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A PALEONTOLOGIA EM PORTUGAL
 
 






 

 

Já foram feitas algumas alusões à ocorrência de fósseis em Portugal, bem como a algumas da suas interpretações. Neste capítulo vamos apenas enumerar alguns dos maiores vultos da Paleontologia portuguesa mais recente, com breve alusão à sua obra.

Na página anterior citámos João de Loureiro que, apesar de surgir depois de Buffon, precede as obras fundamentais de Cuvier, motivo pelo qual é considerado um pioneiro no estudo dos fósseis. Loureiro, em obra póstuma de 1799, chega a relacionar o homem com o orangotango, animal que estudou enquanto habitou o Oriente. Os fósseis animais e vegetais descritos por Loureiro, têm presente uma constante preocupação de carácter médico e da sua utilidade como medicamentos.

Alexandre Rodrigues Ferreira (1765-1815), actuou longamente na recolha de fósseis no Brasil. Contudo, não chegou ao Ceará – onde se conhecem abundantes nódulos com peixes e outros fósseis cretácicos. A descoberta desta importante jazida é do seu tempo, e portanto, as primeiras colheitas científicas de fósseis no Ceará terão sido promovidas por portugueses (apesar da revelação destes ao mundo científico ter sido feita por naturalistas alemães da Baviera).

José Bonifácio de Andrada e Silva (1763-1838) faz sumárias referências a fósseis de pouca relevância.

O barão Wilhelm Ludwig von Eschwege (1777-1855), sucessor de Bonifácio, publicou em 1831 figuras de rudistas (bivalves recifais com conchas particularmente robustas) cretácicos dos arredores de Lisboa, entre outros.

A Paleontologia dos vertebrados em Portugal, inicia-se com Alexandre António Vandelli (1784-1859), que figurou restos de cetáceos e de peixes miocénicos, classificados com boa aproximação.

Daniel Sharpe (1806-1856) marca o início do designado “ciclo inglês”. Sharpe viveu em Lisboa entre 1835 e 38, observando e recolhendo fósseis.
Outro inglês, James Smith, apresentou uma comunicação (1841) com anexo onde G. W. Sowerby descreve novas espécies a partir de fósseis do Miocénico da região de Lisboa.

Em 1853, Sharpe publica uma das suas obras de referência acerca do Buçaco – On the Carboniferous and Silurian Formations of the neighborhood of Bussaco in Portugal. Nesta obra reúne-se de vários colaboradores estrangeiros, e não só, destacando-se Carlos Ribeiro, que viria a tornar-se um dos mais notáveis geólogos portugueses.


A (2ª) COMMISSÃO GEOLÓGICA

Em 1848, por parecer da Academia das Ciências, é criada a Commissão Geológica dirigida por um francês - Charles Bonnet. Seria extinta em 1855.

Em 1857, é criada a 2ª Commissão Geológica tendo agora dois nomes portugueses como directores: Francisco António Pereira da Costa (1809-1889), Professor da Escola Polytechnica de Lisboa e Académico muito activo; e Carlos Ribeiro. Como adjunto surgiu Joaquim Filippe Nery Delgado (1835-1908). A dupla Ribeiro (como Geólogo de campo) / Pereira da Costa (mais voltado para a investigação em gabinete), funcionou de forma notável até surgir desentendimento entre ambos. Entretanto Pereira da Costa consegue a transferência das colecções para a Escola Politécnica (1858) assim como consegue a extinção da Commissão Geológica (1868). Em 1869, o governo de então cria os Serviços Geológicos de Portugal (nome que foi alterado algumas vezes e que hoje integra o Instituto Geológico e Mineiro – IGM).

Enquanto esteve activa, a Commissão Geológica produziu trabalho vasto na área da Geologia e da Paleontologia. Destaca-se a obra de Pereira da Costa que pode ser considerado pioneiro da Paleontologia e da Arqueologia em Portugal. Das suas publicações, salientam-se as memórias sobre moluscos miocénicos, de Lisboa e do Algarve, com especial realce para a jazida de Cacela. Descreveu espécimes novos para a ciência, tendo as estampas uma excelente qualidade gráfica.

