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Pergunta

Quais sao as zonas mais afectadas pelo buraco da camada do ozono?
Como é a situação em Portugal?

Resposta

Os pólos são as zonas mais afectadas pelo buraco na camada de ozono estratosférico (por estar na estratosfera, a camada da atmosfera que vai desde os 10 aos 50 km de altitude e que se situa acima daquela na qual vivemos). A razão para o facto está relacionada com as especiais condições meteorológicas nessas zonas do globo. Para se perceber um pouco como a meteorologia afecta a destruição da camada de ozono é preciso fazer uma rápida viagem sobre a química do ozono...

Há uma série de compostos, dos quais os mais conhecidos são os clorofluorcarbonetos (ou CFCs, devido à sua constituição com cloro, flúor e carbono) que são muito estáveis na troposfera. Estes compostos banalizaram-se muito porque quando foram descobertos por volta dos anos 30 constatou-se que não eram tóxicos, não reagiam com outros materiais, não eram inflamáveis nem corrosivos e eram baratos de produzir em laboratório. Por outro lado, eram excelentes isolantes para aparelhos de refrigeração (p.ex. frigoríficos ou ar condicionados). Tudo parecia aconselhar o uso dos CFCs, até que, nos anos 70, dois cientistas (Mario Molina e Sherwood Rowland) descobriram que na estratosfera, esta estabilidade se perdia e que devido ao forte efeito da intensa radiação solar ultravioleta nessa camada mais alta da atmosfera, as ligações se quebravam. O problema está em que ao libertar-se o átomo de Cloro tem capacidade de ir destruir as ligações entre os átomos de oxigénio presentes no ozono (O3), conduzindo à formação de monóxido de cloro (ClO) e oxigénio (O2). O monóxido é instável e por isso mesmo reage com o oxigénio atómico (O), dando lugar a mais uma molécula de oxigénio (O2) e deixando o cloro livre para voltar a reagir com outra molécula de ozono. Esta reacção catalítica (porque quebra a molécula de ozono) repete-se cerca de 100 000 vezes, o que quer dizer que cada átomo de cloro tem capacidade de destruir 100 000 moléculas de ozono, antes de ser destruído.

Nos pólos, especialmente o Pólo Sul (Antárctida) e durante o inverno quando os raios solares não atingem esta região do planeta, as temperaturas são baixíssimas, formando-se umas nuvens de constituição diferente das que costumamos observar. Isto vai criar uma conversão mais rápida e fácil dos CFCs em radicais de cloro destrutivos de ozono. Como as massas de ar circulam em camadas sobrepostas, dos Pólos para o Equador e no sentido inverso, estas têm a capacidade de transportar poluentes para milhares de quilómetros de distância de onde estes foram emitidos. Na Antárctica, a qual está sujeita no inverno às já citadas temperaturas baixíssimas, a circulação é interrompida, formando-se círculos de convecção exclusivos daquela área que levam as moléculas com cloro para a estratosfera. Estes poluentes trazidos pelas correntes no Verão permanecem na Antárctica até nova época de circulação... Ao chegar a Primavera, com os seus primeiros raios de sol, as reacções químicas que destroem o ozono são estimuladas. Forma-se, então, o buraco de ozono de dimensões imensas (cerca de 20 milhões de km2 que, por via da sua dimensão aparenta arrastar os níveis de ozono noutros continentes do planeta, como água a escoar-se num ralo... É, por esta razão, que o problema não se confina à Antártctida). Em Novembro, o ar que chega de outras regiões permite uma recomposição parcial do escudo de ozono; o buraco diminui de tamanho, mas não fecha completamente.

Para combater o efeito dos CFCs foi assinado, em 1987, o Protocolo de Montreal que tem como objectivo a redução em 50% do uso de CFCs (bem como de outras substâncias destruidoras do ozono estratosférico como o metilclorofórmio, o tetracloreto de carbono e substâncias halogenadas) até final de 1999. Todavia, as evidências científicas e a observação da dimensão do buraco de ozono levaram já a que na Conferência de Londres, 70 países assinassem o compromisso não em reduzir mas em banir a produção de CFCs no ano 2000.

Quanto à situação da camada de ozono em Portugal, a diminuição da espessura da camada também foi sentida (confirmando o efeito "água a escoar-se pelo ralo"). Há medições da espessura da camada de ozono desde 1951. Os dados recolhidos permitem concluir que a quantidade total de ozono, no período 1968-1997, apresenta uma tendência estatisticamente significativa de redução da espessura da camada de 3.3 % por década, o que é perfeitamente consistente com a redução que se tem observado noutras estações de Europa (p.ex. em Itália).