Portugueses a ensinar e estudar em Carnegie Mellon: três testemunhos
Paulo Marques
Doutorado em Engenharia Informática, em Sistemas Distribuídos, pela Universidade de Coimbra; Coordenador do Professional Master in Software Engineering (2007-2010) entre a Universidade de Coimbra e a Carnegie Mellon University; Chief Technical Officer (CTO) da FeedZai
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“A minha participação no programa Carnegie Mellon Portugal começou em 2006, quando me convidaram para fazer parte do grupo de professores que iria definir o currículo do programa de formação avançada em Engenharia Informática entre a Universidade de Coimbra e a Carnegie Mellon University.
Este programa da CMU é bastante conhecido a nível mundial e a ideia de o trazer para Portugal era extremamente aliciante. Em 2007 passei um semestre como Visiting Professor no campus de Carnegie Mellon, como forma de preparar o arranque do programa em Portugal.
Não só fiquei muito bem impressionado com a qualidade do currículo do curso, dos estudantes, dos meus colegas, assim como com a diversidade de palestras promovidas e a qualidade da investigação.
Enquanto lá estive acompanhei vários processos, desde a fase de angariação dos estudantes, lecionação de cadeiras e sua avaliação, até toda a componente de investigação. Quando regressei a Portugal, como parte do processo de arranque do programa dual em Engenharia de software, foi iniciado o contacto com um número bastante elevado de empresas, cujo feedback foi extremamente positivo.
Uma grande parte destas acabou por se tornar nossas afiliadas industriais enviando alguns dos seus quadros mais qualificados para realizarem formação avançada em engenharia de software. Foi ainda nessa altura que se preparou o corpo docente e toda a logística necessária para, entre os professores da Universidade de Coimbra e da Carnegie Mellon ser lecionado conjuntamente o Mestrado em Software Engineering (MSE).
O resultado foi o aparecimento do Programa de Formação Avançada em Engenharia Informática de grau dual que foi lecionado nas duas Universidades durante quatro anos e que proporcionou aos estudantes 12 meses em Coimbra e mais quatro meses de imersão na Carnegie Mellon. A recetividade de empresas como a Novabase, a Portugal Telecom e a Critical Software foi muito grande e o mestrado mostrou ser um sucesso.
Depois do meu envolvimento na definição do mestrado e de ter integrado várias atividades de investigação em conjunto com os meus colegas na Carnegie Mellon, senti também que necessitava de uma ligação mais próxima à indústria. Na altura, Pedro Bizarro tinha terminado o doutoramento nos Estados Unidos e estava a regressar à Universidade de Coimbra.
A FeedZai, uma empresa de software especializada em processamento de dados em tempo real, surge como o resultado de investigação feita pelo nosso grupo na Universidade de Coimbra, assim como a nossa colaboração e amizade com Nuno Sebastião, na altura Technical Officer na Agência Espacial Europeia.
Confesso que o programa Carnegie Mellon Portugal teve um impacto profundo na criação da empresa, dado que eu e o Pedro Bizarro, fundadores da FeedZai, estivemos envolvidos no mestrado e fomos professores na Carnegie Mellon. Uma experiência que nos deu a ambição e a certeza de que poderíamos desenvolver um produto com impacto global, capaz de superar o estado da arte existente.
A verdade é que a Feedzai está a duplicar os seus quadros todos os anos e já ganhou o Prémio BES Inovação 2009, foi considerada uma das "Top-20 Smart Companies in Europe", e foi distinguida como "Cool Vendor" pela Gartner.
Estou consciente de que a exposição que tive à Carnegie Mellon foi instrumental para ter este tipo de ambição e convicção. Por outro lado, tenho muito orgulho em dizer que a FeedZai já recrutou vários profissionais que passaram pelo programa avançado. São evidentes as mais-valias que estes profissionais têm, em particular ao nível de metodologia de trabalho, maturidade e relacionamento profissional.
Ricardo Silveira Cabral
Estudante de Doutoramento de grau dual em Engenharia Electrotécnica e de Computadores pelo Instituto Superior Técnico da Universidade Técnica de Lisboa e pela Carnegie Mellon University
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“A minha experiência como estudante de doutoramento de grau dual no programa Carnegie Mellon Portugal tem sido muito desafiante e enriquecedora. Quando terminei o mestrado, em 2009, sabia que queria ingressar numa carreira de investigação e academia.
Candidatei-me e fui aceite em várias instituições na Europa e nos Estados Unidos, mas optei por este programa de grau dual que me está a permitir ter uma exposição aos sistemas académicos Europeu e Americano em simultâneo, em duas instituições de excelência reconhecidas internacionalmente, que me vão dar acesso direto a dois mercados de trabalho distintos.
Outra das razões que me levou a escolher este programa foi a perspetiva inovadora de pretender catalisar os esforços de colaboração e internacionalização das universidades e indústria portuguesas, algo que me parece basilar para assegurar que o nosso país não só seja competitivo na nova era global, mas que seja um dos líderes na inovação tecnológica. Confesso que a decisão não foi fácil, mas tem vindo a ser confirmada constantemente.
Considero o facto de poder atacar problemas reais e de ter impacto em milhares de pessoas como uma das principais vantagens do programa CMU Portugal; esta oportunidade só surgiu dada a reputação deste programa e das instituições que nele participam em ambos os lados do oceano.
Embora ainda na sua infância, o programa Carnegie Mellon Portugal pôs peritos internacionais a olhar para problemas específicos à economia portuguesa e tem colecionado vários sucessos, como por exemplo a criação de 7 startups em apenas seis anos de existência. É, portanto, algo de que me orgulho muito fazer parte”.
Rita Gonçalves Ferreira
Alumni de Doutoramento de grau dual em Matemática Aplicada pela Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa e pela Carnegie Mellon University
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“O meu primeiro contato com o Programa Carnegie Mellon Portugal surgiu por intermédio da Professora Luísa Mascarenhas, da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa e minha orientadora na altura. Ela sabia da minha grande vontade em fazer um Doutoramento misto, e após discutirmos o assunto decidi que queria ter como co-orientadora a Professora Irene Fonseca, da Carnegie Mellon University.
Dado que a área onde me pretendia especializar, Cálculo das Variações, se inseria no programa de Doutoramento de grau dual em Matemática Aplicada, tudo se conjugou para que eu me candidatasse. Eu acreditava que ao estudar no estrangeiro, em particular numa Universidade internacionalmente reconhecida como é o caso da CMU, seria confrontada com diferentes métodos e perspetivas, e que isso me proporcionaria atingir uma maturidade científica e pessoal, que de outro modo seria difícil de alcançar. Claramente, foi o que aconteceu!
Este programa de Doutoramento proporcionou-me um vasto leque de oportunidades no âmbito da investigação e academia: fui exposta a vários grupos de investigação, interagi com pessoas de diferentes culturas e formações, e tive a possibilidade de apresentar o meu trabalho de investigação em alguns encontros científicos internacionais.
A minha ambição é seguir a carreira académica. Terminei o Doutoramento no ano letivo de 2010/2011, e desde aí tenho lecionado na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa na posição de Professora Auxiliar Convidada”.