Editorial
O fim do ano é, tradicionalmente, uma época de reflexão, de balanço. A FCT e a sua nova equipa executiva consideram particularmente pertinente refletir no que conseguimos atingir em 2012 e naquilo que ainda é necessário concretizar nos anos futuros, em direção ao derradeiro objetivo de alcançar a excelência científica e a sustentabilidade estratégica em investigação e desenvolvimento em Portugal.
No momento em que esta newsletter é publicada, está prestes a ser conhecido o primeiro grupo de investigadores FCT: são mais de 80 investigadores independentes e altamente talentosos, selecionados através de um processo internacional de avaliação por pares, que serão a próxima geração de líderes científicos. Quando terminarem os primeiros cinco anos do Programa Investigador FCT, cerca de 1,000 investigadores portugueses e estrangeiros terão sido recrutados, para sustentar programas de investigação e inovação de instituições portuguesas.
O Programa Investigador FCT é um dos vários instrumentos concebidos pela FCT para preparar o sistema científico e de inovação nacional para o desafio do Horizonte 2020 (2014-2020). É essencial que a comunidade científica em Portugal conheça e, acima de tudo, esteja equipada para se candidatar com sucesso ao que se prevê seja o maior financiamento europeu de sempre em desenvolvimento e inovação. As histórias dos sete investigadores que obtiveram bolsas do European Research Council (ERC), contadas nesta edição da newsletter, ilustram o número crescente de casos de sucesso que, esperamos, inspirem outros.
Uma formação avançada que siga os mais elevados padrões de excelência internacionalmente reconhecidos e alicerçada na investigação é, indiscutivelmente, um elemento crucial para garantir um fluxo constante de investigadores e inovadores talentosos. Em 2012 foram atribuídas, no âmbito do concurso anual, 1,157 bolsas de doutoramento (menos 13% do que em 2011) e 664 bolsas de pós-doutoramento (mais 8.5% em comparação com 2011). Para além dos concursos regulares para bolsas de doutoramento, deverá ser lançado até ao final do ano um novo instrumento de financiamento para Programas de Doutoramento FCT. Os programas de doutoramento selecionados irão congregar e consolidar recursos de universidades, de centros de investigação e da indústria em torno da formação de cientistas, equipando-os para contribuir para o avanço do conhecimento em meio académico e/ou para o tecido empresarial de base científica.
Também enquanto se prepara esta newsletter, estão a decorrer as reuniões finais dos painéis de avaliação do concurso de 2012 para projetos de investigação, no âmbito do qual foram apresentadas 5,210 candidaturas, num total de financiamento solicitado de 723 milhões de Euros (incluindo o concurso para projetos enquadrado no Protocolo com a agência de financiamento francesa Agence Nationale de la Recherche - ANR). Pela primeira vez, o portfolio inclui quatro tipologias de projetos de investigação. Dependendo da experiência dos candidatos e da equipa de investigação, dos objetivos e duração dos projetos ou do financiamento solicitado, os investigadores puderam candidatar-se a Projetos de IC&DT, a Projetos de Investigação Exploratória, a Projetos em Linhas de Investigação de Excelência ou a Projetos de Consolidação de Competências e Recursos em Investigação. Também o processo de avaliação das propostas foi alterado, tendo sido ampliado e aperfeiçoado: mais de 6,000 especialistas independentes avaliaram as candidaturas, que foram depois apreciadas por 25 painéis de avaliação, compostos por 263 avaliadores internacionais.
Ano após ano, a sustentabilidade do financiamento à investigação científica tem sido uma questão fulcral em Portugal. A FCT está determinada a procurar soluções a longo prazo para este problema. Envolve, evidentemente, assegurar um orçamento nacional robusto para a investigação, mas também garantir que as verbas disponíveis são gastas de acordo com a calendarização prevista para a execução dos programas de financiamento de projetos e de instituições. A FCT tem feito um esforço concertado para acelerar os reembolsos aos beneficiários de financiamento, para que a investigação não sofra interrupções. Os números comprovam o sucesso deste esforço: entre Janeiro e Outubro de 2012 a FCT transferiu mais 41 milhões de Euros para centros de investigação (incluindo reembolsos referentes a projetos, bolsas, instituições e contratos) em comparação com o mesmo período de 2011. De facto, em 2012, a FCT deverá alcançar uma execução orçamental quase completa. Esperamos que este esforço da FCT seja correspondido pela comunidade científica, através da aplicação rigorosa e eficiente das verbas atribuídas, para que assim possamos trabalhar em plena sintonia, seguindo as mesmas regras.
Tal como referi num editorial anterior, estamos perante uma oportunidade única para adaptar o panorama de investigação e inovação nacional. A restruturação da rede de centros de investigação já existente, tornando-a mais competitiva e inovadora, é certamente uma área de intervenção vital. No próximo ano, os centros de investigação e laboratórios associados terão liberdade total para se reconfigurarem, ou não, da forma cientificamente mais competitiva. Numa abordagem bottom-up, serão os próprios centros a definir os objetivos científicos e estratégicos subjacentes ao seu financiamento. Estes, assim como o track-record da instituição e dos seus investigadores, serão depois sujeitos a uma avaliação internacional.
Apesar dos tempos difíceis que se vivem em Portugal e na Europa, a FCT conseguiu manter e até ampliar o seu portfolio de programas de financiamento em 2012. Este editorial alude a algumas medidas; outras encontram-se descritas nesta newsletter – as parcerias com as universidades americanas Carnegie Mellon e UT Austin foram renovadas, e está em curso um novo programa de transferência de tecnologia espacial financiado pela ESA. Juntamente com este alargado portfolio de programas de financiamento, a FCT está a empenhar-se em promover a proximidade com a comunidade científica e com o público em geral – o Centro Internet Segura, tema abordado nesta edição, traz-nos questões relacionadas com uma Internet mais segura. Um objetivo primordial é transformar a FCT num think-tank de Ciência de políticas científicas, com um forte envolvimento de todos os intervenientes.
Termino este editorial expressando admiração e agradecimento a todos os colaboradores da FCT, em nome da equipa executiva. Os programas e instrumentos implementados ao longe deste ano não seriam possíveis sem a notável dedicação e empenho de todos. Com muito trabalho para fazer, mal podemos esperar para daqui a um ano refletirmos nos nossos dois anos ao leme da FCT.
Miguel Seabra, Presidente