Comentários


 

Pergunta

Quais são os mecanismos psíquicos que produzem a violência no ser humano?

Resposta

A resposta a essa pergunta é multifacetada. Do ponto de vista do desenvolvimento da violência na adolescência os resultados de estudos longitudinais mostram que entre os factores de risco associados a esse desenvolvimento encontra-se o início precoce de problemas de comportamento. Se associado a este factor de risco existirem outros, como pais com estilos educativos parentais inadequados (pais punitivos ou inconsistentes), com supervisão deficitária e com dificuldades em estabelecer limites claros; grupo de colegas desviantes; insucesso e inadaptação escolar; relações com os professores problemáticos, então o risco aumenta. Por sua vez, esses problemas de comportamento precoce não surgem do nada. As crianças com mais probabilidades de os desenvolver tinham na infância um comportamento mais impulsivo, défice de atenção, temperamento difícil; falta de competências sociais e pró-sociais; fracas aptidões de gestão de conflitos; atrasos na linguagem e na aprendizagem. Associados a estes factores de risco precoce das crianças os estudos indicam factores de risco associados aos pais, como baixa estimulação cognitiva das crianças, supervisão deficitária, estilos parentais rígidos ou inconsistentes. Entre os factores de risco do meio teríamos pobreza, actividade criminal ou comportamento anti-social dos próprios pais, abuso de substâncias pelos pais, stress; saúde mental dos pais, discórdia conjugal. Quando estas crianças entram na escola este modelo pode complicar-se ainda mais: os professores respondem aos comportamentos anti-sociais de forma inadequada, as crianças são rejeitadas pelos colegas, o que as faz aproximar de colegas também rejeitados e formar grupos desviantes; os pais não se envolvem na escola, nem sabem apoiar as crianças nas aprendizagens em casa.
Portanto a violência na criança e no adolescente, e mais tarde no adulto, é um fenómeno complexo, com origem em causas múltiplas, com uma grande estabilidade ao longo do tempo (apesar de com manifestações diferentes em diferentes períodos etários e também entre sexos) e aparece frequentemente associada a outros problemas (comorbilidade). Alguns teorias defendem uma componente genética nestes comportamentos.