Newsletter 6 - Editorial

Newsletter 6 – Editorial

Escrevo o editorial a meio de  agosto e ao contrário do que se previa está calor. Ao consultar o site da FCT constata-se que estão, neste momento, abertos oito concursos. Abrimos no ultimo mês os concursos “regulares” da FCT que incluem os projetos de investigação em todos os domínios científicos (ainda que apenas na modalidade de projetos exploratórios), o concurso de bolsas de doutoramento e pós-doutoramento e a nova edição do concurso Investigador FCT. Temos ainda abertos diversos concursos no âmbito de parcerias internacionais dirigidos a temas de investigação específicos. Para além destes abrimos ainda, no último mês, dois concursos extraordinários ambiciosos: a avaliação periódica das unidades de investigação e um novo concurso para a criação de um roteiro nacional de infraestruturas de investigação de interesse estratégico.

No ano de 2013 serão, no total,  abertos cerca de 12 concursos (não contabilizando os concursos transnacionais). Num momento em que o país vive conhecidas e reconhecidas dificuldades, dir-se-ia que são boas notícias para a ciência em Portugal. Que é bom que a FCT tenha conseguido manter os concursos regulares e ainda abrir novos concursos extraordinários. Não obstante pode também dizer-se – e não falta quem o diga – que o ano poderia ter sido melhor. Todos os comentários, opiniões e críticas são legítimos. Mas, como acontece frequentemente, há razões que justificam que as coisas não aconteçam da forma que gostaríamos ou que planeámos. Como também acontece frequentemente, essas razões pesam pouco quando se julgam  os resultados das medidas que se adoptam.

Como membro da comunidade científica acredito, sem dúvidas ou hesitações que a regularidade e previsibilidade dos instrumentos de financiamento à ciência são fundamentais num sistema científico que se quer moderno e robusto. Não causará surpresas de maior afirmar que o ano de 2013 não é o ano em que se cumpre este desejo, pois vivemos tempos de exceção, em Portugal e na Europa. Vivemos, em Portugal, sob um programa de assistência financeira, na Europa vive-se um período de transição entre programas-quadro. Na FCT  há, ainda, incertezas em relação ao financiamento para o ano de 2014. Acrescem ainda razões técnicas importantes como a circunstância do atual programa quadro de financiamento Europeu estar a terminar e estarmos obrigados a aprovar todos os concursos até ao final do ano se queremos (e sabemos que precisamos) usar os fundos ainda disponíveis neste 7º programa-quadro. É uma enumeração não exaustiva de algumas das circunstâncias que justificam a calendarização dos concursos e algumas das alterações que foram introduzidas este ano aos concursos atualmente abertos.

Optámos por manter todos os concursos regulares para não interromper aquilo que consideramos dever ter continuidade e regularidade: apoio a projetos de investigação, formação avançada de recursos humanos e estimulo à contratação de novos investigadores. Optámos por abrir novos concursos extraordinários porque é o momento de o fazer. É urgente proceder à avaliação das unidades de investigação e dos laboratórios associados (avaliadas pela última vez em 2007 e 2008, respetivamente) e criar as condições para uma reorganização mais orgânica das unidades de investigação existentes, incluindo oportunidades para que surjam novas unidades. As infraestruturas nacionais precisam de ser modernizadas no seu funcionamento e equipamento e repensadas na sua articulação com as infraestruturas europeias, pois estamos obrigados a criar, em Portugal,  um roteiro nacional de infraestruturas de interesse estratégico. Estas opções estratégicas por parte da FCT, no contexto atual, obrigam inevitavelmente a restrições nos financiamentos disponíveis para alguns destes concursos. A alternativa, discutivelmente pior, seria não abrir alguns destes concursos. Optámos por não o fazer.

Temos recebido críticas  e comentários de que muito do que mudámos foi para pior ou de que não mudámos o que devíamos mudar, ou até de que tendo mudado para melhor teria sido preferível nada mudar em nome do valor maior da estabilidade. A mudança– que é uma das mais fortes evidências da vida – raramente convive bem com a unanimidade. No final, não há nenhuma solução que seja boa em todos os momentos e em todos os locais e para todas as pessoas.

Recebemos também comentários que elogiaram as mudanças, os novos concursos e a determinação em não interromper nenhum concurso num ano de dificuldades. O mais importante e o mais gratificante é que quer as críticas quer os cumprimentos são, quase sempre, acompanhados de sugestões e propostas construtivas, muitas delas integrados nos regulamentos dos concursos.

Na FCT temos a sorte e o privilégio de trabalhar com e para uma das comunidades mais qualificadas e diferenciadas do país. Estou também convencido que nos dirigimos a uma comunidade que, mais do que qualquer outra, convive no dia a dia com a certeza e com a incerteza, com o conhecido e com o desconhecido. É uma comunidade que tem, pela natureza do que faz, a flexibilidade para se adaptar a situações novas e os recursos  para contribuir para soluções inteligentes. Qualidades e competências que são ainda mais valiosas em tempos de maiores dificuldades e incertezas como os que vivemos.

Voltando ao principio e ao mês de agosto, não ignoro que o atual calendário de concursos obrigará a um esforço acrescido por parte dos investigadores e das instituições. Estou igualmente ciente do enorme esforço que a abertura simultânea destes concursos impõe aos diferentes departamentos e estruturas da FCT.  Nenhum destes concursos estaria agora aberto sem o esforço empenhado, sem o talento e sem a dedicação dos diretores e técnicos dos departamentos que apoiam estes concursos. Estes, e todos os outros colaboradores, são a FCT.

Chegado ao fim deste editorial, constato, mais uma vez, que temos oito concursos abertos na FCT e estou convencido de que isto são boas notícias.

Paulo Pereira
Vogal do Conselho Diretivo