na filosofia da ciência.
The MIT Press
ISBN 978-0262037266
376 páginas · 2018
![[Photo] Adrian Currie](/wayback/20230120062838im_/http://fernando-gil.org.pt/img/photo_currie.jpg)
O autor
Adrian Currie é Professor de Filosofia no Departamento de Sociologia, Filosofia e Antropologia da Universidade de Exeter. É também membro do Egenis (o Centro para as Ciências da Vida, em Exeter), investigador associado no Centro para o Estudo do Risco Existencial da Universidade de Cambridge e um colaborador externo no Centro Leverhulme para o Futuro da Inteligência, também na Universidade de Cambridge. Foi um dos fundadores, sendo um colaborador regular, do blogue de paleontologia «Extinct».
Currie recebeu o título de doutor em 2014 na Universidade Nacional da Austrália, tendo obtido os seus graus de licenciatura e de mestre na Universidade Victoria de Wellington, na Nova Zelândia. Lecionou na Universidade de Sydney e ocupou posições pós-doutorais de investigação na Universidade de Calgary e na Universidade de Cambridge.
A sua extensa lista de publicações e outros pode ser encontrada no seu site na Internet. Rock, Bone and Ruin: An Optimist’s Guide to the Historical Sciences (MIT 2018) é o primeiro livro de Currie.
Prémio Fernando Gil 2019 de Filosofia da Ciência
Neste livro, Adrian Currie desenvolve uma abordagem filosófica original às ciências históricas. Tais corpos de conhecimento são construídos a partir de vestígios leves e contingentes do passado, que os pessimistas considerariam insuficientes para gerar explicações significativas e dar sentido às entidades e eventos não testemunhados do mundo passado.
Mas os paleontólogos, geólogos e arqueólogos têm sido extraordinariamente criativos: de modo otimista, têm encontrado soluções para produzir modelos e métodos bem-sucedidos e adaptá-los à apresentação multi-condicional de informação relevante.
Nas suas análises, Adrian Currie aponta para o facto de que o aparelho conceptual da filosofia da ciência atual, essencialmente desenvolvido para dar conta das ciências naturais duras e seus modos de desenvolvimento, não consegue lidar suficientemente com o desafio de iluminar os caminhos e meios através dos quais os historiadores fornecem as razões adequadas para as realidades paleontológicas e afins.
A maneira através da qual racionalmente ensaiam e reconstituem os dados com que trabalham proporciona uma compreensão probabilística coerente de um mundo que sobreviveu apenas pelos sinais materiais que decifram.
O livro de Adrian Currie é uma tentativa magnífica de fornecer os elementos pragmáticos, razoáveis e eficientes de uma epistemologia que pode interpretar com sucesso como a razão humana gera explicações nas ciências históricas.
O júri considerou que este empreendimento atendeu aos mais altos padrões de um extraordinário livro de um único autor na filosofia da ciência e, assim, considerou-o um digno vencedor do Prémio Fernando Gil em 2019.