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Pergunta

Até que ponto a ciência pode ultrapassar os limites da ética?

Resposta

A meu ver, cada pessoa daria uma resposta diferente a esta pergunta. A minha perspectiva é a seguinte.
Parece-me que a ciência não ultrapassa os limites da ética. O que a ciência tem feito, relativamente à ética, é o seguinte:

1 - ou põe novos problemas éticos
2 - ou pode ajudar a resolvê-los

1- Por exemplo, a clonagem (humana). Até 1996 não fazia sentido pensar nesse
assunto, pois não havia possibilidade de fazer clonagem a partir de células
diferenciadas de um ser humano. A partir de 1996, a partir da clonagem da
famosa ovelha Dolly, o problema surgiu em força. A partir dos cromossomas
de uma célula normal do corpo da ovelha, foi feito uma nova ovelha com os
mesmos cromossomas, uma espécie de irmã gémea (verdadeira) que nasceu
alguns anos depois da Dolly... Se imaginarmos que podemos fazer o mesmo com as células humanas, podemos chegar ao limite de dizer: a partir de hoje nunca mais tomo banho, pois, cada vez que me esfrego com a esponja do banho, estou a matar potenciais irmãos gémeos meus!!! Outros podem argumentar: essas células não iriam ser clonadas para fazer outro ser
geneticamente igual a mim; por isso posso tomar banho à vontade! Mas então
podemos dizer que o problema se resume a um outro problema um pouco mais
antigo que é o seguinte. Quando se fazem fertilizações "in vitro", muitos
ovos (fecundados), potenciais embriões humanos, potenciais seres humanos,
não são usados (i.e., não são introduzidos no útero da futrura mãe) pois
nessas fertilizações são sempre feitos várias fertilizações para asssegurar
o seu sucesso. O que se tem feito até agora é congelar os embriões... não
se deitam fora porque são potenciais seres humanos. No entanto, o problema
é que, desde o momento em que a clonagem a partir de células já
diferenciadas foi descoberta (em 1996), qualquer célula do meu corpo são
potenciais seres humanos!

2- A ciência, ela própria, também ajuda à resolução de problemas. Sigamos
o mesmo exemplo da clonagem. Se definirmos que um embrião humano é um ser humano a partir do momento em que o sistema nervoso está formado, então já
posso matar as minhas células do corpo sem problemas éticos: apesar de,
potencialmente serem seres humanos, ainda não o são pois não ha' sistema
nervoso! Mas se dissermos que a partir do momento em que um óvulo e um
espermatozóide humanos se encontram uma Alma se forma e é atribuída a esse
embrião, conforme defende a Igreja Católica, já o problema se mantém pois
as questões espirituais (Alma, Deus, etc) estão, (quase por definição) fora
do âmbito das ciências positivas (Biologia, Química, Matemática e Física).

Sempre houve problemas éticos. A ciência, ao tentar resolver problemas e
compreender o Universo, descobre que, afinal, temos ainda mais problemas
éticos a resolver, ao mesmo tempo que resolve outros. Mas também não é só a
ciência que "inventa" novos problemas éticos. Um exemplo que me parece
muito interessante é o seguinte: durante muitos anos considerava-se ético
explorar os seres humanos de raça negra uma vez que eles não eram baptizados e portanto não eram seres humanos aos olhos de Deus! Por outro lado, diferentes interpretações da Bíblia ou do Corão também levantam problemas éticos.
Trata-se, como disse no início, de uma opinião pessoal (a minha). Outras pessoas dirão outras coisas.