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Pergunta

Gostaria de saber que influência a Química exerce nos dias de hoje (perfumes, alimentos, medicamentos, detergentes, etc).

Resposta

A Química é absolutamente fundamental no que toca ao desenvolvimento des todos estes tópicos. O que não espanta, dado que todas as matérias primas envolvidas são, na realidade, produtos químicos, naturais ou não naturais.

No que respeita à perfumaria, a química participa na pesquisa e identificação de produtos naturais com interesse (fragrâncias). Depois de identificados, e de demonstrado o seu interesse, o passo seguinte é a sua síntese laboratorial e industrial. De facto, esses produtos naturais são, na maior parte dos casos, muito difíceis de obter das suas origens em quantidades comercialmente significativas. Resta portanto fazê-los, o que não é normalmente tarefa fácil. Grande parte do trabalho que valeu o Prémio Nobel da Química de 2001 a Ryori Noyori tem a ver com os métodos que desenvolveu em prol da síntese de produtos naturais em colaboração com grandes empresas japonesas desse ramo.
No caso da indústria alimentar, a química contribui fortemente para a sua conservação, protecção, e mesmo para a sua caracterização química, que permite, inclusivamente, detectar fraudes (ou fazê-las!).
Na indústria dos medicamentos temos um dos ramos por excelência da Química de síntese. Quando, há mais de 100 anos, se sintetisou a aspirina à semelhança do ácido salicílico que se extraía da casca dos salgueiros (salix) e tinha propriedades curativas, estava dado o mote para o desenvolvimento da Química farmacêutica. Já não haveria salgueiros no planeta se a síntese não tivesse sido feita. Ou então, não haveria aspirinas! Hoje em dia, para além da síntese de produtos naturais com propriedades curativas (que a própria Química extrai da Natureza), a Química Farmacêutica produz novos medicamentos que obtém através de testes bioquímicos/biológicos in vitro ou in vivo, seguindo uma técnica de tentativa/erro (experimentar tudo e seleccionar o que é promissor e melhorar a sua eficiência)) ou, através de informação que obtém do estudo da estrutura dos enzimas e moléculas biológicas. Conhecidas estas estruturas, pode-se estudar quais são as moléculas que poderão activar ou inibir determinada função biológica. Trata-se de um problema de fechadura/chave: conhecida a estrutura da fechadura (molécula biológica a inibir) pode conceber-se uma chave que só sirva nessa fechadura ( o medicamento). Sintetisando essas moléculas pode obter-se um novo medicamento altamente específico e eficaz com baixissimos níveis de efeitos secundários.
Nos detergentes é tudo química: o princípio é solubilizar as gorduras ou outras particulas de impurezas. Assim, trata-se de fazer moléculas que "enrolem" essas gorduras, mas que se mantenham solúveis em água (solvente de lavagem habitual). Os sucessivos avanços têm que ver com a natureza desses detergentes que têm vindo a ser seleccionados de modo a tornarem-se biodegradáveis ou biologicamente inócuos. Um amigo meu, alemão, foi trabalhar para a Henkel (Persil). Encontrei-o anos mais tarde e perguntei-lhe o que fazia. Ele respondeu-me: "Sulfono tudo o que vem à mão e ponho na prateleira à espera de utilização adequada". De facto, o grupo sulfonato, ligado a substâncias orgânicas, torna-as solúveis em água produzindo assim o efeito de detergente: uma parte da molécula agarra a gordura( a parte orgânica) a outra parte (o sulfonato iónico) liga-se à água, tornando o conjunto solúvel.