Entretanto, com a diminuição dos trabalhos de Pereira da Costa na área da Paleontologia, começou Nery Delgado publicando valiosas obras acerca do Paleozóico.

Por pedido de Pereira da Costa, surge o primeiro trabalho sobre Paleobotânica de autoria nacional. O médico Bernardino António Gomes, filho (1806-1877) publica em 1865 a memória Flora fóssil do terreno carbonífero das visinhanças do Porto, Serra do Bussaco, e Moinho d’Ordem proximo a Alcacer do Sal, partindo de recolhas de Carlos Ribeiro.


OS SERVIÇOS GEOLÓGICOS

A referida criação dos Serviços Geológicos de Portugal em 1869, vem dar continuidade à boa obra da Commissão Geológica, não contando com a presença de Pereira da Costa. Influenciado pela obra de Darwin acerca da origem das espécies, Carlos Ribeiro dedica a última parte da sua vida à busca de antepassados do Homem nas formações miocénicas e pliocénicas(24-2 Ma.) do Ribatejo. É de referir que os vestígios de hominídeos desta altura conhecidos na actualidade se situam todos no continente africano.

Outros geólogos se juntaram a Ribeiro e Nery Delgado nos Serviços Geológicos. Merece destaque especial o suíço (Léon) Paul Choffat (1849-1919) que desenvolveu actividade científica em Portugal depois de 1878. Choffat dedicou-se especialmente às formações mesozóicas desenvolvendo numerosos trabalhos no âmbito da Paleontologia. São também abundantes os seus trabalhos na região do Baixo Mondego.

Destacamos ainda Jorge Cândido Berkeley Cotter (1845-1919) no estudo do Miocénico de Lisboa; Wenceslau de Sousa Pereira de Lima (1859-1919) como cultor de Paleobotânica; além de um número significativo de estrangeiros que publicaram numerosas e valiosas obras, contribuindo para o apogeu da Paleontologia em Portugal. A produção de autores portugueses é francamente baixa neste período e, com a morte de Nery Delgado (1908) e as de Choffat e Cotter (1919) instala-se uma crise no domínio do conhecimento paleontológico em Portugal.

São poucas as publicações, havendo a assinalar apenas alguns nomes como Ernest Fleury (1878-1958), Professor da Universidade Técnica de Lisboa, e Francisco Luís Pereira de Sousa (1870-1931), Professor da Universidade Técnica de Lisboa que desenvolveu trabalho sobre goniatites do Carbónico do Alentejo e Algarve.

Entretanto na década de 30, João Carrington Simões da Costa (1891-1982) incentiva uma renovação. Nesta época surgem dois vultos fundamentais: Carlos Teixeira (1910-1982) na Universidade do Porto e posteriormente na de Lisboa; e Georges Zbyszewsky (1909-1999), nos Serviços Geológicos de Portugal. Carlos Teixeira relançou a Paleontologia portuguesa a nível internacional, merecendo destaque especial os seus trabalhos em Paleobotânica. Colaborou com Décio Sequeira Santos Thadeu (1919-1995) do Instituto Superior Técnico. Zbyszewsky colabora activamente com Octávio da Veiga Ferreira (1917-1997) nos Serviços Geológicos, publicando obra dispersa.

Com Jaime Martins Ferreira (1927-) e Arménio Tavares Rocha (1923-1985), assiste-se ao lançamento da micropaleontologia em Portugal, tendo estes trabalhado essencialmente com foraminíferos.


OS TRABALHOS NO BAIXO MONDEGO

Em Coimbra, o sector da Geologia renova-se e surge a cadeira de Paleontologia. Destacam-se nomes como Gumerzindo Henriques da Silva (1926-1983) e António Ferreira Soares (1935-), que trabalharam essencialmente com moluscos mesocenozóicos de Portugal e antigas colónias.

Mais recentemente, Maria Helena Henriques (1960-) tem vindo a desenvolver trabalhos sobre o Jurássico médio (Dogger), merecendo destaque aqueles desenvolvidos no sector do Cabo Mondego; Pedro Callapez (1965-) tem publicado trabalhos especialmente sobre o Cretácico superior do sector norte da Bacia Lusitaniana e versado temas de malacologia do Cretácico ao Quaternário.