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Divulgação de Ciência e Tecnologia

23 Dezembro 2011

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Trabalhar para que a Ciência em Portugal seja cada vez melhor – Nuno Crato

“Estamos a trabalhar para que a Ciência em Portugal seja cada vez melhor, para que haja cada vez mais cientistas e mais jovens interessados na Ciência”, declarou Nuno Crato na cerimónia de inauguração do Arquivo de Ciência e Tecnologia da FCT, decorrida no passado dia 16 de Dezembro no seu edifício sede.

O ministro da Educação e Ciência falava para uma audiência de mais de 60 pessoas, constituída por diversas personalidades da esfera política e científica, como a Secretária de Estado da Ciência, Leonor Parreira, o antigo presidente da República Mário Soares, o antigo ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, José Mariano Gago, o historiador José Mattoso e o investigador Alexandre Quintanilha.

Foi perante esta “grande concentração científica” que o governante realçou o contributo da Ciência para o desenvolvimento do país, concretamente no que se refere à superação da actual conjuntura de dificuldades. “É a Ciência que tem esse papel”, frisou. Pelo “espírito de abertura” que ela representa, pela “crítica sistemática” que lhe é inerente, pela continuidade que pressupõe.

A aposta no futuro da Ciência é fundamental para que Portugal seja “ um grande país e não apenas o país das glórias passadas”, defendeu. E precisamente porque a Ciência é continuidade, Nuno Crato apontou a necessidade de incentivar estudos na área da historiografia da Ciência, a partir de agora facilitados pelo acesso a uma estrutura arquivística organizada.

[Foto] Discurso Prof. João Sentieiro

No mesmo sentido pronunciou-se o presidente da Fundação para a Ciência e a Tecnologia, João Sentieiro. Nas suas palavras, o Arquivo de C & T passa a ser “um recurso imprescindível a qualquer estudo ou investigação sobre a história do desenvolvimento científico em Portugal e também sobre a sua estreita ligação ao desenvolvimento internacional da Ciência”.

[Foto] Cerimónia de inauguração

“Muito da vida das nossas instituições científicas, das nossas vidas de cientistas e das impressões digitais que fomos semeando estão no Arquivo da FCT”. E será “estudando essas impressões que compreenderemos os caminhos percorridos e poderemos abrir novos percursos”, afirmou.

O presidente da FCT abriu a sessão que se prolongou pelo final do dia, culminando numa visita conjunta à remodelada cave do edifício, onde está instalado o Arquivo. Na ala de entrada, a exposição fotográfica evocativa dos antigos dirigentes da instituição e da sua antecessora, a JNICT, registou a particularidade de ser inaugurada por quatro dos retratados: Fernando Dias Agudo, Mariano Gago, Mário Barbosa e Luís Magalhães.

Anteriormente, na ampla sala de reuniões que acabaria por se revelar exígua face à “grande concentração” que acolheu, os primeiros visitantes do Arquivo sorriram quando Mário Soares narrou a história dos seus “papéis”, invariavelmente mantidos a salvo durante as perseguições de que foi alvo durante o antigo regime, graças a um bem arquitectado esconderijo de madeira concebido por um amigo carpinteiro.

[Foto] Dr. Mário Soares a assinar protocolo

O antigo chefe de Estado enalteceu a iniciativa de criação de um Arquivo de Ciência e Tecnologia e expressou o seu “orgulho” no protocolo assinado com a Fundação a que preside para tratamento e digitalização dos documentos nele incorporados.

Em matéria de Ciência, Portugal registou um desenvolvimento nos últimos 30/40 anos como nunca no passado tinha acontecido, realçou Mário Soares, sustentando que o Arquivo a partir de agora disponível constitui “um ponto de partida fundamental para se poder fazer a História” desse período tão rico e prestigiante para os portugueses.

[Foto] O Sr. Ministro Prof. Nuno Catro, Prof. Mariano Gago e o ex-chefe de Estado Dr. Mário Soares, na galeria dedicado aos ex-Presidentes

Na sessão foi também formalizado um protocolo com Mariano Gago, relativo à doação do seu acervo pessoal ao Arquivo C & T. Na intervenção que fez, o antigo governante evocou os cientistas que durante o Estado Novo se viram forçados a sair do país, apelando às respectivas famílias para se mobilizarem no sentido da entrega dos seus espólios a esta nova estrutura da FCT.

O acervo doado por Mariano Gago integra, numa primeira fase, documentação alusiva às I Jornadas Nacionais de Investigação Científica e Tecnológica, organizadas pela JNICT em 1987 e que estão documentadas numa exposição fotográfica patente também na ala de entrada do Arquivo, e ainda material referente ao Programa Mobilizador de Ciência e Tecnologia, então lançado.

Segundo João Sentieiro, a entrega do acervo pessoal de Mariano Gago, “cientista com intervenção longa de muitas décadas na política científica”, será em breve seguida de outras doações “que já se anunciam”.

Mas, e porque um Arquivo se afirma “na sua plenitude quando estimula a inteligência e as suas funcionalidades”, foi esta ocasião também escolhida para assinatura do despacho de criação de duas novas Bolsas de Investigação a atribuir pela FCT já em 2012 (uma de Mestrado e outra de Doutoramento), vocacionadas para incentivar a investigação histórica sobre o desenvolvimento cientifico nacional.

Em homenagem ao “investigador, intelectual e humanista de grande estatura, para com quem o país, e em particular a FCT, têm uma elevada dívida de gratidão”, estas Bolsas denominam-se José Mattoso.

[Foto] Intervenção do Prof. José Mattoso

Ao intervir, o historiador evidenciou a importância da moderna Arquivística, ciência que enfim se autonomizou da interpretação histórica. E apontou duas consequências desta mudança de perspectiva: o arquivista deixou de ser visto como “uma espécie de maníaco que guardava papéis velhos” e, por outro lado, os directores de Arquivos já não são historiadores mas, apropriadamente, técnicos de Arquivo.

Aludindo a um certo “complexo de inferioridade histórica” que no seu tempo de jovem aluno se aprendia nas escolas, José Mattoso saudou a criação do Arquivo de Ciência e Tecnologia da FCT, iniciativa que decerto contribuirá para gerar uma memória mais construtiva junto das novas gerações e para colocar Portugal “no conjunto dos países mais desenvolvidos da comunidade internacional”.

Porque, na opinião do historiador, “o estado dos Arquivos públicos é um dos indícios mais claros do desenvolvimento científico de um país”.