Do Espaço para a Terra. ESA apoia Portugal na transferência de tecnologia espacial
Desde que Portugal se tornou membro da Agência Espacial Europeia (ESA), em Novembro de 2000, mais de 1,000 projetos foram desenvolvidos por cerca de 60 empresas e 20 universidades portuguesas, num total de contratos que ultrapassam os 90 milhões de euros. Um novo instrumento, vocacionado para facilitar a transferência de tecnologia espacial para setores não espaciais, foi agora lançado pela ESA, em colaboração com a Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) através do Gabinete do Espaço.
A implementação da Iniciativa Nacional de Transferência de Tecnologia Espacial (PTTI) fica a cargo do Instituto Pedro Nunes (IPN), incubadora de empresas líder em transferência de tecnologia no setor de inovação português. Com duração prevista de 18 meses e financiamento global da ESA de cerca de 200 mil Euros, destina-se a apoiar essencialmente empresas, mas também universidades e os seus centros de investigação.
O PTTI insere-se na linha de apoio da ESA à criação de iniciativas de estímulo à Transferência de Tecnologia (TT) nos países membros e traduz a necessidade de promover a inovação tecnológica e de reforçar a competitividade da indústria portuguesa. A dimensão internacional da iniciativa é sublinhada por Frank Salzgeber, Coordenador do Programa de Transferência de Tecnologia da ESA, ao afirmar que “As entidades concorrentes ao PTTI serão portuguesas, mas as ideias e as tecnologias terão um alcance global".
Desenhado para a obtenção de resultados em seis meses, o concurso atualmente aberto no âmbito do PTTI apoia duas tipologias de projetos, Provas de Conceito e Demonstradores. Como explica Carlos Cerqueira, Coordenador do Programa, o primeiro requer “que se demonstre como uma tecnologia do setor espacial se pode aplicar a qualquer outro setor (…), mostrando sólidos conhecimentos tanto da tecnologia espacial como do setor recetor”, o segundo, “que se prove que a transferência é possível e viável tecnologicamente”, através do desenvolvimento dum protótipo.
As propostas serão selecionadas em três momentos de avaliação diferentes, o primeiro dos quais já no mês de dezembro. Um Painel de Avaliação composto por representantes da indústria e academia em setores espaciais e não espaciais apreciará, entre outros, o grau de inovação, os potenciais benefícios para os mercados não espaciais, bem como a capacidade das entidades e das equipas envolvidas nos projetos.
Ao referir-se ao impacto esperado do PTTI, Carlos Cerqueira antevê que “os outputs destas transferências tenham ou venham a ter viabilidade comercial”, contribuindo para o aumento do atual fator multiplicador do investimento português nos programas da ESA de dois para cinco, isto é, passando a ser gerados cinco milhões de euros por cada um milhão investido. Frank Salzgeber considera que Portugal tem capacidade para atingir este objetivo, colocando-se entre a Noruega e os EUA.
A transferência para mercados não espaciais das tecnologias inovadoras e altamente sofisticadas concebidas para o Espaço, com características de peso, durabilidade e resistência compatíveis com aquele ambiente, constitui uma oportunidade para a indústria e para o avanço da investigação científica em vários domínios.
Um exemplo de sucesso em Portugal, já patenteado em vários países, é o vestuário inteligente Gathergy, um casaco de 2,8Kg que integra um sistema de controlo térmico autónomo, com capacidade para aquecer 30 graus em relação à temperatura ambiente ou arrefecer 20 graus.
Importar a tecnologia do Espaço para a Terra é um processo exigente, com várias etapas, desde o desenvolvimento do conceito até à sua efetiva comercialização. O PTTI apoia a primeira, abrindo caminho às seguintes.