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Pergunta

Por que razão Amélia Rey Colaço é considerada a "grande senhora" do teatro?

Resposta

Tentaremos por este meio fornecer alguns elementos que visam contextualizar o percurso de Amélia Rey Colaço no âmbito do teatro, de modo a ajudar a perceber o epíteto de "grande senhora" que lhe é atribuído. Amélia Rey Colaço nasce em Lisboa no dia 02-03-1898, filha do prestigioso pianista e compositor Alexandre Rey Colaço. Em 1913 passa uma temporada em Berlim, assistindo aos espectáculos de Max Reinhardt que influenciaram a sua decisão em ser actriz. Nesse sentido, regressando a Lisboa, tem lições com o mestre Augusto Rosa. Estreia-se como actriz em Novembro de 1917 no Teatro da República. Em sucessivas temporadas "demonstrou ser uma actriz diferente de todas as outras, aliando a um talento e cultura invulgares, métodos de representação verdadeiramente modernos" (Palhinha, 1987). Num período que passou em Madrid, foi logo convidada para aparecer, como primeira figura, em várias companhias espanholas. Casa em Dezembro de 1920 com Robles Monteiro, também discípulo de Augusto Rosa, fundando ambos, em 1921, a Companhia Rey Colaço - Robles Monteiro só extinta em 1974. Além da interpetação desempenha também as funções de empresária da Companhia e de encenadora nos espectáculos, no que foi um caso excepcional, dado que na altura estas funções raramente eram desempenhadas por mulheres. De 1921 a 1974, a Companhia Rey Colaço - Robles Monteiro apresenta 511 espectáculos. "(...) em 1929, por concurso público, alcança a exploração do Teatro Nacional, onde imprime ideias inovadoras, criando uma verdadeira escola de teatro e de novos actores. E logo no primeiro ano de actividade deu primazia à produção nacional, divulgando alguns nomes que viriam posteriormente a impor-se. Foi certamente a empresária que mais autores portugueses levou à cena. E alguns clássicos, anteriormente divorciados do grande público, surgem, então, com outro interesse. É o caso de Gil Vicente, que Amélia Rey Colaço fez renascer, levando-o até ao Brasil; D. Francisco Manuel de Melo, Camões, AntónioJosé da Silva (o Judeu) e António Ferreira". (Jacques, 2001) A concessão do Teatro Nacional só é interrompida devido ao incêndio de 1964 que o destruíu, "acontecimento que Amélia Rey Colaço considera um dos mais trágicos da sua vida". A sua actividade continua no Teatro Avenida, mas não por muito tempo, porque novo incêndio se segue. Instala-se depois no Teatro Capitólio e posteriormente no Teatro da Trindade, com uma breve passagem em 1974 pelo Teatro Municipal de S. Luís. No cinema, tem uma prestação no filme "Primo Basílio". Depois de já se ter retirado, surgiu na televisão protagonizando uma "série" portuguesa. Até ao momento a base de dados sobre o Teatro em Portugal do Centro de Estudos de Teatro - a CETbase - regista a participação de Amélia Rey Colaço em 115 espectáculos enquanto encenadora e responsável pelos cenários e figurinos, num espaço de tempo que vai de 1936 a 1950. Enquanto actriz, a base de dados regista a sua participação num total de 239 espectáculos, no período de 1917 a 1973. Foi alvo da comenda da Ordem de Instrução Pública, do oficialato e da comenda da Ordem de Santiago, da comenda da Ordem de Cristo, sendo ainda distiguinda pelo governo francês com as insígnias de Cavaleiro da Ordem das Artes e Letras. No seu livro de Memórias, Eduardo Brazão define-a da seguinte maneira: "de uma figura inigualável, de maneios gentis, de uma voz terna e vibrante, Amélia Rey Colaço é o especimen da actriz de sensibilidade moderna, requintadamente elegante, espirituosa e inteligente". A actriz, empresária e encenadora tem uma morte natural no dia 08-07-1990, em Lisboa.
Para mais informação é favor consultar: PALHINHA, Margarida (org.), A Companhia Rey Colaço Robles Monteiro (1921-1974), Secretaria de Estado da Cultura - Instituto Português do Património Cultural - Museu Nacional do Teatro,1987;
JACQUES, Mário & HEITOR, Silva, Os Actores Na Toponímia De Lisboa, Lisboa: Câmara Municipal de Lisboa - Imprensa Municipal, 2001.
CET base: www.fl.ul.pt/centro-estudos-teatro.htm